sexta-feira, 28 de agosto de 2009

(CRONICA) ESCREVER!!!

(CRÔNICA) ESCREVER!!!
Prof. Joceny Possas Cascaes

Escrever a quem? E, falar sobre o quê? Eis uma questão ou uma solução. Ensejo registrar, meramente, a escrita da pergunta ou da resposta. Contudo, diante de parvas palavras, o que fazer? Minha chaga-paixão (por tudo) me impede de registrar o que penso. Então, resta-me buscar algumas notívagas palavras. É dia claro. Encontro-me no escuro de minhas próprias letras: embaralhadas, ultrapassadas, fúteis (no sentido de levianas), frívolas e...
Escrever é um dom. Mas, se tudo se aprende, quem sabe, esqueci-me dessa aptidão. Enterrei os meus argumentos. Pior! Esqueci o lugar. Debalde, busco encontrar a arte. Porque a escrita é uma expressão-correspondência. Necessita de certa habilidade para conduzir as palavras, para ordená-las no papel. Sopa de letrinhas!!! É quase impossível organizar as letras para poder digeri-las e para mostrá-las a alguém. Então, permanece a indigestão. Congestão casual do uso das letras-palavras.
Esvai-se minha oportunidade. Meu momento passa. Surgem outros, mas continuo sem êxito. Ando perdido dentro de mim e lá no fundo do coração e/ou d’alma desaparecidas estão as afirmações e as declarações que penso em anotar. Busco registrar para o eterno, o lugar que desconheço. As nuances da escrita me confundem. Nirvana! Completa quietude. Ablução... necessito de um banho de purificação. Há de surgir um ritual, uma liturgia da palavra escrita. Quero me banhar.
Admiro-te e respeito-te letra. Minha atual essência se encontra na entrelinha que nesse instante está apagada. Por isso, como prosseguir!? Como e o que escrever? A palavra é um símbolo. Um signo que serve para designar coisas do mundo físico e psíquico. Amputado está o meu espírito-criador. Lembro-me pouco do espaço físico e de minha psique. Minha mente – deveras - mente. Verdades são para amadores. Elas existem apenas no imaginário de quem pensa que a mentira está fora dessa tessitura.
Reflita-se: na durabilidade da verdade se deita, preguiçosa, a mentira. O que hoje acreditamos, amanhã poderá nos derrubar, alquebrar-nos. Escrever é sempre perigoso. Aquilo que é dito permanece no papel. Dizer falando é mais fácil. O que é expresso oralmente entra, mas logo parte. Se não foi gravado se torna difícil reprisar. Interpretações são inúmeras. Ninguém vê a mesma casa do mesmo jeito; o mesmo carro da mesma forma... Escritas sofrem ações pessoais. Vários serão os comentários.
Antanho! Outrora sempre foi assim. Interpretações deixam de ser atuais, fazem parte da ordem pessoal. Eu, tu, ele, nós vós e eles. Pessoalíssimo. Podem explicar (coisa qualquer), mas o meu jeito-interpretação se fará presente. Minhas emoções, minhas razões, minha educação, minhas histórias da vida é que contarão... Estas é que lerão o texto. Leituras desbotadas e inférteis podem ser coloridas e fecundas a outros. Todo texto é um pretexto.
Contudo, desculpas são cabíveis e aceitáveis. Querem ressuscitar o verdadeiro. Faltam-me motivos para impedi-lo de escavar, de permitir que saia de seu sono eterno e de vir à baila. Taciturno, prossigo. Não sigo lendas e tento me abster dos mitos. Mas, e as palavras!? Creio que continuam distas. Como evitar os mitos se, de certa forma, existem? Se nos são repassados, através de gerações, como sendo princípios certos? Alerta! A palavra poderá explicar, mas somente àqueles que acreditam no poder do pessoal-conhecimento.
É impossível digerir com prazer o desconhecido. Palavras acres são entediantes. O aprender a ler faz parte da obra. Obra da escrita que se tornará leitura. Ato transecular que exige transcendência. Mas, como ler o incompreensível? Nos contornos da própria linha-limítrofe. Aquela que estará sempre no limite do compreensível e enigmático. Compreensível para quem sabe que é impossível tornar suas (na íntegra) as palavras de alguém e enigmático aos que pensam que saber ler é entender o superficial daquele que escreve. Entrementes, encontrei algumas palavras!!! Onde? No interior de meu próprio esquecimento...

(CRONICA) A PONTE...

(CRÔNICA) A PONTE...
Prof. Joceny Possas Cascaes.

Próximos às margens opostas de um largo e revolto rio, vivem dois povos indígenas. Caçam, pescam em locais onde o rio é calmo, e coletam – cada qual em sua margem. Ambos os povos, que vivem naquela região há décadas, mantêm modesta aproximação. Por ocasião da ‘festa da paz’, que é realizada em datas diferentes por cada um dos povos, alguns membros das tribos se encontram para realizar uma grande comemoração. Para os indígenas da margem esquerda tal confraternização acontece no mês de janeiro e para os da margem direita em julho. Então, os representantes dos referidos povos, encontram-se, no entardecer sem se preocuparem com a hora final do ritual, duas vezes ao ano.
Acontece que a travessia do rio é sempre extenuante. Primeiro: os indígenas precisam caminhar alguns quilômetros para chegar ao local onde é mais conveniente atravessar o grande rio; segundo: o rio, além de possuir vasta largura, tem em seu leito enormes pedras e uma forte corredeira. Então, por possuírem frágeis canoas, aproveitam a ocasião para aperfeiçoar a coragem de seus índios mais velhos e para testar a dos mais jovens. Não importa serem mulheres ou homens, basta, durante o ano que precede a travessia para o evento-festivo, ter aprendido e/ou aperfeiçoado as técnicas da coragem.
Os novatos que se acham em condições e que desejam acompanhar os demais membros da tribo recebem autorização do “grande-chefe” e do pajé para fazerem parte da aventura-visita. A transposição do rio é sempre perigosa, pois, além do risco da própria travessia, as chuvas se tornam sempre uma incógnita. Atravessar as águas agitadas e passar para o lado da tribo que aguarda para a ‘festa da paz’ acontece enquanto ainda é dia. Isso abranda, um pouco, a chegada ao outro lado do rio. Contudo, o retorno se torna mais temeroso. A cerimônia da paz sempre adentra a madrugada, então, os índios voltam hiper-cansados. Nesse estágio, os acidentes são quase inevitáveis.
Algumas ocasiões são marcadas com acidentes fatais. Quando isso acontece, os índios voltam para a tribo pensando que estão sendo castigados por seus deuses, por desafiarem, àquelas horas da noite, a mãe natureza. Pensam, há alguns anos, em fazer algo para que esses sinistros deixem de acontecer. Há um desejo entre os povos das margens opostas do rio de manterem os seus encontros destinados à paz. Entendem que isso também os enriquece culturalmente (trocas de idéias) e que são momentos, espelhados na visão da tribo co-irmã, de reforçarem seus próprios pensamentos sobre a paz.
As idéias fervilham na cabeça dos índios das tribos opostas. O que fazer? Resolveram, então, marcar uma grande reunião entre os líderes das tribos. E, visitando o local que chamam de “garganta da cachoeira” resolveram construir uma ponte. Aquele era o local ideal para realizarem a obra que mudaria o destino das duas tribos. Com cordas grossas feitas de cipó e enormes tábuas, começaram a construção da pretendida ponte. Penosamente, meses se passaram até que a ponte com quarenta metros de altura e com duzentos metros de comprimento se tornasse uma realidade. A obra se tornou uma maravilha artesanal. Ao invés de deixarem de se encontrar, os indígenas se uniram numa grande tarefa e construíram um elo, que se tornou abençoado, de ligação entre eles.
Porquanto, pontes são encontros de caminhos; são junções das intersecções. As pontes permitem que o novo conheça e aprenda com o velho e vice-versa. Além, as pontes trazem e levam o progresso e permitem que o conhecimento seja mais fértil. Com pontes, as trocas, em seus diversos níveis, passam a ser co-idealizadas. Muros isolam (o rio caudaloso afastava os dois povos); pontes aproximam. Na vida, cada ser-gente é uma ponte em potencial. Isoladamente, alguns pontos da estrutura, que pretende ser humana, se encontram deteriorados pelo tempo; outros se apresentam um pouco mais rijos. Porém, nenhuma ponte-pessoa está – totalmente - bem acabada. É, de certa forma, natural que umas se encontram mais fortes (pontes mais humanas) do que outras.
Por isso, talvez seja conveniente que, nessa breve vivência terrena, cada pessoa tenha a obrigação de ser um esteio na ponte d’outro. Assim, as manutenções das pontes-próprias estarão, quem sabe, melhor garantidas. Como as duas tribos que, a partir de agora, poderão diariamente, se assim desejarem (não mais, apenas, anualmente), reforçar as suas trocas de experiências. Pois, pontes são desejos, que podem se tornar concretudes, de múltiplas realizações...

(CRONICA) A NOTICIA...

(CRÔNICA) A NOTÍCIA...
Prof. Joceny Possas Cascaes.

Nota Internacional! Deu no rádio; passou na TV; escreveram nas revistas e nos jornais; “re-passaram” de boca em boca e chegou a Roma. Roma? Existiam intenções de fazer a notícia chegar lá? Talvez! Mas, como o ditado diz: “quem tem boca vai a Roma”. Traduzindo (visão pessoal): pedindo informações, mesmo desconhecendo o caminho, chega-se a qualquer lugar. Fato conhecido! No entanto, a notícia se espalhou, levou a informação desejada. Será? O objetivo dos meios de comunicação de massa – a mídia – foi alcançado. A informação chegou aos quatro cantos do Mundo. Se o mundo tem cantos – tantos foram os meios que fizeram a notícia chegar até lá.
Nesse caso, fale sobre o tal fato. Notícia resumida, propalada de diversas maneiras, por um famoso jornalista: - “A Casa Branca está caindo!”. Isto estourou como uma bomba atômica. Efeito maior!!! A bomba Atômica atinge vários quilômetros de distância – o estouro de reportagem circundou o Mundo. Porém, houve uma situação interessante neste informativo. Por questões legais, o citado jornalista teve o cuidado de repassar apenas o que ele sabia ter acontecido. Cuidou!!! No entanto, o ocorrido se transformou... Vejam como a notícia foi divulgada em alguns jornais – valendo-se da garantida fonte:
- Jornal Brasileiro: Bush pode ter virado... bucha.
- Jornal Alemão: Bush imita Fidel - tropeça e cai;
- Jornal Francês: A Casa Branca está caindo – por isso, passa por reformas. Pensam em trocar a sua cor – o branco faz aparecer facilmente a sujeira;
- Jornal Inglês: Nova York sofreu um atentado que afetou as bases da Casa Branca – está cambaleante sobre a lama soberba. O presidente do país quer deixar sua impressão antes que a lama endureça.
- Jornal de um país africano: Plebiscito nos EUA tira ‘Bush’ e convoca ‘Bin’ a assumir o país. Porém, o povo apreensivo, comenta que nada irá mudar.
- Jornal Iraquiano: Reportagem de capa: (só risos... Fotos de pessoas rindo).
- Jornal Japonês: Golpe de Mestre – engenheiros que projetaram a Casa Branca assinaram um termo, na época da construção, que informa o seguinte: esta obra – conhecida mundialmente – suportará muito peso, mas não comportará o peso da insensatez e da hegemonia desumana.
- Jornal Estadunidense – As estruturas da casa Branca contêm algumas fissuras. Mas, segundo os peritos, não corre o risco de desabar. Há um racha no governo Bush que pode estar com a ‘Condolesa Rice’.
A notícia - em si – causou euforia no meio jornalístico mundial. Porém, a mídia, ‘top’ de linha de cada país, valendo-se da ética profissional (em casos como estes, a necessidade obriga), aguardou o final da reportagem divulgada pelo reconhecido jornalista. Então, as fontes de informações acima são falsas? De um determinado ponto de vista, sim; de outro, não. Os diversos meios de comunicações, que se aproveitaram da meia informação prestada, fazem parte do rol da imprensa jocosa. Usaram de um acontecimento e o venderam ao público de maneira engraçada. Como assim? A informação carecia de fé, no sentido de confiança, por isso, despiram a seriedade do Bush.
No entanto, houve dois jornais que prestaram informações verídicas. A primeira se refere ao jornal iraquiano - riram de algo que eles anseiam acontecer; a segunda, diz respeito ao jornal japonês, que deixa claro o cunho sério-humorístico em sua declaração. Pausa para meditação... Notícia final: aclamado jornalista morreu - mataram o portador da informação que poderia mudar os rumos do Planeta. Quem sabe, enviaram-no ao rabo de um cometa! A Casa Branca está caindo. A China está surgindo – a Europa está se unindo... Psiu! Manifestação jornalística ruidosa universal: a Casa Branca ainda não ruiu... Suspiros finais! Mas, a justiça não tardará. O turbulento astro hegemônico há de implodir. Ufa! Futuro garantido. Que se desarmem aqueles que pensam ser os mocinhos...

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

(CRÔNICA) POESIA!

(CRÔNICA) POESIA!
Prof. Joceny Possas Cascaes.

“Se procurar bem você acaba encontrando
não a explicação (duvidosa) da vida.
Mas a poesia (inexplicável) da vida”.
- Carlos Drummond de Andrade –

Encontro e me encontro na poesia. Na poesia apaixonante que me rodeia e que me entorpece. Afinal, o que é isso – poesia? Os dicionários a definem como ‘encanto, graça, aquilo que desperta o sentimento do belo, o que há de elevado ou comovente nas pessoas ou nas coisas’. Engraçado! É como gostaríamos que fosse o nosso dia-a-dia. É a representação sustentável do belo. O imaculado desejo que norteia os momentos. A paz, o brio, o puro amor! A essência dos sentimentos. Aquilo que, sem querer, buscamos: a bela paisagem, o sol, o mar, o digno trabalho, o descansar, as leituras que nos dão prazer, o brilho do luar, a música, a arte, a amizade, o encanto do dia e a alegria. Ah – a família! Existe coisa comparável? O ‘eu’, o tu e o nós em dias de bonança. Quem dera! O paraíso...
Contudo, vamos trocar algumas idéias, caro leitor. Detesto imposições! Elas nos deixam falando sozinhos. Prefiro as permutas que nos fazem refletir sobre a forma que agimos, falamos ou escrevemos. Mas, quanta, quanto à poesia... Sensatez! A ‘não-poesia’ circunda o nosso meio. Inunda as nossas ações e visões. Faz-nos ficar de mal com o fator que nos dá vida. Ela é abundante, considero-a redundante. Mas, vamos ao que interessa, à poesia. Respeitando as particularidades e os gostos pessoais. Por que gostamos de assistir a bons filmes; de ler os livros que nos agradam; de fazer amizades com pessoas que são afins às nossas conversas e atitudes; de escutar as músicas preferidas; de contemplar o mar, as montanhas e de sentir a beleza da neve ao cair?
Por que as vitórias nos agradam tanto; os afagos; as boas lembranças; os dias em que o corpo encontra-se em festa; a serenidade; a capacidade de amar e de respeitar? Por quê? Eis uma razão a ser respondida. Respondamos como, de que maneira? Se a poesia é... uma interpretação, uma visão de mundo, um conhecimento, um palpitar. Talvez, um sonho. Mas, sejamos convenientes, todos os projetos são despertados pelos sonhos. São nas visões dos sonhos que damos sustentabilidade às nossas ações. Sonho bom este: poesia! Enfim, a paz, o cuidado com o Planeta, a solidariedade constante, a alteridade (preocupação com o outro), a roda de amigos, o bom vinho e a boa comida, a valorização do ser (que independa do ter).
Impossível? Sejamos realistas, é evidente que buscamos os momentos de prazeres, aqueles que nos oferecem contentamentos. Sabemos que é meramente impossível vivermos cotidianamente mergulhados num mundo de acontecimentos maravilhosos. Isso é ponto pacífico! Embora a visão do oceano pacífico seja poética. O que estamos querendo dizer vai além daquilo que é possível escrever... Eu, você, nós – cada um do seu jeito – somos poetas, porque costumamos buscar a essência daquilo que nos faz bem. Contudo, a poesia exige respeitabilidade, consenso, hombridade, civilidade. Por isso, a perseverança de querer ser um autêntico poeta. Ainda falta-nos...
Nesse dia haveremos de reconhecer que a poesia é a representação fiel do que desejamos ao Planeta e a cada um de nós. Confúcio, filósofo Chinês (551a.C – 479a.C),
brinda-nos com a seguinte frase: “Deixa o caráter ser formado pela poesia, fixado pelas leis do bom comportamento e aperfeiçoado pela música”. Eu diria, pela boa música. No entanto, nestes tempos de desastres, de intempéries (causadora de catástrofes), de solidão, de indiferenças, penso que esteja na hora de acordarmos a veia poética que se encontra adormecida dentro de nós. Assim, quem sabe, cada um, na sua particularidade, estará despertando o sentimento do belo e contribuindo de alguma forma para que a poesia, ‘inexplicável da vida’, seja levada aos ‘quatro’ cantos do mundo, no intuito de contribuir, de alguma forma, com a ‘re-construção de um mundo melhor. Repleto de cuidado e de respeito a si, ao outro e inclusive ao Planeta...

(CRÔNICA) VÍCIOS DE LINGUAGEM: tentativas de emagrecimento com cacófatos...

(CRÔNICA) VÍCIOS DE LINGUAGEM: tentativas de emagrecimento com cacófatos...
Prof. Joceny Possas Cascaes.

No afã de emagrecer, ‘faço Cooper diariamente’. Em duas semanas já perdi quatorze dias. Quilos que é bom!!! Nem pensar. Mesmo assim, quando perco alguns quilinhos logo os encontro. Penso que a receita do emagrecimento esteja no fechar a boca. O meu fogão tem quatro bocas e continua com o mesmo peso desde o dia que o comprei. Quem sabe, seja conveniente saber utilizar a boca. Pois, fechá-la na hora certa pode evitar transtornos de comunicação, problemas digestivos e ainda prevenir a obesidade. Porém, pediram-me para que eu ‘nunca pense nunca nisso’. Pensei: caniço! Uma cana fina. As pessoas que são magricelas também são chamadas de caniço.
Contudo, não é minha intenção emagrecer tanto. Então, de repente lembrei do ‘nosso hino’. O cidadão ao meu lado entendeu: suíno. E aproveitou para me dizer que comer carne de porco, em excesso, engorda e que a gordura desse animal faz muito mal ao nosso organismo. Acrescentou: é preciso aprender a mastigar os alimentos. Não! Quando falei do Hino Nacional Brasileiro me referia à parte da estrofe que diz: “verás que um filho teu não foge à luta, Nem teme, quem te adora, a própria morte”. Nesse sentido, passa a ser conveniente que se tenha um peso ideal, assim, quem sabe, tornamo-nos mais saudáveis e, portanto, preparados para enfrentar a luta e a labuta diária.
Mas, lendo sobre os benefícios do alho, Teresa Ortega (Professora de Farmacologia), diz, em relação ao alho, que “Seus compostos melhoram a saúde cardiovascular e previnem as doenças coronárias e circulatórias por diferentes mecanismos: reduzem a taxa de colesterol, tornam o sangue mais fluído, previnem a arterioesclerose e estimulam a dilatação das coronárias”. Dessa maneira, é aconselhado que em nossa dieta acrescentemos o alho. O problema poderá residir na hora de preparar o alho. Pois, ‘socar alho’ não é tarefa fácil. Apesar disso, os movimentos que nos farão surrar o alho também agregam alguns benefícios. Estão, de certa forma, no rol dos exercícios.
Por exemplo, andar, nadar, escalar, varrer, pedalar... Basta movimentar-se. O corpo necessita de atividade física. Jogar futebol, esporte que virou mania mundial, umas três vezes por semana é um exercício que pode ajudar a melhorar a saúde corpórea (corpo e mente). Imaginemos uma cena! Se o Romário jogasse no mesmo time do Cafu e ambos correndo em direção ao gol adversário e Romário, dentro da grande área, pedisse a bola e ‘Cafu deu’. Problema do Cafu... Cafu não precisava ter ‘dado’! Nesse caso, estamos nos referindo à bola. Pois o próprio Cafu poderia ter chutado ao gol. Porém, preferiu passá-la para o oportunista (poderia dizer o homem da banheira) Romário chutar.
No entanto, a bola foi chutada para fora. Enquanto isso, na arquibancada um casal resolve discutir. De quem foi a culpa, do Cafu ou do Romário? Talvez, de nenhum dos dois. Todavia, o homem resolveu colocar a ‘culpa nela’. Será que ele está culpando a sua companheira ou está falando da panela? Se for da panela posso retornar a prosa que iniciou esse texto. O meu desejo de emagrecer. A panela é um utensílio usado para se cozinhar os alimentos. Então, um dos caminhos, é saber preparar os alimentos. Pouca gordura e os rins agradecerão se evitarmos o exagero de sal. Aproveitar a panela para fazer revogados de verduras e lembrar-se de que alguns vegetais, corretamente lavados, devem ser comidos crus.
Devemos comer muitas frutas e conhecer os benefícios do açúcar mascavo. Vivemos num país tropical, lugar onde ‘abunda’ a agricultura, quer dizer, onde a agricultura é abundante. Pois, na ‘ótica minha’. Ih!!! Eu tenho uma ótica e não sabia. E isso não é verdade, o fato é que do meu ponto de vista, somos um país produtor, em grande escala, de soja. Nossa agricultura é bastante diversificada. Mas, a soja é um alimento que pode ajudar a diminuir o colesterol, aumentar a densidade dos ossos além de outros benefícios; pode ajudar no controle da saciedade. Isso mesmo, ajudar a controlar o peso. E é isso que estamos almejando.
Mas, ‘vou-me já’!!! Não! Por favor, não desejo ir mijar, ou melhor, urinar. É que pretendo ‘evacuar’ o texto, no sentido de sair dele, pois quero terminá-lo. Bom! ‘Já que tinha’ resolvido findá-lo. Será que eu falei jaquetinha? Deixa pra lá! Quem sabe, em dias que deixam de ser frios, o uso de uma jaqueta ajude a queimar umas gordurinhas. Talvez, com isso, eu tenha encontrado parte da solução do emagrecimento. De qualquer forma, voltarei a trabalhar na fazenda. Com o ‘Cooper feito’ diariamente estarei preparado para ajuntar o rebanho com a vara de ‘toca gado’... Leitor! Você tem o direito de pensar o que quiser. Pois, todo texto possui inúmeras interpretações. Mas, tenha a certeza, continuarei tentando emagrecer...

(CRÔNICA) OS ÓCULOS!

(CRÔNICA) OS ÓCULOS!
Prof. Joceny Possas Cascaes

De repente, repousei meus óculos sobre a mesa. Óculos? Havia colocado sobre a mesa – apenas - uma peça. Então, perguntei aos meus botões, por que usar o plural? Encontrava-me extasiado sobre o efeito simbólico dos óculos sobre a mesa. Uma pluralidade montada numa única armação. Duas lentes, dois instrumentos para melhorarem a visão. Cada lente é um óculo; se são duas... Defronte ao monitor de vídeo onde tentava ordenar as palavras - simplesmente emudeci. Continuei a fitar os óculos. Sem eles, as letras, a minha frente, tornavam-se embaralhadas. As idéias surgiam, mas faltava-me alguma coisa para que eu pudesse tirar aqueles óculos do lugar onde se encontravam.
De certa forma, retirar do lugar onde se encontrava, pois continuava, com certa deficiência, a ver uma peça só. Meu fiel e legítimo companheiro ou meus fiéis e legítimos companheiros. Alguns podem dizer que tanto faz, digo que faz diferença. Sendo um é único, sendo dois passa a ser múltiplo. Bom! Mas vamos ao que interessa. Continuei a frente dos vários aparelhos que fazem parte do conjunto das ‘novas tecnologias’. Minha intenção era escrever. Como de costume, o maior desafio de uma pessoa que trabalha com as palavras é ordenar seus escritos. Às vezes, saber sobre o que escrever... Nesse caso, o desafio se agigantou. Ao tirar os óculos, minha visão confundia-me. Mas acontece que o fato de tê-lo tirado é que havia me proporcionado algumas idéias.
Assim, veio-me à mente o assunto sobre o qual deveria debruçar-me. Na tentativa de tirar os óculos do lugar onde se encontravam, a imaginação fugia. O que fazer? Sem meus óculos, ficava impossível escrever. Em compensação, a cabeça fervilhava de imaginação. Meus óculos postados sobre um objeto de madeira. Pareciam descansar ou davam a impressão de quererem distância do seu dono. Mas, como? Sempre os tratei bem! A cada hora, tiro-os para limpar e, meio sem visão, observá-los. Esquisito, não!? Um par de óculos que deixava de ficar preso ao pavilhão da orelha e que tinham o objetivo de corrigir uma visão. Uma ou duas? Dúvidas novamente...
Pensemos!!! Se somos providos de dois olhos, então os óculos servem para corrigir as visões, que formam uma dupla. No meu caso, uma dupla distinta. Embora pareçam iguais, no que tange a capacidade de contemplação, forjaram-se diferentes. Os pontos de vista deixaram de ser os mesmos. A lente direita possui mais grau do que a esquerda. Então, os óculos deitados sobre a mesa possuem um óculo com mais grau do que o outro. Minha ‘visão-idéia’ parecia baralhar. Queria escrever e sem os meus óculos não conseguia, mas, se retirá-los de sobre a mesa... Ah! Que bom lembrar de algumas frutas doces, tipo as que são servidas após as refeições. Sobremesa!
Parecia que as letras ‘mal vistas’ estavam dentro de uma taça e prontas a serem saboreadas. Embora fosse um sabor acre, tinha que digeri-las. Isso feito, meu corpo alinhou-se, no sentido de ter aderido à causa. Que causa? Estava no momento determinando um acontecimento. Tinha uma ‘causa’ exposta em cima da mesa. Minha intenção era revelar os fatos observados. Uma realidade composta por duas lentes... Quem sou eu sem elas? Mal consigo enxergá-los (os óculos), enxergá-las (as lentes). Há uma névoa presente. Preciso assentar os meus óculos sobre o meu nariz. Momento em que minhas mãos se dirigiram ao ‘par-diferente’ de óculo.
Óculos assentados! Enfim, uma visão, de certa forma, confortável. Ih! As idéias onde foram parar? Os ‘psicólogos-analistas’ talvez diriam que estão na id. Id? Sim, a parte mais profunda da mente ou da psique. Se lá estiverem, como recuperá-las? Regressão!!! Devo retornar ao início do primeiro parágrafo: “De repente, repousei os meus óculos sobre a mesa. Óculos?” Havia percebido – de fato – a falta que eles me fazem. Acordei para uma nova realidade. O homem com seu poder inventivo. Soluções para os fazeres... Assim, pus fim ao(s) episódio(s) ocular(es). Mas, as idéias voltaram. Devo prosseguir! Vou tirar os meus óculos por uns instantes novamente. Pausa! Estou adentrando a mente... Necessito escrever! Onde deixei os meus óculos?

(CRÔNICA) O RELÓGIO...

(CRÔNICA) O RELÓGIO...
Prof. Joceny Possas Cascaes.

Simplesmente, pasmou-se!!! O perplexo, no sentido de surpreso, adentrou – subitamente - um corpo, que no momento se encontrava apático. Minutos se passaram... então, o tal corpo conseguiu, naturalmente, acalmar-se. Mas, o que havia acontecido para causar o significativo espanto? Aparentemente, nada; concretamente, talvez, muito... Estava-se pesquisando, a título de curiosidade, em diversas fontes, sobre os recursos utilizados para medir o tempo, quando se deparou com uma lista, de certa maneira enorme, que informava sobre a utilização de vários meios.
Dentre esses meios há os que se utilizavam ou se utilizam: do visual, da sombra, dos líquidos, da areia, das chamas, da atmosfera, da natureza e da evolução do conhecimento humano em que se encontram os relógios mecânicos, os de bolso, os de pulso, os elétricos, os eletrônicos, os digitais e inúmeros outros. Porquanto, é surpreendente e ao mesmo tempo envolvente essa história de medida do tempo. Embora, no momento, se deseje apenas saber sobre as superficialidades temporais, é mister informar que o tempo faz parte, em parte, dos arcabouços semânticos. Nesse caso, o tempo e o espaço servem de bases para o entendimento da evolução do sentido das palavras.
Senão, prenda-se a idéia no maquinismo que é utilizado para marcar as horas. (!!!). Fala-se do relógio. Instrumento que é, de certa maneira, determinante do ensejo e da oportunidade e que pode, superficialmente, prever e registrar o momento e a ocasião. Quando esse momento e essa ocasião se tornam importantes, o tempo pára, para que a hora possa ser – freqüentemente – rememorada. Os relógios também servem para medir os intervalos. Medir os intervalos? Como assim? Eles medem o espaço de tempo entre dois fatos e, com o passar de um grande tempo, entre duas épocas.
Mas, preciso, encostado a uma grande sala de estar de um casarão-fazenda, encontrava-se um relógio “Rod-Bel”, fabricado no Brasil, de aproximadamente dois metros de altura por uns oitenta centímetros de largura. Parecia um imponente ‘big-ben’. No entanto, essa impressão, quem sabe, seja porque o ‘big-ben’ verdadeiro se torne um tanto desconhecido. Mas, o referido relógio possuía um pêndulo redondo e enorme. Uma peça de mobiliário artesanalmente travestida de relógio. Havia se tornado uma maravilha determinadora... Pois, indicava com pontualidade todos os momentos e contribuía para evidenciar as ocasiões consideradas importantes. Era um marcador de horas, brilhantemente programado.
Às seis horas, ele ajudava a despertar uma infinidade de seres. As crianças, os adolescentes, os mais velhos e os empregados. Alguns bichos que dormiam próximos a casa, também se sentiam chamados a participarem do ritual matinal. Suas batidas eram ensurdecedoras. Podiam-se escutá-las, quase que perfeitamente, num raio de cem metros. Além disso, havia um sino, instalado fora da casa, que tocava imediatamente após as batidas do relógio. Assim, todos os moradores e trabalhadores da fazenda podiam se portar atentos aos momentos...
Sete batidas indicavam o início da labuta diária; nove, a hora do lanche; doze, a hora do almoço; treze, a hora de voltar a trabalhar; quinze, a hora do lanche da tarde; dezesseis, a hora do término do trabalho. Às dezenove horas acontecia a última batida do relógio (dos dias entre a segunda e a sexta) e, conseqüentemente, do sino. Ocasião em que as pessoas eram avisadas – musicalmente - do início do jantar. O relógio, após as doze batidas de sábado, deixava, automaticamente, de percutir. Período em que reinava um profundo silêncio naquele ambiente agradável à vista e ao corpo, acalentado pelo suave barulho dos ventos, da bicharada e das vozes das poucas pessoas que permaneciam, durante o final de semana, na grande propriedade rural.
Um magno relógio fabricado por artesão e um autêntico medidor de tempo. Às vezes, cercado por muitos seres e em outras ocasiões, eminente e solitário, encontrava-se embalado pelo ‘tic-tac’ de suas próprias horas. Mas, memorando-se esse relógio e outros medidores de tempo, percebe-se que, de certa maneira, o tempo nunca passa, pois são os seres (todo e qualquer ente vivo e animado) que passam. O relógio é, apenas, uma ferramenta, deveras significativa, para que se perceba o tempo das pessoais ações passar mais depressa. Generalidade: vive-se pedindo para que o tempo passe! ...Questão de reflexão!? Então,...

(CRÔNICA) MOSQUITOS!

(CRÔNICA) MOSQUITOS!
Prof. Joceny Possas Cascaes.

Nervosismo noturno! Tudo por causa de várias fêmeas que, instintivamente, por amor as suas crias, desejavam, hora ou outra, ‘parir’, ou melhor, pôr. Há livro que informa que os mosquitos-fêmea põem, em média, 250 a 400 ovos divididos em várias posturas. Era 21h30min.! Momento em que eu e minha esposa deitamos. Minutos após o apagar das luzes - o ataque começou. Noite quente! Olho para o lado e lá está minha companheira toda coberta, dos pés ao último fio de cabelo, sem se incomodar uma vírgula com aqueles insetos de duas asas; dípteros infames. Como costumo ligar o ventilador e não consigo dormir acobertado em tempos quentes, vivenciei um espetáculo teatral, com recheios de um ‘picante-humor’. Daqueles que – literalmente - picam.
O refil repelente de mosquito, a ser colocado no aparelho elétrico, acabara. Tinha que ser justamente naquela noite quente. Ocasião em que uma quantidade, talvez, imensurável de ‘mosquitos- fêmea’ resolveu nos visitar. Adentraram, sem pedir permissão, em nosso quarto e na oportunidade ‘in-devida’ atacaram-me. Parece que estavam programados, pois esperaram o apagar das luzes, o ‘silêncio-roncante’ pairar no ar, a quietude do adormecer e... Em poucos minutos os meus pés começaram a comichar e a sentir uma irritação subseqüente, causada por algum tipo de líquido tóxico injetado pelos ‘malditos’ mosquitos. Pés (partes baixas) para os mosquitos é predileção... Pernilongos, maruins, fincudos... Sei lá que ‘diacho’ eram aqueles malditos bichos alados.
Momento em que tive que tomar uma decisão. Subitamente levantei-me e me vesti de ‘caçador-matador’. Acendi as luzes, armei-me de um lençol e parti para o ataque. Enquanto minha esposa dormia, sem perceber o que acontecia, resolvi partir para a ofensiva. Em pouco tempo, havia conseguido dar conta de matar uns quinze mosquitos. As marcas ficaram impressas nas paredes e no teto. Como explicar isso à esposa? Sangue por toda parte. Provavelmente, o meu. Pela quantidade (impressão que tive), somando-se a que estava no ‘bucho’ dos mosquitos que não consegui matar, tiraram-me uns dois litros. Dos sete, que imagino ter uma pessoa, restavam-me uns cinco litros. Voltar para cama, para tentar dormir, poderia se transformar numa fatalidade. Encontrava-me fraco e irritado pelas picadas; se os mosquitos, que restaram, me sugassem mais uns dois litros, nem sei o que aconteceria comigo.
Que decisão tomar? Dificuldades escaldantes, no sentido de pensar que aquilo era uma punição. Deitei-me... De posse d’outro lençol e com grande esforço, acobertei-me, quase que totalmente. Deixei apenas parte da cabeça e de uma orelha de fora. Suficiência indigna!!! Os mísseis teleguiados, pela tendência natural de fortalecimento dos embriões que cada qual carregava em suas ogivas (‘ventres’), resolveram ‘contra-atacar’. Zumbidos que circundavam a região auricular... Tapas e mais tapas! Metamorfoseei! Transformei-me também num verdadeiro mosquito. Daqueles que são elétricos. Virei um sujeito irritado, irrequieto. A cena seguira-se em completo reboliço. Instante em que, minha, até então, tranqüila companheira, acorda assustada. Vê a parede lambuzada de um vermelho carmim, ou de um vermelho Ferrari e...
O que aconteceu? Que barafunda é essa? Restou, enquanto os mosquitos se escondiam, explicar minuciosamente o que havia acontecido. Então, ela retruca! Eu não senti picada alguma. Mas como você sentiria alguma coisa picante, coberta desse jeito, perguntei? Houve uma parcial compreensão e, em comum acordo, trocamos de aposento. Fechando duas portas, encarceramos os ‘vermes’. N’outro quarto acendemos várias velas com intuito de nos prevenir de novas ‘agressões’, (último recurso que nos sobrava – na ocasião). Aproveitamos o momento um tanto ‘divino’... Luzes em nossas vidas (suspense - instante de imaginação do leitor!). O calor ambiental, somado ao das velas acesas produziram pura paixão fumegante. Verdadeiras borbulhas... Meu sangue havia renovado. Em nossas vidas não há nada que possa começar mal e terminar bem! Isso ajuda a nos preparar para enfrentar novos ‘incômodos-ataques’, inclusive de mosquitos!

(CRÔNICA) A MOEDA: e o jogo da vida...

(CRÔNICA) A MOEDA: e o jogo da vida...
Prof. Joceny Possas Cascaes

Pense numa moeda qualquer sendo jogada para cima. Até aí, tudo bem. Escolha um dos lados deste metal-dinheiro e torça para que ao tocar no chão sua opção fique voltada para cima. Dependendo da altura do lançamento, da velocidade, do ângulo e de outros fatores, nesse caso, a sua chance de acerto poderá (falou-se poderá) ser de cinqüenta por cento. Agora, gire essa mesma moeda sobre uma superfície lisa. Escolha um dos lados. Sua chance de acertar não será mais a mesma.
Epa!!! Estão querendo me enrolar. É... passar a perna. Enganar-me. Será? Se fosse possível girar um pão (tipo caseiro) fatiado, com manteiga e doce num dos lados, ao parar de rodar qual seria a probabilidade dele cair com o lado do doce para baixo? Cinqüenta por cento? Em casos como esses, é provável que, na grande maioria das vezes, o pão caia com o doce para baixo. Por quê? Quem sabe, por causa da ‘Lei da lógica’. Há uma, certa, lógica que faria com que o pão caísse mais vezes com a parte mais pesada para baixo. Isso acontece, muitas vezes, quando ele cai da mão.
Moedas costumam ter um pequeno desequilíbrio de peso, se comparado os seus dois lados. Por isso, o lado mais leve, tenderá a ficar, mais vezes, voltado para cima. Agora pense num problema pessoal, seja ele qual for. Relacione-o com a moeda. Como!? Parta do princípio de que tudo tem, no mínimo, dois lados opostos. Veja bem! Para assustar o sonho surgiu o pesadelo; para adocicar o mal, apareceu o bem; para dar trégua à guerra, veio a paz; para combater o estresse, criaram-se as terapias e os remédios... e assim por diante.
Sabe! Em relação ao impossível, há necessidade de se revelar suas possibilidades. Naquilo que se considera impossível, algo existirá. Alguma probabilidade poderá se fazer presente. Vamos supor que você tenha uma chance, entre cinqüenta milhões de pessoas, em ganhar numa aposta qualquer. É mínima, mas um será o ganhador. E você estará entre eles. Nesse caso, se não fores o ganhador, gozarás, pelo menos, do direito de sua probabilidade. Numa partida equilibrada de futebol de campo, por exemplo, se o resultado não foi decidido antecipadamente pelos cartolas, só será definido o ganhador no final da partida. O favoritismo pode estar fora do jogo.
Contudo, voltando ao tal problema... Estes, são como receitas de bolos. Sendo dos outros, aplica-se (fora do contexto em que ele foi criado) um falar imediato e a situação estará resolvida ou... complicada. Passa-se uma receita surrada e espera-se que o bolo saia do forno com a mesma aparência e gosto do quitute da vovó. Em casos como esses, as prescrições costumam não dar certo. O bolo, na maioria das vezes, sairá cru ou queimado. É que receitas, em geral, são sempre alteradas, modificadas.
Um pouquinho de sal a mais ou a menos; uma quantidade maior ou menor de açúcar; o acréscimo de um novo sabor; o tempo de preparo, de ser deixado no forno ou em outro lugar... Portando, há de se tomar cuidados ao se passar receitas. Mas, saiba que os dois lados opostos continuarão presentes em tudo. Seu problema ainda não foi resolvido? O antigo Egito já foi uma exuberante sociedade; a Grécia teve momentos que marcaram história; a antiga Roma já imperou; a Inglaterra foi uma potência hegemônica. Atualmente, a supremacia militar e financeira está nas mãos dos EUA. Até quando? Se tudo muda, há de mudar esta situação também!?
Resumindo... problemas fazem parte da solução. Imagine uma solução matemática sem que exista um problema. Impossível? Talvez! O importante é saber lidar com a situação que se apresenta. Diariamente a moeda continuará a ser jogada para cima, ou a ser girada numa superfície lisa, não importa. Então, para aqueles que se encontram no fundo do poço, segue Nietzsche, “É preciso ter ainda caos dentro de si, para dar a luz a uma estrela dançante”. A moeda em qualquer caso ou acaso, quando parar o giro ou cair, revelará uma das probabilidades que, com exatidão, nunca se saberá antes... Por conseguinte, resta aceitar, conhecer e administrar as regras do jogo.

(CRÔNICA) A LÍNGUA...

CRÔNICA) A LÍNGUA...
Prof. Joceny Possas Cascaes

A Língua Portuguesa produz uma melodia que encanta e aturde, porque pode causar espanto. É fato! Sensibiliza e faz nascer muitos risos e inúmeros prantos. Pois, tantas são as harmonias que – singularmente – brotam de suas diferentes falas. Gráfica língua!!! Um mundo de palavras – mais de 400 mil – à disposição... Então, fala e escreve Brasil! Fala norte; fala nordeste; fala centro oeste; fala sul e fala sudeste... És uma língua mística e - como muitas – és plural. Pois, a linguagem portuguesa – arrisca-se dizer - é vigorosa. Acima - possui brio! Senão, vejamos:
Alumia – vê se acende, porque algo aconteceu casualmente: um acidente. Uma escalada na montanha, que se tornou um incidente. Vai rápido – apressa-te. É preciso apreçar, pois há de se saber o preço do resgate. Deixe de lado tua arma de caça. Temos que cassar – reduzir os efeitos da queda. Há algo iminente, um fato novo que pode acontecer. Aquela porção de terra solta pode provocar uma avalanche. Eminente! Tua ação foi excelente. O socorro emergiu – apareceu. Alguém deve imergir – penetrar na fissura daquela pedra.
Há um extrato, uma essência milagrosa. O acidentado deve cheirá-la. Portanto, localizem um estrato. Isto! Aquela nuvem baixa. Olhos atentos. Oremos! Evitemos a infração – a transgressão dos preceitos religiosos. Nossa! Deixemos de nos parecer – neste ato - com a inflação. Estamos desvalorizados. Há de se pôr fé em toda oração. De antemão, algo está incerto. Existe imprecisão em nossa ação. Façamos um concerto. Contudo - selemos um acordo. Sigamos em frente. Há de se chegar à vítima. É urgente! Ela tem que ser reanimada. Tragam o oxigênio. Antes – pausa... para um conserto. Vamos reparar as nossas ações.
Pois algo se tornou despercebido. Porém, falhas acontecem. Um socorro não pode se tornar desapercebido. Todo auxílio deve ser prevenido. Portanto, precaução! A prevenção descrimina os atos – corriqueiros - falhos. Com isso, inocentamos a mente. Neste, angustiante, socorro tem-se que discriminar – distinguir o certo do errado. Reflitamos: tudo é certo – desde que não esteja errado. Vamos adentrar a mata! Aliás, acerca desde socorro quem é o perito?
- Eu!!!
- Quantos anos você tem de prática?
- Cerca de dez anos.
Puxe o facão para fazer uma clareira. Estamos próximos do local do acidente. Ele caiu de um penhasco de, aproximadamente, cinqüenta metros. Estamos num vale. Há dois montes entre nós. Vale a pena desbastar um pouco a vegetação. Tragam a maca – a vítima está viva. Este resgate tem que surtir - produzir um resultado positivo. Alguém tem que sortir o cantil. Rápido! Pegue água naquele córrego - leve o cantil. Nada de vadiar - este não é um momento para brincadeiras! Psiu! Vocês dois devem vadear aquele riacho para pegar a mochila. Vamos!!! Atravessem a água - peguem a mochila. Agora, temos que ir rápido embora.
Chegamos! Coloquem-no na ambulância. Há indícios de que ele foi vítima do tráfico. Alguns traficantes de drogas (as mais diversas) o empurraram da montanha. Ih! Dezoito horas! Hora do rush... O tráfego está intenso. Ligue a sirene a fim de conseguirmos passagem. Os médicos do hospital já foram avisados; encontram-se em alerta. O acidentado me parece afim - tem semelhanças com alguém que eu conheço. Mas, deixa pra lá, o importante é que ele seja – convenientemente – atendido. Finalmente, alegremos-nos! O resgate foi um sucesso. Ele passa bem...
(...) Prova de que a língua continuará ascendendo e que - cada vez mais - adquirirá relevância - com acentos (tons de vozes, para torná-la ainda mais bonita) sempre diversificados.

domingo, 23 de agosto de 2009

(CRÔNICA) ERA UMA VEZ...

(CRÔNICA) ERA UMA VEZ...
Prof° Joceny Possas Cascaes.

Era uma vez uma moça chamada Branca de Neve (um desejo atendido de uma mãe: uma filha de cabelos negros como o ébano e com pele branquinha como a neve), que foi a uma festa na casa dos Três Porquinhos. Bateu à porta e foi convidada pelo Prático, dono da casa de tijolos, a entrar. Adentrando, além dos outros dois porquinhos, deparou-se com o Lobo Mau e com a Vovozinha. Fazia muito frio lá fora e, para o deleite dos moradores e dos visitantes, a lareira, com um ‘tacho’ com água, encontrava-se viva. Branca de Neve ficou intricada com a presença do Lobo Mau e da Vovozinha. Desconfiada, pensou: o que esse Lobo do mal está fazendo aqui junto com a Vovozinha? Para os três Porquinhos o Lobo Mau não oferecia perigo, já que ele era da história que pertencia ao Chapeuzinho Vermelho.
E, Falando do Chapeuzinho... ela dá três batidas na porta. Dessa vez, Heitor, um dos Porquinhos, é que pergunta quem é, e que ao ter certeza que era o Chapéu (em miniatura) Vermelho, abre a fortificada porta. Chapeuzinho, surpresa, vai logo perguntando: Vovó!!! Você aqui? Com quem vieste? Com o Lobo Mal, responde a Vovó. Mas não se preocupe eu ainda sei me cuidar sozinha. Além disso, este mamífero do mau prometeu se comportar nessa nova história. É preciso acreditar! Entrementes, Cícero, o outro Porquinho, vê passar pela janela à frente da casa uma carruagem em disparada, construída com uma abóbora gigante; e percebe que um sapato de cristal rola em disparada. Mesmo na neve, nota o seu brilho. Gente, gente! Cinderela passou em sua carruagem, não deve ter visto a nossa casa, pois estava em alta velocidade. Vou lá fora buscar o sapato de cristal que ela deixou cair. São dezenove horas. Xiiii! Antes da meia noite ela precisa retornar para casa. Senão sua carruagem vai virar numa diminuta abóbora.
Isso não é problema nosso! Retruca o Lobo Mau. Momento em que o conselhense Prático diz: Lobo, nesta história, resguarde-se do direito de ser nosso convidado. Cinderela é bem-vinda! Nossa festa terminará às vinte e três horas e trinta minutos, assim ela terá tempo hábil para retornar. Ao abrir a porta para ver algum vestígio da Cinderela, Prático depara-se com o príncipe a sua frente. Entre, entre! Você conhece este sapato? Mas é claro, pertence a Cinderela. Tinha certeza de que a encontraria aqui. Calma, príncipe. A carruagem da ‘Cinde’ passou por aqui há dez minutos, em disparada. Já sei o que aconteceu, -ressalta o príncipe - a madrasta e suas duas filhas legítimas quebraram o encanto da fada madrinha. Visitaram a história da ‘Branca’ e pediram para a bruxa uma maçã que, ao ser comida, assim que ‘Cinde’ usasse a carruagem, transformaria a abóbora num ‘carro’ de corrida, desgovernado. Nisso chegam os sete anões.
Sabemos onde estão a Madrasta e suas filhas. Encontrando-as, poderemos quebrar esse feitiço. Como? Pergunta a assustada ‘Branca’. Primeiro é preciso encontrá-las. Depois é só levá-las à presença da ‘Bruxa’ para que o feitiço seja quebrado. Então, deixa eu me entender com elas. Vou junto com os anõezinhos. Essa ‘Bruxa’ pertence a minha história. Elas que me aguardem! Saíram os Sete e a Branca de Neve à procura da ingrata mulher e suas crias e da feiticeira. “Eu vou, eu vou atrás das malvadas, agora eu vou! Eu vou, eu vou...” Cantarolavam os oito. Os Sete, mais a ‘Branca”. O zangado estava muito mais enfurecido. Dengoso, durante a trajetória, recebia dengos da moça de cabelos da cor do ébano. O mestre dava as ordens. Vamos por ali. Silêncio, estamos quase cegando. Ao se aproximarem, Atchim não se agüenta e larga um triplo espirro. ‘Atchim, atchim, atchim’!!! Então, as malvadas saem, de mãos dadas, correndo sem destino.
Acontece que, nesse momento, a carruagem da ‘Cinde’ passa a toda velocidade. Foi um estrondo só. O carro de abóbora vira e as três moças do mal voam longe. Felizmente nada aconteceu com a Cinderela. Enquanto a ‘Branca’ cuidava da ‘Cinde’, os anões levaram a madrasta e as filhas, que pouco se machucaram, até a bruxa. Tudo voltou ao normal. Tudo não! Essa história está me deixando um pouco confuso. Bom! Como dentro de qualquer anormalidade sempre há algo normal, vamos em frente com esse ‘era uma vez... Cinderela, Branca e os anões voltaram para a casa dos Porquinhos. Sonega caiu num profundo sono. Dunga tentava entender tudo pela alegria demasiada do Feliz. Contaram a todos o que acontecera. E a festa prosseguiu... O príncipe colocou o sapato na Cinderela e começaram a dançar. O Lobo Mau, vez ou outra, queria comer a vovozinha e se continha por estar noutra história; Branca de Neve, próxima aos anões, sentia-se protegida.
A água, colocada no recipiente que estava na lareira, fervia. Prático, numa demonstração magistral, tocava piano! O Lobo da história dos Porquinhos se aproxima da casa e aproveita o barulho da festança, sobe ao telhado e começa a descer pela chaminé. Percebendo o tacho d’água fervendo, volta para o telhado. Desce e bate a porta. A animada festa pára. O dono da casa atende. Quem é. Sou eu! Eu, quem? O Lobo. Se não abrires a porta em dez segundos, soprarei. Vou derrubá-la com o meu sopro. Ih! O que vamos fazer? Perguntaram todos. Então, o Lobo Mau, querendo mostrar o seu lado bom, diz: deixem que eu vou lá fora me entender com ele. Somos seres da mesma espécie. Ele vai ter que me escutar. Lobo e Lobo Mau saem abraçados para conversar, num cantinho fora da casa. Imagem rara! Pois é, Lobo, você sabe que eu sou do Mal e nem por isso ataquei alguém na casa. Consegui me conter. Acontece que você é d´outro conto, diz o Lobo da história dos Porquinhos. Eu sou deste! Então vamos entrar, pois essa narrativa também já não te pertence mais. Nenhuma história pode ser contada duas vezes do mesmo jeito.

CIDADANIA: e escola!

CIDADANIA: e escola!
Prof. Joceny Possas Cascaes.

“Cidadania é a capacidade de influenciar
sobre o lugar a que você pertence”.
(Charles Handy)

Conta-se que o conceito original de cidadania tem relação direta com o termo burguês. O povo, em especial o rural, era impedido de ser cidadão. Pois, a palavra cidadão, na Roma antiga, fazia alusão somente aos habitantes da cidade. Mas, o que é ser cidadão? Fala-se tanto que ser cidadão é ser um sujeito em pleno gozo de seus direitos e deveres... Contudo, que direitos e deveres são esses se, há séculos, instaurou-se uma visível desigualdade social? Todo cidadão tem o direito de ter um lugar digno para morar; de receber auxílio médico; de poder se prover de água encanada e tratada; de contar com rede de esgoto; de ser um beneficiário da luz elétrica e ter condições de contribuir financeiramente para isso; de praticar uma religião, sem ser discriminado; de gozar do direito do voto, pleno de liberdade...
Mas, vê-se que o ‘princípio da isonomia; que é a igualdade de todos perante a lei, continua amplamente abalado. Em geral, os mais abastados financeiramente, aqueles que possuem bens, passam a ser legalmente e socialmente os maiores privilegiados. Questão de poder!!! Nesse caso, os privilégios ancoram-se na quantidade de bens que uma pessoa possui. Portanto, há um principio isonômico, com fortes raízes desiguais. Assim, pensa-se que a ‘Escola’ pode contribuir bastante para que o processo de cidadania, em constante evolução, possa fazer parte, num melhor nível, da vida de todas as pessoas. Pois a escola é a casa da educação. Do latim, ‘educare’. Um local reservado (aberto à comunidade) para o cultivo dos espíritos (dos ânimos, dos estímulos...), onde ocorrem discussões, investigações, contestações e trocas de conhecimentos.
À vista disso, abrem-se os portões da ‘escola-cidadã’. Um local de solicitudes e aberto aos conhecimentos, os mais diversos. Porém, um lugar onde se fazem presentes os educadores dispostos a aceitarem críticas (não só construtivas); a receberem sugestões; a estarem preparados para as trocas de idéias; a respeitarem quem quer que seja em sua individualidade... Onde se deve saber, pelo menos um pouco, como é a vida dos alunos, fora dos muros da escola. Dessa forma, o exercício da cidadania vai naturalmente se sucedendo no ambiente escolar. Com isso, os exemplos de cidadania se tornam diários. Vão aos poucos se instaurando na vida de todos os que fazem parte desse ambiente que é, em parte, uma extensão da vida familiar!
Porquanto, nem todas as crianças ou jovens possuem familiares que estejam abertos ao diálogo ou que se façam presentes em seus cotidianos. Ademais, muitos nem possuem família ou, às vezes, por sua desestrutura, é praticamente a mesma coisa que não possuísse. Mas, voltando à escola, sabe-se que, nesse meio, são ensinadas algumas práticas de vida. Vida cidadã: a do direito embasado no ‘pessoal-dever’. Visto que, a amplitude cidadã abarca o respeito a si próprio e ao outro; o saber usar um espaço público; o ter que parar no sinal vermelho; a ‘não-destruição’ do que é público; o entendimento do que é uma lixeira, para que ela serve; o conhecimento, pelo menos em parte, dos diversificados contextos individuais e ‘cultural-sociais’, e assim por diante.
Dessa forma, há uma tendência dessas crianças e jovens se tornarem preparados para o real exercício da cidadania, a fazer diferença no meio circundante. Já que ser cidadão é ter que participar. Senão, corre-se o risco de se continuar a ficar a mercê do burgo, da residência fortificada onde residiam muitos burgueses. A casa fortalecida costumava ser aberta somente a outros ‘par-burgueses’. A manutenção de situações como essas tende a contribuir para que a exclusão continue a se fazer presente no meio que é social; e a exclusão não combina com o conceito de cidadão. Pois, todo cidadão – de fato - de direito e de dever, deve, de alguma forma, participar e, assim, ‘influenciar sobre o lugar a que pertence’. Pensa-se que está na hora de ‘re-modelar’ muitas coisas buscadas no convencional e no tradicional. A escola está fazendo uma parte da parte que pertence a ela. Acredita-se que só é preciso que cada pessoa faça também a sua parte, que pode estar inserida em diversificadas partes. Dessa maneira, certamente, começam a surgir e a crescer o número dos ‘reais’ cidadãos...

"UMBIGO"

“UMBIGO”: olhando para o ‘eu’...
Prof. Joceny Possas Cascaes

A palavra umbico (na Língua Portuguesa – vulgarmente – são usadas as variantes embigo e imbigo) vem da palavra umbilicus de origem latina, que é diminutivo de umbo, com o sentido de saliência arredondada em uma superfície. Escritos filosófico-históricos contam que, na mitologia grega, o centro do mundo localizava-se no templo de Apolo, numa ilha chamada Delfos. Neste templo havia uma escultura de mármore, de forma arredondada, que se chamava omphalós, termo grego que significa umbigo.
Neste local eram realizadas orações sob o efeito de vapores que se acreditavam virem do interior da Terra. Havia um sentido de que a mãe-Terra ligava pelo umbigo os filhos inseguros e numerosos que participavam de tais cerimônias. Dito de outra forma, o umbigo é uma cicatriz deixada pela queda do cordão umbilical que é responsável pela nutrição e sobrevivência do feto e do futuro bebê.
Mas, o que significa a expressão: “cuidar do próprio umbigo”? De certa maneira, tem sentido de pessoalidade, de preservação, de egocentrismo e de individualidade. Pode, também, ter relação de hereditariedade, de educação e de cuidado, em especial, consigo mesmo ou com os parentes, amigos ou pares. Tem, também, um significado de preservar (de proteger) para garantir a evolução da própria família. Pensando de forma ampla, ao analisar a resposta dada a pergunta formulada, pode-se dizer que essas atitudes se encaixam dentro dos padrões da normalidade.
De alguma forma, milênios se passaram e os homens continuam enclausurados em suas próprias cavernas. Casas, apartamentos, locais de trabalhos servem como abrigos – apenas – aos pares. Há – de alguma maneira – um continuísmo do que se fazia no tempo em que o homem morava nas cavernas. Por intermédio da concepção histórico-cultural de aprendizagem, talvez, se consiga entender melhor o que está se querendo dizer com essas colocações. As raízes histórico-culturais são determinantes à manutenção da vida e também pelo continuar, de alguma maneira, dos pensamentos criados ao longo da história.
Isso é de fundamental importância, mas mudar paradigmas e “re-construir” ou criar o novo se faz necessário para que se pense o mundo de maneira melhor e diferente. Porém, é comum as pessoas realizarem ações sociais sob o comando do interesse próprio. Esse interesse pode ser pessoal, profissional, familiar, político... Por exemplo, ajuda-se ao Corpo de Bombeiros, somente, porque ele pode ser útil a mim; à escola enquanto os filhos estudam lá. É regra geral, os pais de portadores de necessidades especiais serem mais ligados à APAE, do que outros pais.
No meio jovem, é normal, quando duas pessoas estranhas brigam corporalmente serem incentivadas pelos que estão ao redor. Um mendigo, um dependente químico, um favelado, um menor abandonado, quando são desconhecidos, deixam de ser notados e é raro alguém se habilitar para tentar contribuir com a inversão de tais realidades. É evidente que pode existir uma atitude de impotência ao se estar diante de tais fatos. Mas, os mesmos devem ser analisados à luz do conhecimento no sentido de que cada ‘ser-transeunte’ se torne um denunciador de tais acontecimentos e jamais esperar que seja tocado o próprio umbigo para se tomar algumas atitudes.
Dando outro exemplo, o pai e a mãe se sensibilizam, tornam-se ‘escudeiros-defensores’ de campanhas antiarmamentos, na maioria das vezes, quando perdem o filho por causa de uma bala perdida ou nas mãos de bandidos. Dizer que tais ações são erradas é incorrer num pensamento insensível e mal-argumentado. Porém, certas coisas devem ser realizadas porque não podem esperar. O melhoramento da vida no planeta é de responsabilidade de todos.
Em relação à mitologia grega, hoje se sabe que o centro do mundo pode estar em todos os lugares, menos no templo de Apolo, como pensavam os antigos. Sobre o ombro de cada cidadão recai a responsabilidade da manutenção da vida e da ‘re-construção’ humana. Cada ser deve cuidar – indiscutivelmente – do seu próprio umbigo. Porém, é de fundamental importância que as pessoas agucem a sensibilidade para perceberem que, ao estarem pensando somente no próprio umbigo, estarão fechando as portas da igualdade e, conseqüentemente, abrindo uma arbitrária janela que continua mostrando, como se fosse natural, que algumas pessoas devem ser melhores do que outras.

FOTOS: Novas Camisas do JESC-Escola "Gertrud"





























AULAS DE SOCIOLOGIA... (TEXTOS)



Vygotsky e o conhecimento

FONTE: WEB



Lev S. Vygotsky (1896-1934), professor e pesquisador foi contemporâneo de Piaget, e nasceu em Orsha, pequena cidade da Bielorrusia em 17 de novembro de 1896, viveu na Rússia, quando morreu, de tuberculose, tinha 37 anos.Construiu sua teoria tendo por base o desenvolvimento do indivíduo como resultado de um processo sócio-histórico, enfatizando o papel da linguagem e da aprendizagem nesse desenvolvimento, sendo essa teoria considerada histórico-social. Sua questão central é a aquisição de conhecimentos pela interação do sujeito com o meio.As concepções de Vygotsky sobre o processo de formação de conceitos remetem às relações entre pensamento e linguagem, à questão cultural no processo de construção de significados pelos indivíduos, ao processo de internalização e ao papel da escola na transmissão de conhecimento, que é de natureza diferente daqueles aprendidos na vida cotidiana. Propõe uma visão de formação das funções psíquicas superiores como internalização mediada pela cultura.As concepções de Vygotsky sobre o funcionamento do cérebro humano, colocam que o cérebro é a base biológica, e suas peculiaridades definem limites e possibilidades para o desenvolvimento humano. Essas concepções fundamentam sua idéia de que as funções psicológicas superiores (por ex. linguagem, memória) são construídas ao longo da história social do homem, em sua relação com o mundo. Desse modo, as funções psicológicas superiores referem-se a processos voluntários, ações conscientes, mecanismos intencionais e dependem de processos de aprendizagem.Mediação: uma idéia central para a compreensão de suas concepções sobre o desenvolvimento humano como processo sócio-histórico é a idéia de mediação: enquanto sujeito do conhecimento o homem não tem acesso direto aos objetos, mas acesso mediado, através de recortes do real, operados pelos sistemas simbólicos de que dispõe, portanto enfatiza a construção do conhecimento como uma interação mediada por várias relações, ou seja, o conhecimento não está sendo visto como uma ação do sujeito sobre a realidade, assim como no construtivismo e sim, pela mediação feita por outros sujeitos. O outro social, pode apresentar-se por meio de objetos, da organização do ambiente, do mundo cultural que rodeia o indivíduo.A linguagem, sistema simbólico dos grupos humanos, representa um salto qualitativo na evolução da espécie. É ela que fornece os conceitos, as formas de organização do real, a mediação entre o sujeito e o objeto do conhecimento. É por meio dela que as funções mentais superiores são socialmente formadas e culturalmente transmitidas, portanto, sociedades e culturas diferentes produzem estruturas diferenciadas.A cultura fornece ao indivíduo os sistemas simbólicos de representação da realidade, ou seja, o universo de significações que permite construir a interpretação do mundo real. Ela dá o local de negociações no qual seus membros estão em constante processo de recriação e reinterpretação de informações, conceitos e significações.O processo de internalização é fundamental para o desenvolvimento do funcionamento psicológico humano. A internalização envolve uma atividade externa que deve ser modificada para tornar-se uma atividade interna, é interpessoal e se torna intrapessoal.Usa o termo função mental para referir-se aos processos de: pensamento, memória, percepção e atenção. Coloca que o pensamento tem origem na motivação, interesse, necessidade, impulso, afeto e emoção.A interação social e o instrumento lingüístico são decisivos para o desenvolvimento.Existem, pelo menos dois níveis de desenvolvimento identificados por Vygotsky: um real, já adquirido ou formado, que determina o que a criança já é capaz de fazer por si própria, e um potencial, ou seja, a capacidade de aprender com outra pessoa.A aprendizagem interage com o desenvolvimento, produzindo abertura nas zonas de desenvolvimento proximal (distância entre aquilo que a criança faz sozinha e o que ela é capaz de fazer com a intervenção de um adulto; potencialidade para aprender, que não é a mesma para todas as pessoas; ou seja, distância entre o nível de desenvolvimento real e o potencial ) nas quais as interações sociais são centrais, estando então, ambos os processos, aprendizagem e desenvolvimento, inter-relacionados; assim, um conceito que se pretenda trabalhar, como por exemplo, em matemática, requer sempre um grau de experiência anterior para a criança.O desenvolvimento cognitivo é produzido pelo processo de internalização da interação social com materiais fornecidos pela cultura, sendo que o processo se constrói de fora para dentro. Para Vygotsky, a atividade do sujeito refere-se ao domínio dos instrumentos de mediação, inclusive sua transformação por uma atividade mental.Para ele, o sujeito não é apenas ativo, mas interativo, porque forma conhecimentos e se constitui a partir de relações intra e interpessoais. É na troca com outros sujeitos e consigo próprio que se vão internalizando conhecimentos, papéis e funções sociais, o que permite a formação de conhecimentos e da própria consciência. Trata-se de um processo que caminha do plano social - relações interpessoais - para o plano individual interno - relações intra-pessoais.Assim, a escola é o lugar onde a intervenção pedagógica intencional desencadeia o processo ensino-aprendizagem.O professor tem o papel explícito de interferir no processo, diferentemente de situações informais nas quais a criança aprende por imersão em um ambiente cultural. Portanto, é papel do docente provocar avanços nos alunos e isso se torna possível com sua interferência na zona proximal.Vemos ainda como fator relevante para a educação, decorrente das interpretações das teorias de Vygotsky, a importância da atuação dos outros membros do grupo social na mediação entre a cultura e o indivíduo, pois uma intervenção deliberada desses membros da cultura, nessa perspectiva, é essencial no processo de desenvolvimento. Isso nos mostra os processos pedagógicos como intencionais, deliberados, sendo o objeto dessa intervenção : a construção de conceitos.O aluno não é tão somente o sujeito da aprendizagem, mas, aquele que aprende junto ao outro o que o seu grupo social produz, tal como: valores, linguagem e o próprio conhecimento.A formação de conceitos espontâneos ou cotidianos
desenvolvidos no decorrer das interações sociais, diferenciam-se dos conceitos científicos adquiridos pelo ensino, parte de um sistema organizado de conhecimentos. Aprendizagem é fundamental ao desenvolvimento dos processos internos na interação com outras pessoas.Ao observar a zona proximal, o educador pode orientar o aprendizado no sentido de adiantar o desenvolvimento potencial de uma criança, tornando-o real. Nesse ínterim, o ensino deve passar do grupo para o indivíduo. Em outras palavras, o ambiente influenciaria a internalização das atividades cognitivas no indivíduo, de modo que, o aprendizado gere o desenvolvimento. Portanto, o desenvolvimento mental só pode realizar-se por intermédio do aprendizado.
Vygotsky, teve contato com a obra de Piaget e, embora teça elogios a ela em muitos aspectos, também a critica, por considerar que Piaget não deu a devida importância à situação social e ao meio. Ambos atribuem grande importância ao organismo ativo, mas Vygotsky destaca o papel do contexto histórico e cultural nos processos de desenvolvimento e aprendizagem, sendo chamado de sociointeracionista, e não apenas de interacionista como Piaget.Piaget coloca ênfase nos aspectos estruturais e nas leis de caráter universal ( de origem biológica) do desenvolvimento, enquanto Vygotsky destaca as contribuições da cultura, da interação social e a dimensão histórica do desenvolvimento mental.
Vera Lúcia Camara F. Zacharias é mestra em educação, pedagoga, diretora de escola aposentada, com vasta experiência na área educacional em geral, e, em especial na implantação de Cursos Técnicos de Nível Médio e pós-médio, assessoria e capacitação de profissionais para a utilização de novas tecnologias aplicadas à educação e alfabetização.
Questionário:
01.Quem foi e onde nasceu Lev Vygotsky?
02.Como construiu sua teoria da Educação?
03. Fale sobre as concepções de Vygotsky sobre o processo de formação de conceitos.
04. Explique as concepções de Vygotsky sobre o funcionamento do cérebro humano.
05. O que ele quer dizer sobre mediação?
06. Explique os termos: linguagem e cultura na concepção de Vygotsky.

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01. FUNÇÃO SOCIAL DA ESCOLA-2009

Por: Professor Joceny Possas Cascaes - Mestre em Educação.

A Proposta Curricular de Santa Catarina faz a opção pela concepção histórico-cultural de aprendizagem, também chamada sócio-histórica ou ‘sócio-interacionista’.
. Preocupação: como as interações sociais agem na formação das funções psicológicas superiores.
. Não são biológicas. É um processo histórico e social.
“As escolas (assim como outras instituições educacionais, de caráter informal) representam o melhor “laboratório cultural” disponível para o estudo do pensamento: são cenários sociais especialmente desenhados para modificar o pensamento. A forma distintiva de cooperação entre a criança, o estudante e o adulto é que constitui o elemento central do processo educacional. Por intermédio desse processo interativo, o conhecimento é transferido para a criança como um sistema definido”. (Vygotsky, 1996).
. Ser capaz de acompanhar as atividades escolares deixa de ser visto como uma determinação da natureza, e passa a ser visto como uma determinação social.
. O professor é mediador entre o conhecimento historicamente acumulado.
. Deve saber para poder trocar experiências de aprendizagens.
. O aluno precisa da ajuda do outro, para que possa fazer sozinho.
“Os homens fazem sua própria história, mas não a fazem como querem: não a fazem sob circunstâncias de sua escolha e sim sob aquelas com as quais se defrontam diretamente, legadas e transmitidas pelo passado. A tradição de todas as gerações mortas oprime como um pesadelo o cérebro dos vivos” (MARX, 1978).
Escola – Instituição milenar inserida num contexto. Seu fazer está relacionado com o fazer sócio-político-econômico.
Há tendências de mudança: escola útil e importante para a comunidade.
Deve contribuir para a transformação da realidade social.
A prática docente e administrativa precisa se comprometer com as classes menos favorecidas.
“E talvez o mais importante: como se podem avaliar as vivências profundas do prazer de estar aprendendo, ou nem se quer nos interessamos por saber que é isso? Atribui-se a Freud a frase de que uma só coisa é comparável ao orgasmo, e é o prazer de estar pensando. Recordemos, uma vez mais: vida e aprendência são no fundo a mesma coisa. Quantas vidas humanas são des-vividas na escola?” (ASSMANN, 1998).
A escola atual ainda tenta moldar o indivíduo. Continua, em parte, servindo a classe dominante.
É assistencialista e excludente.
Há pouca preocupação com as diferentes classes sociais.
As ações, em geral, são definidas de cima para baixo e, na maioria das vezes, não coletivamente.
Cada um deve assumir seus projetos e operacionalizar as decisões tomadas.
Que tipo de aluno-cidadão/mulher e homem a sociedade necessita?
CONCEPÇÃO DE SER HUMANO:
Um ser humano cidadão, construtor de seus direitos, ativo, participante da vida política, econômica e social de seu país;
Um ser humano capaz de interagir com o meio físico e social, na construção de uma outra sociedade; (status quo).
Um ser humano incluso, fraterno, solidário, feliz;
Um ser humano que acredite na possibilidade de mudar o mundo,
“porque mudar o mundo é tão difícil quanto possível. É a relação entre a dificuldade e a possibilidade de mudar o mundo que coloca a questão da importância do papel da consciência na história, a questão da decisão, da opção, a questão da ética e da educação e de seus limites.”
(Freire,2000).
O construtivismo diz que a aquisição de conhecimento é um processo elaborado pelo próprio indivíduo. O papel da escola é a formação humana e não apenas a transmissão do conhecimento. O conhecimento é uma das bases mais sólidas da escola.
“A cada novo dia passamos a conhecer melhor o universo como um todo e, especialmente, o universo social que nos circunda. De maneira galopante, nos últimos tempos, a informação e, conseqüentemente, o conhecimento ganharam proporções gigantescas. Seja como for, dificilmente existe hoje uma disciplina escolar onde o conhecimento básico não aumenta a taxas essencialmente geométricas. Por estimativas conservadoras, o montante de informação disponível duplica de poucos em poucos anos; ouvi recentemente uma afirmação no sentido de que a soma de informação no mundo dobra a cada 80 dias! E mesmo que esses números sejam em grande parte desprovidos de significado (no fim das contas, a desinformação conta como informação? O que é que, de qualquer modo, conta como informação?), a realidade que eles tentam quantificar torna mais difícil determinar que “verdade” merece ser estudada e o que merece ser conhecido.” . (GARDNER, 1999).
A escola precisa corresponder com uma prática humanitária para cumprir sua função. Sem isto perde sua identidade. A função social da escola está em, primeiro lugar, oferecer condições de acesso e permanência no processo educativo. Em segundo lugar, que este acesso e permanência seja de qualidade; que promova verdadeiramente a formação de sujeitos éticos, legítimos e respeitados na sua diversidade. Apesar de sua evolução técnica e científica, há tendência para esquecer os fundamentos básicos do que é viver, essencialmente do viver em sociedade, que exige o respeito ao diferente, a solicitude pelo bem comum e o compartilhar dos valores fundamentais, necessários nas relações humanas.
“A escola herdeira autêntica da tradição visual-auditiva, funcional de tal maneira que, para assistir às aulas, bastaria que as crianças tivessem seu par de olhos, seus ouvidos e suas mãos, ficando excluídos, para sua comodidade, os demais sentidos e o resto do corpo. Se ela pudesse fazer cumprir uma ordem desse tipo, a escola pediria às crianças que viessem à aula somente com seus olhos e ouvidos, talvez acompanhados pela mão na atitude de agarrar um lápis, deixando o resto do corpo bem guardado em casa”. (ASSMANN, 1998).
O ambiente escolar é um espaço para o que CORTELLA, 2000 chamou de uma paixão irrecusável. “gente foi feita para ser feliz”.
“Quanto aos que, segundo o costume, encarregados de instruir vários espíritos naturalmente diferentes uns dos outros pela inteligência e pelo temperamento, a todos ministram igual lição e disciplina, não é de estranhar que dificilmente encontrem em uma multidão de crianças somente duas ou três que tirem do ensino o devido fruto. Que não lhe peça conta apenas das palavras da lição, mas também do seu sentido e substância, julgando do proveito, não pelo testemunho da memória e sim pelo da vida.” (MONTAIGNE, 2000, p. 151)
“... os docentes vão construindo a escola possível, nem sempre a escola sonhada.” (Arroyo, 2000).


02. ARTIGO - ÉTICA: uma construção histórico-antropo-social.
Resumo:
A existência humana (trans)forma, como fenômeno natural, o contexto planetário de maneira irreversível, dinâmica inserindo nele valores e conceitos. Para garantir a continuidade deste processo e da existência do homem e de seu entorno surge a ética, como determinante de conduta. A análise histórica deste processo permite dizer que nunca se esgotará a possibilidade e a necessidade de se (re)construir social e antropologicamente o conceito de ética e sua aplicabilidade ao viver humano e aos diferentes contextos planetários. Será a ética, o instrumento de defesa incondicional da vida sob qualquer forma de manifestação.
Palavras-chave: existência humana, contexto planetário, ética, vida.

Introdução
O homem tem sido objeto de estudo do próprio homem e certamente o será por muito tempo. Nenhum conhecimento terá sentido se não contemplar a humanidade seja direta ou indiretamente. Assim falar de uma realidade implica em conhecimentos que norteiam o planetário, o complexo e o diverso em (trans)formação permanente. Nesta perspectiva não se pode omitir a presença do ser humano enquanto agente, ator e principalmente autor de um amplo fazer que implica em ação-reflexão-ação pautada por um processo de inserção e construção de valores.
Em se tratando de valores, historicamente tem se mencionado a ética como instrumento de construção de relações harmônicas de convivência, implicando em ações solidárias em favor de um contexto planetário de respeito e partilha. A efetivação desta prática requer compromisso, uma vez que não se age sem antes acreditar e sentir-se desafiado(a). A forma de se acreditar e de superar os desafios para comprometer-se, demanda um comprometimento, por sua vez com valores que garantam uma defesa incondicional da vida em todas as suas formas de expressão.
A discussão ora proposta busca identificar a presença de valores no contexto da análise da própria condição humana. Discutir o contexto planetário requer necessariamente uma discussão antropo-socio-planetário, considerando-se o ser humano como ente e a sociedade como fruto de sua presença e das relações estabelecidas entre os entes e o planetário como nicho da ação.
A ética apresenta-se como valor capaz de garantir à discussão, as condições necessárias para que possa apresentar sensatez e credibilidade. Não cumprirá o papel de conciliadora de conflitos, mas de estímulo para uma (re)construção efetiva de um contexto dotado de incertezas, variantes, variáveis e diferentes.
1. Uma breve discussão
A ética é um valor inerente a toda ação humana e portanto, dotada de nuance essencialmente humanos. Não se pode imaginar uma construção ética sem a presença essencial do homem. O ser humano por sua vez é sujeito do coletivo, por esta razão, a ética é um elemento vital na produção da realidade social. Como nenhum contexto social sobrevive por si só mas num contexto maior, o planeta e sua complexidade a ética é também um valor planetário.
Considerando-se que não é possível tratar de planeta sem antes abordar o ser humano, há que se iniciar a discussão pelo ser humano. Vale dizer que todo homem possui um senso ético, uma espécie de "consciência moral", estando constantemente avaliando e julgando suas ações para saber se são boas ou más, certas ou erradas, justas ou injustas, verdadeiras ou falsas. Não que a ética seja a inquisidora e detentora de um poder maniqueísta capaz de promover uma espécie de lamarkismo valoral. Trata-se de um artífice sensibilizador em favor de um novo, incerto e diferente do que se tem, sem no entanto pré-julgar.
Numa discussão moral é comum identificar comportamentos humanos classificáveis sob a ótica do certo e errado, do bem e do mal. São padrões estabelecidos por um determinado contexto sob um certo movimento que permite estabelecer um equilíbrio convencionado. Embora relacionadas com o agir individual, essas classificações sempre têm relação com as matrizes culturais que prevalecem em determinadas sociedades e contextos históricos. Esta construção deriva do fato de que nada nem ninguém é simplesmente formado, mas (trans)formado permanentemente de forma política, negociada e num estágio mais complexo da própria complexidade humana articulada e construída de forma temporária, sempre sujeita à (re)construção.
2. A gênese do pensamento ético
Ações éticas não são apenas justas diante das convenções humanas estabelecidas, mas coerentes diante do propósito maior, a sobrevivência planetária. A ética está relacionada à opção, ao desejo de realizar a vida, mantendo com os outros, relações justas e aceitáveis, porém adeptas do conflito, da discussão permanente e critica impessoal. Via de regra está fundamentada nas idéias de bem e virtude, enquanto valores perseguidos por todo ser humano e cujo alcance se traduz numa existência plena e feliz. Considerando-se a felicidade como status quo desejado por todo o ser humano não se pode desejar outra coisa senão a felicidade de todos os seres humanos, enquanto co-partícipes da construção de cada sujeito. Em outras palavras serei feliz pela felicidade do outro, principio já defendido por Platão há vários séculos.
Os primórdios do que hoje conhecemos por ética remonta do povo hebreu, do qual já se relatam em textos como a bíblia que as crianças eram preparado de acordo com uma certa moralidade. “Filho meu, ouve o ensino de teu pai, e não deixeis a instrução de tua mãe” (Provérbios, 1:8). A ética hebraica era fundada nas tradições históricas libertadoras a partir da saída do Egito.
O estudo da ética iniciou-se com os filósofos gregos há 25 séculos atrás. Para os sofistas, por exemplo, era preciso entender o ser humano. Para consolidar seu pensamento criaram as bases do pensamento político e jurídico, explorando a arte do convencimento e da retórica.
Sócrates, nascido em 470 a. C. em Atenas o saber sobre o homem deveria ser universal, moral e prático. Sua ética era racionalista propondo definições de bem, bom determinando a virtude como conhecimento e o vicio como ignorância. Platão nascido em Atenas em 427 a. C. e discípulo de Sócrates definiu a ética como um amplo conjunto de virtudes políticas que deveriam ser observadas para alcançar a felicidade. Dentre as virtudes estão a justiça, a prudência, a fortaleza e a temperança. Tratava essencialmente dos valores estabelecidos entre as relações antropo-sociais.
Aristóteles (384-322 a. C.) discípulo de Platão utilizava-se de maior praticidade se comparado a seu mestre. Buscava no dialogo com os cidadãos a construção de seus conceitos. Propunha que a felicidade só poderia ser alcançada pela observância da ética. Acreditava que a ética estava ligada a política pois a felicidade se encontrava no mundo ideal do polis e por isso somente o cidadão poderia ser feliz e não o escravo.
Com o desintegração generalizada da filosofia grega e o sucessivo domínio romano surgem novas tendências dentre as quais o estoicismo e o epicurismo. Uma das características do estoicismos é a divisão da filosofia em lógica, física e ética. O epicurismo busca subordinar a investigação filosófica à exigência de garantir tranqüilidade ao espírito humano.
3. A ética cristã ocidental
O surgimento do Cristianismo estendeu e aprofundou o conceito de homem e de historia, fazendo com que o homem se sentisse parte da criação. Jesus contestou a aristocracia teocrática proclamando uma teoria radical. Jesus questionava os que falavam em nome de Deus e por conseguinte foi violentamente contestado levando-o a morte. A conversão ao cristianismo implicava em um luta em favor da libertação e da intervenção em favor de estruturas injustas e opressoras.
A gênese da ética de Jesus era a libertação dos cativo e dos marginalizados em favor de um Reino de Deus universalmente acessível. Porem com Constantino (324 d.C.) houve um imbricamento da vertente bíblica com a filosofia grega, propondo em outras palavras a fusão entre Estado e Igreja. DREHER (1982, p. 82) afirma que “criou-se a Igreja que estava aí para justificar as ações do governante”.
Pouco tempo depois a Igreja Cristã conhece Agostinho, o qual teve contribuições decisivas em relação a cultura geral e particularmente em relação à Igreja Latina. Dotado de uma doutrina maniqueísta defendia uma cosmovisão dualista (luz e trevas, bem e mal). Fundamentou seu ética na ascese (renúncia) pois quando aceitou o batismo cristão renunciou ao universo material optando pela lógica cristão.
A postura de Agostinho, em se opor ao que propôs Constantino fez com que a Igreja funda-se sua ética na defesa dos interesses dos mais pobres, oprimidos e marginalizados. Afirma-se que o cristianismo des-historicizou-se ocupando-se apenas do campo espiritual. De acordo com TOURAINE (1995, p.43) “num contexto histórico tão diverso, o agostinismo teve um papel decisivo na construção do conhecimento de Descartes, as teorias do direito natural e o pensamento de Kant”.
Pela concepção de Agostinho a salvação só seria possível pela ascese, ou seja não importavam as questões sociais ou comunitárias. A ética cristã foi transferida para questões morais onde o potencial de ação ética está na capacidade de proibir e não de agir motivado(a) por alguma razão histórica. Não se questionam as ações dominantes pois o ser humano se salva por si e não por sua caridade. Esta se limitava a uma catequese moral. Foi este pensamento que dominou a ciência da modernidade.
A educação mergulhou num tempo nebuloso em que o estado fez uso de dogmas para impor suas vontades. O culto tomou o lugar do conhecimento. Imputou-se uma disciplina rigorosa vigiada pela ameaça do pecado, da punição em favor de uma vida superior. de acordo com MARQUES (1993, p. 29)
“A Filosofia, a cultura do espírito e os saberes codificados se refugiavam nos mosteiros – um mundo de livros, afastados do mundo da vida, onde a cultura popular dos iletrados preservava os velhos costumes, símbolos e rituais, em reação de defesa e na afirmação das identidades típicas de cada região”.
Esta clausura do conhecimento foi rompido com Carlos Magno (771-814) que buscou resgatar o conhecimento iniciando um processo de ‘libertação’ dos saberes já acumulados. Foi este rompimento que iniciou o processo de constituição das cruzadas. As cruzadas não representa nenhum movimento ético em favor da vida, uma vez que a morte se fez presente ao longo de toda sua existência. Apesar dos males provocados pelas cruzadas é válido dize que graças a elas foi possível um intercambio com as culturas orientais, ou pelo menos reconhecer que elas existem.
Ao final do primeiro milênio e inicio do segundo a construção de saberes não poderia mais se limitar aos mosteiros e sua disciminação necessita de uma estrutura adequada. Surgem então as universidades. Oficialmente a primeira foi a de Bolonha, na Itália em 1088 que iniciou com o curso de direito. Há registros que afirmam que no século X havia surgido a escola de medicina de Salermo. Para se contrapor a iniciativa do Estado surge na França a Universidade de Paris (entre 1150 e 1170).
Pode-se dizer que houve uma cristianização de Platão de Aristóteles. Transformou o amor ao próximo, centro da ética de Jesus, em preceito moral e estimulo a caridade. Os ricos não necessitam renunciar mais a riqueza, mas serem caridosos para que pudessem se salvar. Assumiam assim uma postura paternalista e bondosa. A igreja passa assim a sustentar o sistema feudal.
Este é o período do surgimento da escolástica. Com as cruzadas o ocidente tomou conhecimento do oriente e se percebeu que o oriente era dententor de um conhecimento diferenciado. A epistemologia agostiniana-neoplatônica que afirma que o homem participa do pensamento divino e o intelecto seria capaz de construir sua própria percepção, se de lugar a uma epistemologia Aristotélica capaz de afirmar que o conhecimento chega ao homem pelas experiências dos sentidos. O conhecimento chega ao homem por um contexto material. Antropologicamente afirma-se que o homem detém o poder e capacidade de decidir a ordem das coisas. É nítida expressão medieval do antropocentrismo. Eticamente o grande valor não é a vida, mas o homem.
Pouco tempo depois a humanidade vê surgir a figura de Francisco de Assis (Giovanni Bernardone) o qual após se converter dedica sua vida a intervenção social em favor dos pobre e esquecidos pelo Estado. GONZÁLES (1981, p.114) afirma que
“Ele e seus seguidores iam precisamente em busca das ovelhas perdidas. Sua ação não estava restrita a mosteiro afastado dos movimentos do mundo, mas se espelhava pelas cidades cuja a população aumentava rapidamente, entre os enfermos, os pobres e os desprezados”.
A doutrina franciscana foi incorporada a doutrina cristã com a canonização de Francisco de Assis em 1228. Foram teóricos franciscanos que por primeiro denunciaram os abusos financeiros do papado.
Tomás de Aquino surge aprofundando o antropocentrismo afirmando que tudo fora criado para servir o homem o qual segundo ele é fruto da unidade entre corpo e alma. Aceitava o fato da existência da duas porém inter-relacionadas. Neste sentido BOEHNER (1988, p. 468) afirma que
“Mas também a alma,diz Aquino, é um ser incompleto; seu grau de autonomia é demasiadamente imperfeito para poder expandir independentemente do corpo; e, uma vez separada deste, só torna a atingir sua perfeição natural após sua reunião com um corpo, o que lhe permite exercer suas atividades por meio de órgãos corporais”.
Este dilema em relação a unidade ou não de corpo e alma é algo questionável e gerou um conflito de idéias que ainda perdura hoje no ocidente. A ética tomista deriva de Aristóteles para quem a justiça, a felicidade e a verdade decorrem da contemplação. Sua ética prestou-se a justificar ideologicamente as profundas desigualdades sociais como se fossem derivadas de Deus e não do desrespeito a valores.
4. A ética na Igreja Medieval Inquisidora e as Reformas
Paralelo a este movimento teórico, Igreja Católica radicaliza sua ação repressora sobre os que com ela se confrontam. Surge o Tribunal da Inquisição, responsável pelo ‘controle’ dos conflitos gerados pela discussão e questionamento das ações da Igreja. Este Tribunal da Igreja Católica instituído no século XIII foi responsável pela perseguiçaõ, julgamento e punição os acusados de heresia – doutrinas ou práticas contrárias às definidas pela Igreja. A Santa Inquisição é fundada pelo papa Gregório IX (1170?-1241) em sua bula (carta pontifícia) Excommunicamus, publicada em 1231. No século IV, quando o cristianismo se torna a religião oficial do Império Romano, os heréticos passam a ser perseguidos como inimigos do Estado.
Na Europa, entre os séculos XI e XV, o desenvolvimento cultural e as reflexões filosóficas e teológicas da época produzem conhecimentos que contradizem a concepção de mundo defendida até então pelo poder eclesiástico. Paralelamente surgem movimentos cristãos, que pregam a volta do cristianismo às origens, desvinculando o poder teológico do aristocrático. Grupos dentro da Igreja defendem a necessidade de a Igreja abandonar suas riquezas. Em resposta a essas heresias, milhares de pessoas são liquidados entre 1208 e 1229. Dois anos depois é criada a Inquisição para defender esta íntima relação entre Estado e Igreja, que transcendia aos valores morais e éticos, geralmente embasados nos valores econômicos e grupais.
A responsabilidade pelo cumprimento da doutrina religiosa passa dos bispos aos inquisidores – em geral franciscanos e dominicanos –, sob o controle do papa. As punições variam desde a obrigação de fazer uma retratação pública ou uma peregrinação a um santuário até o confisco de bens e a prisão em cadeia. A pena mais severa é a prisão perpétua, convertida pelas autoridades civis em execução na fogueira ou forca em praça pública. Em geral, duas testemunhas constituem prova suficiente de culpa. Em 1252, o papa Inocêncio IV aprova o uso da tortura como método para obter confissão de suspeitos. A condenação para os culpados é lida numa cerimônia pública no fim do processo, no chamado auto-de-fé. O poder arbitrário da Inquisição volta-se também contra suspeitos de bruxaria e todo e qualquer grupo hostil aos interesses do papado.
Nos séculos XIV e XV, os tribunais da Inquisição diminuem suas atividades e são recriados sob forma de uma Congregação da Inquisição, mais conhecida como Santo Ofício. Passam a combater os movimentos da Reforma Protestante e as heresias filosóficas e científicas saídas do Renascimento. Vítimas notórias da Inquisição nesse período são a heroína francesa Joana D''Arcjump executada por se declarar mensageira de Deus e usar roupas masculinas, e o italiano Giordano Bruno (1548-1600), considerado pai da filosofia moderna, condenado por concepções intelectuais contrárias às aceitas pela Igreja. Bruno que estudara Copérnico, ao sair do mosteiro propôs uma visão de mundo infinito. Foi levado a fogueira em 16 de fevereiro de 1600. Segundo REICH (1983, p. 122-3)
“Permitir que a descoberta de Deus e seu Reino se tornasse uma realidade prática, deixar que os homens tomassem posse, com seus espíritos, seus corações e seu modo de vida, das coisas que a Igreja transformou em mistérios e colocou fora dos limites do acessível, teria mergulhado o mundo num desastre. Este é o destino trágico de todo o conhecimento que aparece no momento errado em um mundo mal preparado para recebe-lo. Por isso Bruno, o Nolano, teve que morrer”.
Processado pela Inquisição, o astrônomo italiano Galileu Galilei prefere negar publicamente a Teoria Heliocêntrica desenvolvida por Nicolau Copérnico e trocar a pena de morte pela de prisão perpétua. Após nova investigação iniciada em 1979, o papa João Paulo II reconhece, em 1992, o erro da Igreja no caso de Galileu.
O fim da Idade Média é marcado pelo movimento renascentista e pelas reformas propostas por importantes integrantes da Igreja Católica Apostólica Romana. O Renascimento atingiu todos os segmentos da sociedade da época. Para se ter uma idéia surgem leis que passam a defender as causas dos pobres e marginalizados, transferindo a ética paternalista, até então atribuída aos ricos, ao Estado.
A Reforma surge quando os camponeses europeus inquietos ameaçavam o controle estatal; o comércio exterior se intensifica; a industria se desenvolve; ocorrem grandes invenções; cidades surgem e crescem a ritmos nunca vistos. O mais expressivo de todo o avanço foram as grandes navegações, expandindo os domínios civilizados além dos mares europeus. O feudalismo é substituído pelo capitalismo mercantilista. Segundo EBY (1976, p.01) com a Reforma “Nenhum aspecto da vida humana ficou intato, pois abrangeu transformações políticas, econômicas, religiosas, morais, filosóficas, literárias e nas instituições, de caráter definitivo; foi, de fato, uma revolta e uma construção do Norte”.
O grande precursor da Reforma foi Martim Lutero, nascido em 10 de novembro de 1483, me Eisleben, na Alemanha. Tornou-se monge agostiniano e em visita a Roma em 1510 escandaliza-se com o luxo, a ostentação e a degeneração teológica da Igreja. Em 31 de outubro de 1517, publicou as 95 Teses. Confronta-se também com o Sacro Império Romano-Germânico Martinho Lutero que defende a fé como forma de salvação do indivíduo é excomungado em 1520. Com o apoio da nobreza, as idéias de Lutero difundem-se rapidamente. Elas substituem o poder eclesiástico pelo do Estado, simplificam a liturgia, revogam o celibato clerical e acabam com o culto às imagens.
A igreja Luterana é a igreja sem a presença do clero santo e sacramental. Era a igreja da leitura e da cultura cristã universalizada. Todos deveriam ter acesso as escrituras sagradas. Nas vilas e cidades alemãs foram construídas cidades para a formação do povo. Para a educação Lutero contribuiu introduzindo o lúdico na formação dos pequenos e acima de tudo amarrou teorias a práticas incentivando a leitura.
Lutero se opôs radicalmente à ética paternalista e criticou o sistema de mendicância espalhado por toda a Europa. Exigiu do Estado especial atenção aos pobres e à sua formação. Era contrário ao acumulo de bens e patrimônios e defendia uma nova ética. Ao ser indagado sobre a quinta petição do Pai Nosso ‘O pão nosso de cada dia nos dá hoje’ LUTERO (1983, p. 374) afirma que o pão de cada dia é
“Tudo o que pertence ao sustento e às necessidades da vida, como: comida babida, vestes, calçado, casa, lar, campos, gado, dinheiro, bens, consorte piedosa, filhos piedosos, empregados bons, superiores piedosos e fiéis, bom governo, bom tempo, paz, saúde, disciplina, honra, leais amigos, vizinhos fiéis e coisas semelhantes”.
Nota-se em Lutero uma preocupação constante com o resgate de características genuinamente sociais e humanas da doutrina cristã, já pregadas por Cristo e que ao longo dos séculos foram sofrendo a intervenção de muitas outras teorias. Foi um período conturbado para as tradições da Igreja, mas não do cristianismo, pois sua grande marca foi justamente o resgate deste.
Além da Reforma de Lutero outras ocorreram na Europa, outras reformas no seio da Igreja Católica como a Reforma Anglicana e a Reforma Calvinista. A Reforma Anglicana é promulgada em 1534 pelo rei Henrique VIII, da Inglaterra. O pretexto é a recusa do papa ao pedido de anulação de seu casamento com Catarina de Aragão, para que possa desposar Ana Bolena. Na verdade há o interesse da Monarquia inglesa em submeter a Igreja e tornar o rei a autoridade suprema. A reforma anglicana consolida-se em 1558, sob o reinado de Elizabeth I. Por esta razão foi pouco difusa em relação a outros contextos, uma vez que tratava de uma questão restrita ao Império Britânico. Não se pode dizer que houve uma postura ética na gênese desta reforma, ao contrário houve a construção de uma moral local que não se difundiu por não contemplar interesses universais como ocorreu com Lutero.
Já a Reforma Calvinista começa em 1534, na França, com as pregações de João Calvino. Mais radical que Lutero, Calvino defende a tese de o homem nascer predestinado à salvação ou à condenação. Considera-o livre de todas as proibições não explicitadas nas Escrituras, o que torna as práticas do capitalismo lícitas, em especial a usura, condenada pela Igreja Católica. O homem deve buscar o lucro por meio do trabalho e de uma vida regrada – também formas de louvar a Deus. Esta teoria está implícita em muitas teorias como o próprio neoliberalismo embora não seja assumida como doutrina teológica. Vale dizer que esta moral tem servido de suporte a uma série de posturas ao longo de muitos anos e vem sendo usada como instrumento de argumentação em favor de interesses estritamente setoriais.
5. Conhecimento, educação e ética na modernidade e pós-modernidade
O inicio da Idade Moderna se dá com o surgimento do realismo humanista, o qual pregava o domínio da vida e do conhecimento natural e social através do estudo lingüístico da vida dos antigos. Pregava também a profissionalização das pessoas pela difusão dos saberes. Num terceiro momento privilegiou-se a educação sensorial, onde todo o saber seria acessado pelos sentidos. Surgem métodos e práticas pré-determinadas para coleta de informação, testes de comprovação.
Francis Bacon (1561-1626) foi um dos maiores expoentes deste período, considerado o pai do método cientifico. Se fundamenta nos fenômenos naturais e físicos ignorando a metafísica e suas bases filosóficas. Era a gênese do método indutivo, construindo axiomas particulares estendendo-os aos mais gerais. Disto surge o que chamamos de empirismo moderno, corrente filosófica que vincula a teoria ao aprendizado pela experiência.
Pode-se dizer que Bacon, como pensador, é pioneiro ao traçar o primeiro esboço racional de uma metodologia científica. Escreve, entre outras obras, Novum Organum – Novo Método (1620) e De Dignitate et Augmentis Scientiarum – Sobre a Dignificação e o Progresso das Ciências (1623). Seus Ensaios, produzidos em 1597, 1612 e 1625, servem de modelo para a moderna prosa inglesa.
Em se tratando de educação o expoente máximo do período foi Johan Amos Comênio (1592-1670). Sua esperança se depositava integralmente na educação e propunha que tudo deveria ser ensinado a todos. Pedro Goergen ao prefaciar a obra de KULESZA (1992, p.13) afirma que
“O projeto de Comenius é regenerar o homem através da educação. Toda esperança de um mundo melhor, dizia, está baseada unicamente na educação da juventude. Ao referir-se à juventude sempre tem em mente todos os jovens e não, como sempre ocorrera em épocas anteriores, os filhos das camadas privilegiadas da sociedade. Fossem ricos ou pobres, dotados ou não, do sexo masculino ou feminino, o saber deveria ser acessível a todos... Tudo o que fosse possível se ensinado, deveria ser ensinado a todos, num processo educativo que duraria a vida toda”.
Sua visão de contemporaneidade fez com que seu projeto fosse adotado pela educação do período da Revolução Industrial. Sua ética era a de um ser humano com um todo e nenhum de seus pares poderia ser descriminado por qualquer motivo. A educação seria a grande responsável pela por garantir as reformas sociais necessárias àquele tempo.
O projeto filosófico de Comênio foi suprimido pelas teorias de René Descartes (1596-1650). Apesar de tratarem de métodos e metodologias cientificas Comênio e Descartes se diferenciam muito em vários aspectos. Para Comênio a ciência é uma forma de aproximar o homem a Deus enquanto que para Descartes a ciência é exclusivamente humana negando as Sagradas Escrituras. Para ele não há como unir fé e ciência. Neste período Isaac Newton (1642-1727) laçou ao mundo teorias geniais como o cálculo diferencial, a lei da composição da luz, a lei da gravitação universal e tantas outras que abriram as portas do iluminismo.
Descartes foi e ainda é o filósofo que mais influenciou e ainda influencia o pensamento ocidental. Para os cartesianos o objeto só ganhava existência a partir do sujeito, pois a existência se dava a partir do pensamento: “Cogito, ergo sum”. O sujeito torna-se ponto de partida para todo o conhecimento.
Para Descartes, nem os sentidos, que podem enganar-nos, nem as idéias, que são confusas, podem nos dar certezas e, portanto, nos conduzir ao entendimento da realidade. Por isso, com a finalidade de estabelecer um método de pensamento que permita chegar à verdade, desenvolve um sistema de raciocínio que se baseia na dúvida metódica e não pressupõe certezas e verdades, como era tradição entre os pensadores que o antecederam. O método cartesiano põe em dúvida tanto o mundo das coisas sensíveis quanto o das inteligíveis, ou seja, o que pode ser apreendido por meio das sensações ou do conhecimento intelectual.
A razão seria a única coisa verdadeira da qual se deve partir para alcançar o conhecimento. Eu sou uma coisa que pensa, e só do meu pensamento posso ter certeza ou intuição imediata. Para reconhecer algo como verdadeiro, ele considera necessário usar a razão como filtro e decompor esse algo em partes isoladas, em idéias claras e distintas. Para garantir que a razão não se deixe enganar pela realidade, tomando como evidência o que de fato pode não passar de um erro de pensamento ou ilusão dos sentidos, Descartes formula sua segunda certeza: a existência de Deus. Entre outras provas, usa a idéia de Deus como o ser perfeito. A noção de perfeição não poderia nascer de um ser imperfeito como o homem, mas de outro ser perfeito, argumenta. Logo, se um ser é perfeito, deve ter a perfeição da existência. Caso contrário, lhe faltaria algo para ser perfeito. Portanto, Deus existe.
O método cartesiano revoluciona todos os campos do pensamento de sua época, possibilitando o desenvolvimento da ciência moderna e abrindo caminho para o homem dominar a natureza. A realidade das idéias claras e distintas, que Descartes apresenta a partir do método da dúvida e da evidência, transforma o mundo em algo que pode ser quantificado. Com isso, a ciência, que até então se baseava em qualidades obscuras e duvidosas, a partir do início do século XVII torna-se matemática, capaz de reduzir o Universo a coisas e mecanismos mensuráveis, que a geometria pode explicar.
A ética cartesiana baseava-se no individualismo do sujeito o qual é o centro de tudo e de todo o saber. Neste sentido DESCARTES (1996, p. 29) afirma que
“Consistia a primeira em obedecer às leis e aos costumes do meu país, conservando sempre a religião em que Deus me fez a graça de ser instruído desde a infância e orientando-me em tudo o mais pelas opiniões mais moderadas e que mais se afastassem do excesso, geralmente aceitas na prática, pelos mais sensatos entre os quais eu deveria viver”.
Nota-se uma obediência e aceitação à realidade em que a verdade está entre os melhor situados e os demais devem se adequar a ela. Dada a necessidade de se formar sujeitos capazes de compreender e transformar as coisas o sujeito precisa compreender lógica, matemática e ciência naturais, sendo os outros conceitos e áreas do saber de pouca importância. A ciência assume um caráter utilitarista.
John Locke filósofo inglês (1632-1704) deu um importante passo rumo a afirmação de um individuo racional. Filósofo do empirismo, que vê a experiência como fonte do conhecimento, para isso, aprofundando o entendimento das obras de Francis Bacon e René Descartes. Postula que a experiência, fonte do conhecimento, pode ter tanto origem externa, nas sensações, quanto interna, na reflexão. No plano ético-moral, prega a conformidade com a norma, como forma de adquirir a virtude Sua principal obra é Ensaio sobre o Entendimento Humano, de 1690, que influencia os filósofos George Berkeley e David Hume. Seu antropocentrismo fez o homem crer que seria ilimitado e que poderia dominar a natureza de forma definitiva e total.
Em educação destacam-se os pensamentos e teorias de Rousseau (1712-1778) o qual não aceitava o simples instrucionismo escolar, mas um contato direto com a natureza para efetiva construção do conhecimento. Rousseau afirmava que a educação deveria ser construída na adolescência para que o sujeito possa ter contado com os conceitos mais complexos. Para Rousseau o processo educativo não só faz parte integral da reforma social, mas é a condição anterior e necessária para essa reforma...exige a instauração de uma ordem social radicalmente nova, porém, esta nova ordem deve basear-se na natureza.
Pestalozzi (1746-1826) por sua vez, deu a educação um caráter orgânico, procurando harmonizar a natureza, a moralidade, o físico e a intelectualidade da criança. Com esta postura acreditava que a o sujeito seria capaz de discernir o bem e o mal, o certo e o errado. Pestalozzi, lembra que a criança é dotada de todas as faculdades da natureza humana, mas nenhuma dessas faculdades se encontra desenvolvida, pois cada uma é como um botão que ainda não desabrochou.
Kant (1724-1804) pregou a necessidade de o sujeito ser livre e autônomo capaz, de decidir individualmente sobre sua moralidade e sua intelectualidade. O homem deve construir o próprio homem. Kant procura de uma vez colocar limites ao âmbito da razão pura ou especulativa e libertar a razão prática, pois não aceita que as Ciências Naturais determinem e, portanto, dirijam as ações humanas.
Um marco importante que sucedeu este movimento foi a surgimento do Positivismo de Auguste Comte (1798-1857). O termo identifica a filosofia que busca seus fundamentos na ciência e na organização técnica e industrial da sociedade moderna. O método científico é o único válido para se chegar ao conhecimento. Reflexões ou juízos que não podem ser comprovados pelo método científico, como os postulados da metafísica, não levam ao conhecimento e não têm valor.
Entre suas formulações principais, está a que considera que as sociedades humanas passam por três estágios de evolução histórica. O primeiro é o teológico, no qual os fenômenos são apresentados como sendo produzidos pela ação de seres sobrenaturais que interferem arbitrariamente no mundo. O segundo é o metafísico, no qual os fenômenos são engendrados por forças abstratas.
O último estágio é o positivo, em que o ser humano desiste de procurar as causas íntimas dos fenômenos para, através da observação e do método científico, estabelecer as leis gerais que os regem. O estado positivo, portanto, corresponde à maturidade do espírito humano que não é mais enganado por explicações vagas, uma vez que pode alcançar o real, o certo e o preciso.
Em relação ao Positivismo GILES (1987, p. 241) afirma que
“o cientista dedica-se à pesquisa pura, teórica, sente-se eximido de qualquer responsabilidade pelo uso que dela se faz... O método cientifico visa tão-somente a objetividade indutiva: seu objeto são os fatos e estes são neutros em termos de valores, inclusive os religiosos”.
A industrialização e as novas tecnologias, trouxeram uma crescente instrumentalização da vida moderna, além de uma explosão de riquezas, dinheiro, bens capitais e conforto. Paralelo a isso e nas mesma proporções se tem percebido uma estratificação social que privilegia o acesso a tudo isso de forma sutil, porém cruel em seus resultados. Fome, miséria, doenças e o aniquilamento moral de milhares de pessoas faz pensar na ética que vivemos. As catástrofes ambientais e o crescimento de movimentos terroristas crescem a medida que a estratificação social e taxonomização de seres humanos se acentua.
Outro aspecto importante é que estas posturas nascidas no ocidente não são simplesmente aceitas no oriente. O choque de idéias e os antagonismos emergentes conduzem a humanidade ao incerto. O século XX passou por duas grandes guerras e um turbilhão de novas teoris. Para contrapor o positivismo o sistema capitalista dele derivado (pelo menos mantido em vigor por seus princípios) é amplamente questionado tendo por base os escritos de Marx. O mundo ainda não conheceu a essencial prática do regime marxistas. As ditaduras comunistas e socialistas surgidas não representam ainda esta essência.
Para Marx, a relação entre o homem, a natureza e o modo de produção pe o próprio fundamento de todo o processo educativo. Marx afirma que o processo educativo deve combinar o trabalho produtivo com a instrução. A finalidade desta síntese será não a de aumentar a produtividade, mas o único meio de levar a plena humanização do homem. Neste sentido MARX (2003, p. 183) afirma que “o homem como ser sensível objetivo, é um ser que sofre e porque sente o seu sofrimento, um ser impulsivo. A paixão e a emoção intensa são as faculdades do homem esforçando-se energicamente por conseguir o seu objeto”. (grifos do autor).
Hoje em dia, seu campo de atuação ultrapassa os limites da filosofia e inúmeros outros pesquisadores do conhecimento dedicam-se ao seu estudo. Sociólogos, psicólogos, biólogos e muitos outros profissionais desenvolvem trabalhos no campo da ética.
CONCLUSÃO
A ética não é algo superposto à conduta humana, pois todas as nossas atividades envolvem uma carga moral. Idéias sobre o bem e o mal, o certo e o errado, o permitido e o proibido definem a nossa realidade. No contexto de realidade estão outros valores diretamente determinados pela noção de moral e ética que construímos. A liberdade de cada cidadão dentro de uma sociedade dita organizada, é assistida por códigos e definições de conduta a serem cumpridos sob pena, inclusive da perda da liberdade. Sabe-se que códigos e leis são determinados por pessoas detentoras de convicções pessoais alimentadas por interesses oriundos de vontades e ambições nem sempre convencionais.
Em nossas relações cotidianas estamos sempre diante de problemas do tipo: Devo sempre dizer a verdade ou existem ocasiões em que posso mentir? Será que é correto tomar tal atitude? Devo ajudar um amigo em perigo, mesmo correndo risco de vida? Existe alguma ocasião em que seria correto atravessar um sinal de trânsito vermelho? Este tipo de questionamento denota que regras e códigos morais não determinam posturas éticas, mas formas de convívio que permitem organizar o espaço e as ações. Trata-se de se convencionar de forma genérica, o que é correto ou não. Há situações que não se enquadram nestas convenções e por conta disto recomenda-se a violação destes códigos.
Há situações em que as convenções determinam que os sujeitos não são um mas uma unidade corporativa, em que as ações são tomadas em nome de uma instituição. Nem sempre um sujeito se depara com situações em que sua pessoa pode agir de forma autônoma. Por exemplo: os soldados que matam numa guerra, podem ser moralmente condenados por seus crimes ou estão apenas cumprindo ordens? Eticamente a morte de um ser não se justifica, independente da origem ou motivo da ordem que a determinou. Mas moralmente é função do soldado defender sua praça, mesmo que o faça com a imposição da morte, seja ao adversário ou a si mesmo.
Essas perguntas nos colocam diante de problemas práticos, que aparecem nas relações reais, efetivas entre indivíduos. São problemas cujas soluções, via de regra, não envolvem apenas a pessoa que os propõe, mas também a outra ou outras pessoas que poderão sofrer as conseqüências das decisões e ações, conseqüências que poderão muitas vezes afetar uma comunidade inteira. Assim o grande desafio não está em conhecer regras e códigos de conduta, mas em agir em favor do que é ético.
Para tanto há que compreender que ele não é por si e em função de si. Há um contexto planetário que o envolve. O homem é um ser-no-mundo, que só realiza sua existência no encontro com outros homens, sendo que, todas as suas ações e decisões afetam as outras pessoas. Nesta convivência, nesta coexistência, naturalmente têm que existir regras que coordenem e harmonizem esta relação. Entenda-se coordenação e harmonia, como respeito e observância em relação àquilo que foi convencionalmente determinado.
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BOEHNER, Philoteu, GILSON, Etienne. A história da filosofia cristã. 4ª ed. Petrópolis: Vozes, 1988.

DESCARTES, René. Discurso sobre o método. Bauru: EDIPRO, 1996.

DREHER, Martin. A Igreja no Império Romano. São Leopoldo (RS): Faculdade de Teologia, 1983.

EBY, Frederick. História da educação moderna. 2ª ed. Porto Alegre: Globo, 1976.

GILES, Thomas Ranson. História da educação. São Paulo: EPU, 1987.

GONZÁLES, Justo L. A era dos altos ideais. São Paulo: Vida Nova, 1981.

KULESZA, Wojeich. Comenius: a persistência a utopia em educação. Campinas: UNICAMP, 1992.

LUTERO, Martinho. Os catecismos. Porto Alegre/São Leopoldo (RS): Concórdia/Sinodal, 1984.

MARQUES, Mario Osório. Conhecimento e modernidade em reconstrução. Ijuí (RS): Editora UNIJUÍ, 1993.

MARX, Karl. Manuscritos econômicos-filosóficos. Trad. Alex Marins. São Paulo: Martin Claret, 2003.

REICH, Wilhelm. O assassinato de Cristo. 2ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 1983.

TOURAINE, Alain. Critica da modernidade. 3ª ed. Petrópolis: Vozes, 1995.



03. Capítulo 5 - LIVRO DIDÁTICO:
FUNDAMENTOS ECONÔMICOS DA SOCIEDADE:
1. VISÃO GERAL SOBRE O PROCESSO DE PRODUÇÃO:
Quando vamos a um supermercado e compramos gêneros alimentícios, bebidas, calçados,
Material de limpeza
, eletrodomésticos, etc., estamos comprando bens. Da mesma forma, quando pagamos a passagem de ônibus ou uma consulta médica, estamos pagando um serviço.
Portanto, bens são todas as coisas palpáveis, concretas, e que são produzidas para satisfazer as necessidades das pessoas. Já uma consulta médica, uma aula, a entrega de um jornal, são exemplos de serviços.
Bens e serviços existem para satisfazer as necessidades dos indivíduos. E resultam de algum tipo de transformação dos recursos da natureza pelos processos de produção.
PRODUÇÃO, DISTRIBUIÇÃO E CONSUMO DE BENS E SERVIÇOS: A VIDA ECONÔMICA DA SOCIEDADE:
Podemos dizer que o ser humano com o seu trabalho produz bens e serviços. Ao viver em sociedade, as pessoas participam diretamente da produção, tendo como principais atividades econômicas a produção, a distribuição (circulação) e o consumo de bens e serviços. Assim, o conjunto de indivíduos que participa da vida econômica de uma nação é o conjunto de indivíduos que participa da produção, da distribuição e do consumo de bens e serviços.
Quando os operários estão trabalhando, eles estão ajudando a produzir; quando, com o salário que recebem, compram algo, estão participando da distribuição, pois estão comprando bens e serviços. E quando consomem os bens e serviços que adquirem, participam da atividade econômica de consumo de bens e serviços.
Considerando esses três elementos, é óbvio que para que haja distribuição e consumo de algum bem ou serviço é necessário que tenha havido anteriormente a produção desse bem ou serviço. Isso torna a produção a atividade econômica mais importante de um país.
Tomemos, por exemplo, o processo produtivo que ocorre em uma indústria de móveis: a árvore (matéria bruta) é derrubada; as toras de madeira (matéria-prima) vêm para a indústria de móveis. Aí chegando, sofrem a ação transformadora das máquinas e equipamentos e do trabalho dos operários, resultando desse processo um novo bem – uma cama, uma mesa, uma cadeira -, que será colocado à venda.
Produção é a transformação da natureza da qual resultam bens que vão satisfazer as necessidades dos indivíduos. Portanto, produzir uma nova combinação aos elementos da natureza.
TRANSFORMANDO MATÉRIA-PRIMA EM BENS:
Vejamos outro exemplo, que nos permitirá compreender de forma mais detalhada o processo produtivo. Ao trabalhar, a costureira transforma o corte de tecido de linho - que é obtido de matéria-prima vegetal – numa roupa: para isso ela utiliza linhas, botões, colchetes, etc. E também tesouras, agulhas e máquina de costura. Além disso, para poder trabalhar, ela gasta energia elétrica para a iluminação da casa e para o funcionamento da máquina de costura elétrica.
Como vemos, um dos elementos que intervêm no processo de produção é o trabalho.
Trabalho é a atividade realizada pela pessoa que, utilizando os instrumentos de produção, transforma a matéria-prima num bem.
ENERGIA FÍSICA E MENTAL: A FORÇA DE TRABALHO:
Continuando com o exemplo da costureira, ao trabalhar ela gasta energia física e mental. Essa energia gasta durante o processo de trabalho é chamada força de trabalho.
Da mesma forma, os operários em sua jornada de trabalho, professores e alunos em suas atividades escolares ou acadêmicas, médicos, cientistas, domésticos, artistas, todos empregam sua força de trabalho na realização de suas tarefas.
PROCESSO DE PRODUÇÃO: UM RESUMO:
Resumindo: o processo de produção é composto de três elementos principais associados:
Trabalho;
Matéria-prima;
Instrumentos de produção.
Vamos analisá-los melhor.
2. TRABALHO:
Toda atividade desenvolvida pelo ser humano – seja ela física ou mental – é considerada trabalho. Dele resultam bens e serviços. É trabalho tanto a atividade do operário de uma indústria como a do arquiteto que projeta os bens a serem produzidos por essa indústria.
Assim, tanto a atividade manual como a atividade intelectual são trabalho, desde que tenham como resultado a obtenção de bens e serviços.
MANUAL E INTELECTUAL: UMA COMBINAÇÃO
Deve-se considerar que toda atividade manual implica uma atividade mental. Algumas profissões exigem do trabalhador uma atividade intelectual maior (no exemplo anterior, o arquiteto) do que outras (o operário). Todo trabalho é sempre uma combinação desses dois tipos de atividade – manual e intelectual. O trabalho de um operário é mais manual que intelectual ou, em alguns casos, quase exclusivamente manual; ainda assim, exige um mínimo de esforço mental. O trabalho do arquiteto
é mais intelectual que manual – a concepção de uma forma no espaço -, mas, ainda assim, a sua atividade tem um aspecto manual, seja no manuseio de seus instrumentos de trabalho, seja na passagem da concepção do projeto para o papel.
Então, não existe trabalho exclusivamente manual ou trabalho exclusivamente intelectual, mas, sim, trabalho predominantemente manual ou predominantemente intelectual.
O trabalho executado por um desenhista industrial exige uma aprendizagem anterior, um certo nível de aprendizagem anterior: ele é capaz de executá-lo por imitação.
UMA CLASSIFICAÇÃO DO TRABALHO:
Quanto à execução, o trabalho pode ser classificado conforme o grau de capacidade exigido das pessoas que o exercem. Assim, temos:
Trabalho qualificado – não pode ser realizado sem um grau de aprendizagem: o trabalho de um torneiro mecânico, por exemplo, enquadra-se nessa categoria;
Trabalho não qualificado – pode ser realizado praticamente sem aprendizagem; por exemplo, o trabalho
de um servente de pedreiro.
O trabalho predominantemente intelectual é em geral qualificado.
É interessante notar que a essa classificação são atribuídos, conforme o grau de capacitação exigido pelas tarefas a cumprir. Analisando anúncios de emprego podemos avaliar as vantagens salariais de um torneiro ou de um instrumentista – cujas funções exigem um aprendizado prévio – em relação a um operário da construção civil não especializado, por exemplo.
MATÉRIA-PRIMA:
Os elementos que, no processo de produção, são transformados para constituírem o bem final são chamados de matéria-prima.
No exemplo da costureira, suas matérias-primas são o tecido, a linha, os botões, os colchetes.
Todos esses elementos passam a constituir a roupa, de uma maneira ou de outra. Já para as indústrias desses objetos, a matéria-prima está na natureza: o linho vegetal, o algodão, a seda, o plástico, o metal, etc.
Antes de se transformar em matérias-primas, os elementos encontravam-se na natureza sob a forma de recursos naturais.
RECURSOS NATURAIS:
Os seres humanos, visando obter os bens e serviços de que necessitam, utilizam-se de recursos como o solo (para a agricultura e a pecuária), as rochas (para a mineração) e os rios e quedas-d’água (para a navegação e a produção de energia elétrica).
Percebemos, porém, que as rochas – enquanto fontes de minérios – são recursos naturais para as Sociedades industrializadas, mas não o são para as sociedades que não praticam a mineração. Por outro lado, o que foi apenas elemento da natureza numa época pode converter-se em recurso natural em outra.
Por exemplo, antes da descoberta da energia da queda-d’água, estas eram simplesmente um elemento da natureza; depois se tornaram fonte de energia; primeiro nos moinhos, depois nas hidrelétricas e, portanto,
Um recurso natural, já que é incorporável à atividade econômica.
Dessa forma, o conceito de recursos naturais é relativo, isto é, ele varia no tempo e no espaço.
O que é recurso natural num processo de produção capitalista, acessível e incorporável à atividade econômica de uma nação, pode não sê-lo numa comunidade primitiva.
Assim, recursos naturais são os elementos acessíveis da natureza e que podem ser incorporados à atividade econômica do homem.
3. INSTRUMENTOS DE PRODUÇÃO
Todas as coisas que direta ou indiretamente nos permitem transformar a matéria-prima num bem são chamadas de instrumentos de produção.
Os instrumentos de produção que nos permitem transformar diretamente a matéria-prima são as ferramentas de trabalho, os equipamentos e as máquinas. No exemplo da costureira, esses instrumentos são a tesoura, a agulha e a máquina de costura.
Os instrumentos de produção que atuam de forma indireta – mas não menos necessária – são o local de trabalho, as condições físicas necessárias, como iluminação, ventilação, etc.
Assim, instrumento de produção é todo bem utilizado pelo ser humano na produção de outros bens e serviços.
Os seres humanos recorrem aos instrumentos de produção na sua atividade produtiva, pois dessa forma obtêm maior eficiência no seu trabalho.
MÁQUINAS E EQUIPAMENTOS: OS MEIOS DE PRODUÇÃO:
Como vimos, sem matéria-prima e sem instrumentos de produção não se pode produzir nada. Eles são os meios materiais para realizar qualquer tipo de trabalho. Por isso, são considerados meios de produção.
Portanto, são meios de produção todos os objetos materiais que intervêm no processo produtivo.
Retomemos o exemplo de uma indústria de móveis. Nela utilizam-se: trabalho (o esforço físico e intelectual dos trabalhadores); matéria-prima; máquinas e equipamentos (instrumentos de produção). A matéria-prima e os instrumentos de produção constituem os meios de produção.
4. TRABALHO E MEIO DE PRODUÇÃO: AS FORÇAS PRODUTIVAS:
Toda empresa combina em seu processo produtivo o trabalho e os meios de produção. Esses elementos encontram-se presentes tanto no trabalho realizado pela costureira como no trabalho realizado em uma grande indústria moderna.
Sem o trabalho humano nada pode ser produzido; e sem os meios de produção os seres humanos não podem trabalhar.
Ao conjunto dos meios de produção mais o trabalho humano, dá-se o nome de forças produtivas. Assim:
Forças Produtivas = meios de produção + seres humanos

As forças produtivas alteram-se ao longo da história. Assim, até meados do século XVIII, a produção era feira como o uso de instrumentos simples, acionados por força humana, por tração animal e pela energia proveniente da água ou do vento. Com a Revolução Industrial (século XVIII), foram inventadas as máquinas e passou-se a usar o vapor e a eletricidade como fontes de energia. Alteraram-se, portanto, os meios de produção e também as técnicas de trabalho. Houve uma profunda mudança nas forças produtivas.
No processo moderno de produção, a ciência e a tecnologia tornaram-se forças produtivas, deixando de ser mero suporte do capital para se converter em agentes de sua acumulação. Conseqüentemente, mudou o modo de inserção dos cientistas e técnicos na sociedade – tornaram-se agentes econômicos diretos. E a força capitalista encontra-se no monopólio dos conhecimentos e da informação.
5. RELAÇÕES DE PRODUÇÃO:
Para produzir os bens e serviços de que necessitam, os indivíduos estabelecem relações uns com os outros. No processo produtivo, as pessoas estão ligadas entre si e dependem umas das outras. O trabalho é um ato social, no sentido de que é realizado na sociedade.
As relações que se estabelecem entre os seres humanos na produção, na troca e na distribuição dos bens e serviços são chamadas relações de produção.
As relações de produção existem em todos os processos de produção e, de uma maneira especial, entre os proprietários dos meios de produção, de um lado, e os trabalhadores, de outro. São essas relações de produção que caracterizam o capitalismo.
No Brasil colonial, por exemplo, o trabalho era praticamente todo realizado por escravos. Os senhores eram donos dos meios de produção e também dos escravos. As relações de produção predominantes eram, portanto, relações escravistas. Hoje, praticamente todo o trabalho é realizado por trabalhadores assalariados.
Os meios de produção são propriedades de empresas particulares.
Portanto, pode-se afirmar que o elemento que determina a organização e o funcionamento da sociedade e que caracteriza cada um dos diferentes tipos de sociedades são as relações de produção. São essas relações que nos permitem distinguir um tipo de sociedade de outro.
6. MODOS DE PRODUÇÃO: a história da transformação da sociedade humana:
O modo de produção é a maneira pela qual a sociedade produz seus bens e serviços, como os utiliza e como os distribui. É chamado também de sistema econômico.
Assim, numa determinado época histórica, uma sociedade tem uma certa maneira de se organizar para produzir e para distribuir sua produção.
O modo de produção de uma sociedade é formado por suas forças produtivas e pelas relações existentes nessa sociedade. Assim:
Modo de produção = forças produtivas + relações de produção.
Portanto, o conceito de modo de produção resume claramente o fato de as relações de produção serem o centro organizador de todos os aspectos da sociedade.
Ao longo da História, a espécie humana tem produzido de vários modos aquilo de que necessita.
Por isso, pode-se afirmar que a história da humanidade é a história da transformação da sociedade humana pelos diversos modos de produção.
Como vimos, cada sociedade tem uma forma histórica de produção que lhe é própria; e sua história é a história do desenvolvimento do seu processo de produção.
Foi esse processo de desenvolvimento que ocasionou o aparecimento dos principais modos de produção. São eles: primitivo, escravista, asiático, feudal, capitalista e socialista.
Cada modo de produção pode ter existido em lugares e épocas diferentes. Por exemplo,
o modo de produção primitivo existiu nos primeiros tempos da humanidade e existe ainda hoje entre indígenas do Brasil e aborígines da Austrália. Da mesma forma, o modo de produção escravista predominou na Grécia e no Império Romano antes de Cristo, como também no Brasil, entre os séculos XVI e XIX.
PRINCIPAIS MODOS DE PRODUÇÃO:
Já relacionamos
os principais modos de produção; a seguir iremos estudá-los. Antes, leia o texto abaixo, sobre o modo de produção considerado interativo.

Informacionismo: a sociedade interativa
Após a onda milenária da era rural, após a onda bem mais breve do maquinismo industrial, mil novos sintomas anunciam o advento de uma terceira onda, de uma era pós-industrial capaz de exaltar a dimensão criativa das atividades humanas, privilegiando mais a cultura do que a estrutura.
A nova estrutura social está associada ao surgimento de um novo modo de desenvolvimento pós-industrialismo – o informacionismo ou sociedade interativa – moldado pela reestruturação do modo capitalista de produção do século XX. Houve substanciais mudanças de tecnologias mecânicas para as tecnologias de informação.
A teoria clássica do pós-industrialismo (também chamada economia de serviços) combina três afirmações e previsões que devem ser diferenciadas analiticamente:
Ø a fonte de produtividade e crescimento reside na geração do conhecimento, estendida a todas as esferas da atividade econômica mediante o processamento da informação;
Ø a atividade econômica mudaria de produção de bens para prestação de serviços. O fim do emprego rural seria seguido pelo declínio irreversível do emprego industrial em benefício do emprego de serviços que, em última análise, constituiria a maioria esmagadora das ofertas de emprega. Quanto mais avançada a economia, mais seu mercado de trabalho e sua produção seriam concentradas em serviços;
Ø a nova economia aumentaria a importância das profissões com grande conteúdo de informações e conhecimentos em suas atividades. As profissões administrativas, especializadas e técnicas cresceriam mais rápido que qualquer outra e constituiriam o cerne da nova estrutura social.
A sociedade informacional ou sociedade interativa, diferentemente da rural e da industrial que a antecederam, se caracteriza por delegar progressivamente o trabalho à eletrônica e por um relacionamento cada vez mais desequilibrado entre tempo livre, pendendo a favor deste último.
A aventura de busca de trabalho terá maiores possibilidades de ser bem-sucedida quanto mais o eventual trabalhador for capaz de oferecer serviços de tipo intelectual, científico, artístico, adequado às necessidades cada vez mais mutáveis e personalizadas dos consumidores. O futuro pertencerá àqueles que forem capazes de usar a head muito mais do que as hands, isto é, pertencerá a quem se ocupar de análise de sistemas, de pesquisa, de psicologia, de marketing, de relações públicas, de tratamentos de saúde, de educação, de viagens, de jornalismo e de formação.
Seja nos serviços, seja na indústria, a transição da produção padronizada para a personalizada comporta uma demanda maior por skilled people, as pessoas que produzem idéias são cada vez em maior número que as pessoas que produzem coisas. A informação e o conhecimento oferecem muito mais oportunidades a quem os detém.
(Adaptado de: Toffler, Alvin. A terceira onda, Rio de Janeiro, 1998).
MODO DE PRODUÇÃO PRIMITIVO
Inicialmente, os humanos viviam em tribos nômades e dependiam exclusivamente dos recursos da região em que a tribo se encontra. Sobreviviam graças à coleta e ao extrativismo: caçavam animais para se alimentar e para usar as peles como roupas, pescavam e colhiam frutos silvestres. Não dominavam a natureza. Passavam privações quando acontecia alguma alteração climática brusca e a caça, a pesca e os frutos silvestres rareavam.
Aos poucos a espécie humana começou a cultivar a terra, produzindo verduras, legumes, frutas e cereais; passou a criar alguns tipos de animais. Quando isso aconteceu, as pessoas deixaram de ser nômades e passaram a ser sedentárias, isto é, tiveram condições de se fixar num lugar.
Durante toda a sua História, o ser humano sempre transformou a natureza pra produzir bens que satisfizessem suas necessidades básicas e também que lhe proporcionassem uma vida mais confortável.
A comunidade primitiva foi a primeira forma de organização humana. Ela existiu em diversas partes da Terra há dezenas de milhares de anos. Ainda hoje, na África, na Austrália, na Nova Zelândia e na região da Amazônia, encontramos tribos com esse tipo de organização: alimentam-se de frutos e raízes, da pesca e da caça, e não praticam a agricultura nem o pastoreio.
O modo de produção primitivo designa uma formação econômica e social que abrange um período muito longo, desde o aparecimento da sociedade humana. A comunidade primitiva existiu durante centenas de milhares de anos, enquanto o período compreendido pelo escravismo, feudalismo e capitalismo mal ultrapassa cinco milênios.
Na comunidade primitiva os homens trabalhavam em conjunto. Os meios de produção e os frutos do trabalho eram propriedade coletiva, isto é, de todos. Não existia ainda a idéia de propriedade privada dos meios de produção, nem havia a oposição: proprietários X não-proprietários. As relações de produção eram relações de ajuda entre todos; eram baseadas na propriedade coletiva dos meios de produção, a terra em primeiro lugar.
Nas comunidades primitivas – onde tudo era de todos – não havia o Estado. Este só passou a existir quando alguns homens começaram a dominar os outros. O Estado surgiu como um instrumento de organização social e de dominação.
MODO DE PRODUÇÃO ESCRAVISTA:
É um modo de produção que predominou na antiguidade, mas que também existiu no Brasil durante a Colônia e o Império.
Na sociedade escravista os meios de produção (terras e instrumentos de produção) e os escravos eram propriedades do senhor. O escravo era considerado um instrumento, um objeto, como um animal ou uma ferramenta.
Assim, o modo de produção escravista, as relações de produção eram relações de domínio e de sujeição: senhores X escravos. Um pequeno número de senhores explorava a massa de escravos, que não tinha nenhum direito.
Os senhores eram proprietários da força de trabalho (os escravos), dos meios de produção (terras, gado, minas, instrumentos de produção) e do produto de trabalho.
Nesse modo de produção já existiu o Estado, pois grupos de indivíduos dominavam outros grupos. O Estado surgiu para garantir o interesse dos senhores.
MODO DE PRODUÇÃO ASIÁTICO:
O modo de produção asiático predominou no antigo Egito, na China, na Índia, entre os astecas do México e os incas do Peru, e também na África do século passado.
Tomando como exemplo o Egito antigo, no tempo dos faraós, vamos notar que a parte produtiva da sociedade era composta por escravos – que executavam trabalhos forçados – e por camponeses – que eram obrigados a entregar ao Estado o que produziam. As terras pertenciam ao Estado e portanto, ao faraó, já que ele encarnava o Estado. Os grupos privilegiados da sociedade eram os sacerdotes, os nobres, os funcionários e os guerreiros.
O excedente da produção possibilitava que o faraó destacasse um grande grupo de homens para construir as obras grandiosas (pirâmides, templos, canais de irrigação) e o grupo dos sacerdotes para preservar o saber sagrado.
Essa organização social permitia que a parcela maior do excedente da produção fosse consumida por esses segmentos improdutivos da sociedade, o que foi minando cada vez mais o modo de produção asiático.
Vários foram os fatores que determinaram o fim do modo de produção asiático:
Ø a propriedade da terra pelos nobres;
Ø o alto custo de manutenção dos setores improdutivos;
Ø a rebelião dos escravos.
No caso dos impérios inca e asteca, também contribuiu para o seu fim a conquista do território pelos espanhóis.
MODO DE PRODUÇÃO FEUDAL:
O modo de produção feudal predominou na Europa ocidental durante toda a Idade Média, permanecendo até o século XVI. No Japão, a sociedade feudal foi consolidada pelo xogunato (século XVIII).
A sociedade feudal estruturava-se basicamente em senhores X servos. As relações de produção no feudalismo (relações servis) baseavam-se na propriedade do senhor sobre a terra e em grande poder sobre o servo. Os servos não eram como os escravos: eles cultivavam um pedaço de terra cedido pelo senhor, sendo obrigados a pagar a ele impostos, rendas, e ainda a trabalhar as terras que o senhor conservava para si. O servo tinha o usufruto da terra, ou seja, uma parte do que a terra produzia era dele. Assim, trabalhava uma parte do tempo para si e outra para o senhor.
Outra diferença importante entre o servo e o escravo é que o senhor de escravos era dono do escravo, podendo vendê-lo, alugá-lo, etc. Com o senhor de servos isso não ocorria: o servo, enquanto pessoa, não era propriedade de seu senhor.
Os senhores feudais tinham o poder econômico (eram os proprietários das terras) e o poder político (faziam as leis do feudo e obrigavam os servos a cumpri-las).
Num determinado momento, as relações de produção feudais começaram a dificultar o desenvolvimento das forças produtivas. Ao mesmo tempo que a exploração dos servos no campo aumentava, o rendimento da agricultura era cada vez mais baixo. Na cidade, o crescimento da produtividade dos artesões era freado pelos regulamentos existentes, e o próprio crescimento das cidades era impedido pela ordem feudal.
As relações feudais de produção deixaram de responder às necessidades da época, pois o processo de desenvolvimento exigia novas relações de produção.
Dentro da própria sociedade feudal já começavam a aparecer as relações capitalistas de produção.
MODO DE PRODUÇÃO CAPITALISTA:
No final deste capítulo você encontra um texto complementar sobre a origem do capitalismo, leitura obrigatória para aprofundar seu estudo.
O modo de produção feudal começou a desmoronar a partir do século XI. Com a sua desagregação surgiu o capitalismo.
A desagregação do feudalismo e as origens do capitalismo tiveram como principais causas:
Ø o crescimento da população na Europa;
Ø o desenvolvimento das técnicas agrícolas de produção;
Ø o renascimento comercial e urbano.
O que caracteriza o modo de produção capitalista são as relações assalariadas de produção (trabalho assalariado). As relações de produção capitalista baseiam-se na propriedade privada dos meios de produção pela burguesia – que substituiu a propriedade feudal – e no trabalho assalariado – que substituiu o trabalho servil do feudalismo.
A burguesia possui as fábricas, os meios de transporte, as terras, os bancos, etc. o trabalhador não é obrigado a ficar sempre na mesma terra ou na mesma fábrica; ele é livre para se empregar na propriedade do capitalista que o aceitar para trabalhar. Os trabalhadores são obrigados a trabalhar para os proprietários dos meios de produção, que são donos do capital.
Como vemos, no capitalismo há duas classes principais: a burguesia e os trabalhadores assalariados.
O desenvolvimento da produção no capitalismo é movido pelo desejo de lucro. É para aumentar os seus lucros que os capitalistas procuram aumentar a produção, por meio dos aperfeiçoamentos técnicos, da exigência de maior produtividade dos operários, de uma maior racionalização do processo de produção.
Etapas do Capitalismo:
O capitalismo compreende quatro etapas:
Ø pré-capitalismo (séculos XII a XV) – o modo de produção feudal ainda predomina, mas já se desenvolvem relações capitalistas;
Ø capitalismo comercial (séculos XV a XVIII) – a maior parte do lucro concentra-se nas mãos dos comerciantes, que constituem a camada hegemônica da sociedade; o trabalho assalariado torna-se o mais comum;
Ø capitalismo industrial (séculos XVIII a XX) – com a Revolução Industrial, o capital passa a ser investido basicamente nas indústrias, que se tornam a atividade econômica mais importante; o trabalho assalariado firma-se definitivamente;
Ø capitalismo financeiro (século XX) – os bancos e outras instituições financeiras passam a controlar as demais atividades econômicas, por meio de financiamentos à agricultura, à indústria, à pecuária e ao comércio.
MODO DE PRODUÇÃO SOCIALISTA:
A base econômica do socialismo é a propriedade social dos meios de produção, isto é, os meios de produção são públicos ou coletivos, não existem empresas privadas. A finalidade da sociedade socialista é a satisfação completa das necessidades materiais e culturais da população: emprego, habitação, educação, saúde. Nela não há a separação entre proprietários do capital (patrões) e proprietários da força de trabalho (empregados). Isso não quer dizer que não continuem existindo diferenças sociais entre as pessoas, bem como salários desiguais em função de o trabalho ser manual ou intelectual.
A economia na sociedade socialista é planificada, visando atender às necessidades básicas da população e não ao lucro das empresas.
Para os teóricos do socialismo, o comunismo é a etapa posterior do socialismo. No comunismo, segundo eles, acabariam as diferenças sociais entre as pessoas porque todos teriam tudo em comum, e o Estado deixaria de existir.
No final da década de 1980 e começo da década de 19900, começaram a ocorrer profundas mudanças políticas e econômicas nos países socialistas europeus. Em quase todos caíram os governos do Partido Comunista e foram feitas reformas para tornar mais democrático o sistema político, com eleição direta para os principais cargos. Também a economia passou por profundas alterações, com a diminuição do controle do Estado e a reativação dos mecanismos de mercado. A propriedade privada tem sido restabelecida em alguns setores, sobretudo no comércio.
Apenas o desenvolvimento histórico permitirá definir que rumos as sociedades socialistas tomarão. É possível afirmar, porém, que o sistema burocrático, controlado rigidamente pelo Estado, que se apoiava num regime político com escassa participação popular, não subsistirá. Está sendo substituído por formas mais flexíveis de organização política e econômica, com pluripartidarismo e menor participação do Estado na economia.
As mudanças mais significativas nesse sentido ocorreram na Alemanha Oriental, que abandonou inteiramente o caminho do socialismo e se integrou à Alemanha Ocidental, capitalista, formando com ela um só país.
O modo de produção socialista, atualmente, ainda existe, co algumas alterações de caráter político e econômico, na china, Mongólia, Laos, Camboja, Guiné-Bissau, Angola, Moçambique, Vietnã e cuba.
Sem dúvida o fato mais surpreendente e marcante do final do século XX foi a desagregação do sistema socialista, principalmente nos países da Europa oriental: Polônia, Hungria, Romênia, Bulgária, Albânia, República Tcheca, Eslováquia, Iugoslávia, Eslovênia, Croácia, Macedônia, Bósnia-Herzegovina, Rússia e as demais catorze repúblicas que constituíam a antiga União Soviética. Essa desagregação expõe um erro de previsão na interpretação do processo histórico mundial que julgava uma conseqüência histórica o fortalecimento do Estado e a extensão do regime socialista para todas as regiões do globo.
O marxismo falhou em suas previsões. A capacidade de autotransformação, o movimento de vertiginoso progresso tecnológico, o atendimento amplo das necessidades do bem-estar da população que se registram nas formas assumidas pelo capitalismo no Primeiro Mundo deram mostras, entretanto, de que o desenvolvimento social não pode prescindir do sistema de economia de mercado (aspecto econômico) e das mais amplas liberdades políticas da democracia (aspecto político).
O fim do socialismo
O socialismo europeu passa por uma crise de identidade, gerada por problemas econômicos crônicos agravados pela dívida externa. Na era Brejnev, a URSS chegou a gastar 16% do PIB com a defesa militar. O Brasil gastava até 1989 pouco mais de 4% de seu PIB com a dívida externa e todos conhecem na pele as conseqüências. A questão de fundo reside na inadequação daquele projeto socialista ao conceito de democracia. A identificação entre Estado-governo-partido, herança stanilista, leva inevitavelmente à perda dos elos capazes de articular a socialização da economia com democracia política e pluralismo ideológico. A saída, porém, não se encontra na tão apregoada “liberdade” do Ocidente capitalista – de fato, liberdade de uns poucos terem cada vez mais propriedades, à custa de muitos impedidos de serem proprietários até mesmo de sua força de trabalho.
Por mais erros e equívocos que o socialismo real contenha, é preciso reconhecer que ele é portador de valores éticos jamais encontrados nas anteriores sociedades de economia de mercado. Todas as conquistas do capitalismo ficam sombreadas quando se constata que o progresso de todas as nações capitalistas do Primeiro Mundo resulta da exploração que elas exercem sobre os países emergentes. No entanto, o alto nível de desenvolvimento social dos países socialistas é fruto do trabalho de seus cidadãos. Nenhum deles explora povos estrangeiros. Nos países socialistas, crianças, idosos, trabalhadores estrangeiros e pessoas portadoras de deficiências físicas merecem do Estado a atenção adequada. Não são encontrados também sintomas coletivos de desagregação social, como favelas, drogas, prostituição, exploração de menores ou crime organizado.
Mas é preciso perguntar: em que medida os resultados obtidos pelo modelo de desenvolvimento capitalista não serviriam de parâmetros ao modelo socialista> O Brasil, vítima desse equívoco, defende a reserva de mercado na área da informática e abre mão de suas reservas cambiais para os banqueiros estrangeiros. Uma nação deveria ousar viver de seus próprios recursos, ainda que sem computadores e aviões, mas com dignidade e saúde. Ainda que um e outro país socialista ceda à ilusão capitalista, como hoje ocorre com os países do leste europeu, é inútil supor que o restrito grupo das sete potências capitalistas (EUA, Canadá, Inglaterra, França, Itália, Alemanha e Japão) tenha qualquer intenção de admitir novos sócios. Quem o tentar, terá o mesmo destino que o Brasil: país dependente e periférico do sistema capitalista. No capitalismo não se dá, se lucra.
Na busca de justiça e liberdade, a humanidade não tem outra alternativa fora do socialismo. A complexidade do sistema econômico (modo de produção) de ma nação não pode mais ser confiada a pessoas ou grupos privados. Na queixa de que os serviços públicos não funcionam perde-se a dimensão de que, de fato, funcionam exclusivamente a serviço de uma minoria que domina o Estado. Só uma sociedade que consiga combinar socialização dos meios de produção, ativa participação política dos cidadãos e diversidade ideológica sem ameaça aos interesses coletivos dará resposta à esperança de um futuro melhor para a humanidade.
Boff, Clodovis. Cartas Teológicas sobre o socialismo. Petrópolis, Vozes.


QUESTÕES PARA ESTUDO:
01. Relacione o nome de cinco empresas que produzem bens e cinco empresas que produzem serviços.
02. O que você entendeu por produção
03. Quais são as principais atividades econômicas humanas
04. Explique do ponto de vista sociológico o conceito de:
a. Trabalho;
b. Matéria-prima;
c. Recursos naturais.
05. Qual a diferença que existe entre as forças produtivas num país cuja principal atividade econômica seja a agricultura (o Paraguai, por exemplo) e num outro bastante industrializado (o Brasil, por exemplo)
06. Quais os modos de produção que existiram ao longo da história
07. Que diferenças existem entre o escravo e o servo
08. A classe deve dividir-se em grupos de trabalho; cada grupo deverá escolher um modo de produção e fazer uma pesquisa sobre ele. As conclusões devem ser apresentadas à classe.