quinta-feira, 1 de outubro de 2009

(CRÔNICA) O PONTO

(CRÔNICA) O PONTO.
Prof. Joceny Possas Cascaes.

Até certo ponto o ponto se torna interessante. É empregado no final de frases declarativas, expositivas. Mas, há outros pontos gramaticais: o ponto-e-vírgula, o ponto de exclamação, o ponto de interrogação, os dois-pontos... Ih! Esqueci de falar dos três pontinhos seguidos. Três pontos que se seguem!? Fala-se das reticências. Dúvidas... Possuem, também, a finalidade de indicar sugestão. Sugerir é... dar a entender, a insinuar. Porém, a simpatia do ponto está além-explicação.
Senão, veja-se. Certo alguém estava no ponto. Que ponto? No ponto de ônibus. Aguardava o coletivo. Estava num bairro e desejava dirigir-se a outro. De repente, apareceu uma outra pessoa que tinha, no pescoço, uma mancha arredondada, pequena que, de certa forma, indicava um ponto. Esta, havia saído do trabalho (final de expediente) e trazia à mão um cartão. Cartão à mostra. Instante em que, através de um diálogo, as duas pessoas passam a apresentar seus pontos de vista. Chamá-las-emos de primeira e segunda a chegar no ponto.
A primeira – O que é isso que trazes à vista?
A segunda – Um cartão-ponto.
A primeira – Você me fez lembrar de uma peça de teatro.
A segunda – Por quê?
A primeira – Lembrei-me do ponto. Da pessoa que numa peça teatral sopra o texto aos atores.
A segunda – O quê?
Neste ínterim, o ônibus encosta no ponto. Os dois sobem e tomam assento. Sentam-se lado a lado. A prosa continua. Mas, o fio da meada, o ponto em que estava o assunto anterior exauriu-se. Esquecimento duplo. (...). O ponto da unidade semântica tomou outro rumo. O norte (por que não o sul?) da conversa deixou de ser o mesmo. Então...
A primeira – Tenho saudades dos doces da minha avó.
A segunda – Tens saudades da tua avó ou dos doces que ela fazia?
A primeira – Das duas coisas. Mas, o ponto que ela alcançava em seus doces levava-nos...
A segunda – A que lugar?
A primeira – Ao ponto pacífico.
A segunda – O que o pacífico tem a ver com isso?
A primeira – Nada de oceano. Estou falando de tranqüilidade, de algo inconteste. Ninguém, jamais, se atreveu a contestar as coisas boas que a minha avó fazia.
A segunda – Vou entregar os pontos. Mas, estou convicto de que não perdi. Ganhei!!! Aprendi, e muito. No próximo ponto de parada do ônibus eu desço.
A primeira – Antes, desejo colocar os pontos nos is. Estou a ponto de... explodir de alegria. Por isso, foi bom ter passado estes momentos com você.
A segunda – O que aconteceu?
A primeira – Sou candidato ao primeiro emprego. Fiz uma prova. Alcancei os pontos.
A segunda – Que pontos?
A primeira – Um ponto era decisivo: o mínimo era sete. Tirei nove. O emprego é meu. Começo amanhã.
Momento em que o ônibus parou.
A segunda - Levantou-se para descer e sorrateira, diz: alcançaste o ponto alto de um dia. O clímax! A dignidade de alguém pode depender de seu emprego.
A primeira – Todo ponto pode transformar-se num ponto de vista e a vista de um ponto é múltipla, complexa. Que esta nossa primeira conversa faça parte de um ponto final. Pronta para dar espaço para que outros pontos possam fazer parte de repentinos encontros. Até mais...
A segunda – Saltando do ônibus, grita: o teu ponto não era antes do meu?

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