sexta-feira, 4 de setembro de 2009

O BELO E O CORPO: descortinando um pensar...

O BELO E O CORPO: descortinando um pensar...
Prof. Joceny Possas Cascaes.

De acordo com o educador e filósofo Janes Tomelin, (2002, p. 98), “O dilema da estética consiste no seguinte paradoxo: se o belo está naquilo que é percebido ou na forma como é percebido. O debate está em decidir se o belo é apenas um conceito ou um denominador comum das coisas belas; se é um juízo de valor ou um juízo de fato”. O autor questiona - racionalmente – o paradigma de beleza na arte, no olhar dirigido aos objetos e seres em geral. Deixa transparecer que a fealdade, qualidade do que é feio, está – também – de forma significativa embutida no olhar.
Mas, referindo-se ao corpo, a visão atual de corpo belo e saudável nos remete a lucro e a uma certa alienação. Uma empresa que usa os meios de comunicação de massa para vender um produto de beleza, um bronzeador, por exemplo, mostra a imagem de corpos considerados ‘perfeitos’ usando o produto ou mostrando o efeito – belo - que ele deixou após o seu uso. Quer vender a idéia de que seu cosmético, além de ser bom, tem ação rápida, mágica, verdadeira... Nesse caso, apresenta o corpo – unicamente – como um objeto de uso, como satisfação mercadológica e em benefício de grupos ideológicos e ou políticos que estão à frente do poder.
Sendo o corpo humano uma estrutura física inserida no dia-a-dia, portanto, sujeita aos ‘desgastes’ ocasionados por essa vivência: estresse, má alimentação, o passar da idade, o corre-corre hodierno, o dormir mal etc., é necessário prestar atenção nesse tipo de veiculação propagandista. Para quem já tem um corpo bonito, continuará – por algum tempo – com esse mesmo corpo. Outros poderão se beneficiar momentaneamente, mas precisam se conscientizar de que - na maioria dos casos - essas receitas são ineficazes.
O corpo é a presença real de relacionamento com o mundo, porque nos faz sentir e falar. Mostra – de certa forma – quem somos e como vivemos, no mesmo tempo que, clama, se expressa e demonstra comportamentos advindos de relacionamentos sociais que se tornam verdadeiros reveladores culturais. Porém, continuamos inseridos num contexto social que faz do corpo uma ferramenta de competição atada ao lucro de uma sociedade pragmática, que visa – exclusivamente – interesses pessoais e/ou empresariais.
O impacto causador do “benefício-lucro” instituído pela ‘macro-visão’ de belo corpo – imposição crescente, de certa forma, do neoliberalismo – torna-se um atenuante, em vários casos, do crescimento pessoal e profissional do ser. Os gordos, os feios, os magros demais, os altos, os baixos, os deficientes (em suas várias manifestações), o gênero, além de outros elementos se tornam fatores de exclusões presentes nos relacionamentos tidos como “humanos”, nas atividades diárias e nas contratações realizadas por muitas empresas.
Quebrar tabus e mudar hábitos culturais exigem uma ‘aprendência’ contextualizada na história de vida pessoal e científica. Toda leitura de mundo precisa estar embasada em fatos e acontecimentos “histórico-sociais”. O que cada um sabe – o que foi aprendido socialmente - não é suficiente para que a mudança aconteça. No caso do ‘corpo-belo’, há necessidade de se pensar o corpo como um elemento de resistência e de libertação. Dependendo do ângulo que se vê, todo corpo é belo. Por isso, enfrentar a realidade e se sentir bem com o corpo que se tem é fator decisivo de qualidade de vida.
Ter saúde não significa a apresentação de um belo corpo ou de um corpo feio. Porém, cuidar da estética e da saúde é fator preponderante de vida para os que se sentem e que são vistos como belos e feios. Mas, voltando a Tomelin, precisamos decidir se o belo está naquilo que é percebido ou na forma como é percebido. Pode estar também na visão de ambas as partes. O importante é que quem vê o outro se sinta ou se perceba naquilo que está vendo, pois quem aprende a se gostar tem maiores probabilidades de ver as pessoas como uma extensão de si mesmo e – conseqüentemente – belas.

BRASIL: em desenvolvimento?

BRASIL: em desenvolvimento?
Professor: Joceny Possas Cascaes.

Segundo dados do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNDU - 1999) em relação ao Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), o Brasil ocupa a décima quarta posição do Continente Americano. Estamos atrás do Chile, Uruguai, Costa Rica, Venezuela, Cuba entre outros. Esses dados indicam também que somos donos da quinta maior Renda per capita do nosso continente, estimada em 5.029 dólares. Mesmo assim, continuamos subdesenvolvidos...
O Índice de Desenvolvimento Humano do Brasil vem melhorando a cada ano, e nos faz manter a ilusão de que estamos rumando em direção ao desenvolvimento. O avanço da medicina, a divulgação das práticas de higiene social e as campanhas de saúde pública contribuíram para a redução das taxas de mortalidade. Outrossim, através de campanhas de planejamento familiar e a participação da mulher no mercado de trabalho contribuíram para que nos últimos anos houvesse um declínio do número de nascimento de filhos por família.
Sabemos que diminuiu o número de analfabetos e que a expectativa de vida do brasileiro aumentou. O Brasil rural tradicional não é mais o mesmo, o avanço tecnológico, os meios de comunicação, etc., estão contribuindo para a transformação desse cenário rural. Porém, há indícios de que continuaremos, por muitos anos, subdesenvolvidos. Somos detentores de uma razoável renda per capita, que é impedida de ser distribuída eqüitativamente porque é sugada pela dívida externa.
Cada brasileiro que nasce, nasce com uma dívida impagável. Setenta e dois porcento de nossa dívida externa são decorrentes do aumento dos juros cobrados pelo FMI. Se não houver um rompimento dos países subdesenvolvidos com esse sistema econômico suplantado pelos países ricos e enquanto continuarmos a receber migalhas e formos impedidos de sentar – igualitariamente - à mesma mesa, continuaremos sendo vítimas da exploração. Há uma tendência que nos faz pensar que estamos vivendo num país em desenvolvimento e isso é um embuste, é uma farsa. Ou um país é desenvolvido ou ele é subdesenvolvido.
Uma Empresa Multinacional que se instala no Brasil, ou em qualquer país subdesenvolvido, não faz isso por acaso. Ela pensa em lucro e busca mão-de-obra barata. Mesmo contribuindo para que o trabalhador coloque comida em sua mesa, isto acaba fazendo parte de uma forma de exploração social. Ao mesmo tempo, pouco colabora para que tal país se torne desenvolvido.
É possível – então - mudar as relações econômicas entre os povos? Eis uma pergunta difícil de ser respondida. Precisamos que as nossas crianças, jovens e adultos se tornem sujeitos independentes, “re-plenos” de deveres, mas cativos de direitos. Um regime de exploração só pode ser rompido quando se tem consciência dessa exploração e quando se perde o medo de retaliações. Se o Brasil romper com esse regime, só ganhará, pois deixar de pagar a dívida externa colocaria o país numa situação privilegiada. Não é por acaso, que os países ricos e em especial os EUA, vêm mantendo uma “boa” relação (principalmente econômica) com o Brasil.
Uma das maneiras de romper com essa situação de miserabilidade, de servidão é o investimento em educação. Não falamos daqueles que adquirem conhecimentos para – também – fazerem parte desse sistema que já está instalado e que há anos não oferece oportunidade aos mais pobres. Há necessidade de “cabeças” que pensem diferente, que ousem para criarem condições de mudanças das regras econômicas entre os povos.
Somos cidadãos responsáveis pela “re-construção” desse novo mundo. Mesmo que o IDH do Brasil continue melhorando só poderemos nos tornar – verdadeiramente – desenvolvidos a partir do momento em que a educação escolar, familiar e social contribuir com essas mudanças. Um povo integralmente desenvolvido deixará de aceitar migalhas e jamais receberá dinheiro para permitir que a opressão prossiga e seu país continue no rol dos subdesenvolvidos. Um povo culturalmente desenvolvido saberá romper com essa atual e caótica relação econômica em que vivem os países subdesenvolvidos. Desta maneira, os brasileiros terão domínio – de fato - de suas atitudes e se tornarão donos – enfim - de suas próprias terras.

A ESCOLA DOS SONHOS... e a possível.

A ESCOLA DOS SONHOS... e a possível.
Prof. Joceny Possas Cascaes.

Há pessoas, dentre elas alguns educadores, que sonham com uma Escola de Ensino Fundamental e Médio em que há um bom repasse de conhecimento, boas relações e nenhum (ou quase nenhum) conflito em seu meio. Nesse espaço, que se supunha de relações felizes, todos falam a mesma língua e, por conseguinte, se entendem. O professor repassa ou troca o conhecimento e todos aprendem. Posturas são entendidas e adotadas em conjunto de maneira que – imediatamente – os alunos, os professores, os funcionários e a direção se sentem envolvidos e contagiados por elas. As ações, nesse educandário, passam a ter um único foco e, com isso, uma unânime direção é seguida. Magicamente, os objetivos gerais da Escola passam a ser praticados com êxito.
É tão grande o entrosamento que as carteiras deixam de ser riscadas, os banheiros permanecem – sempre – cheirosos e as salas, as dependências e o pátio da ‘Escola Sonhada’ nunca sujam, pois todos que a freqüentam são, extremamente, educados. No final de cada ano, cada aluno que se forma (entenda: que sai da fôrma) aprende a preservar o Patrimônio Escolar. Com isso, os filhos - dos alunos - os netos, os parentes e os amigos, que passam a estudar nessa escola, encontram-na sempre em bom estado de conservação. Aparentemente, já não se justifica mais a contratação de pessoas para realizarem os Serviços Gerais da Escola como, limpezas e manutenções.
Nesse lugar, as cores, finalmente, são entendidas e respeitadas. Os direitos são iguais a todos. As trocas de idéias sobre religiões são discutidas e ninguém diz mais que a sua crença é que é a certa, pois o objetivo é entender o pensamento diferente. Os pobres e os ricos são tratados da mesma maneira e aprendem. As disciplinas são ministradas dentro de um contexto – meramente -“interdisciplinar” e ajudam o aluno a pensar a história, em suas várias formas, diferente. A Escola Sonhada consegue fazer com que todos tirem boas notas, embora se tornem robôs-humanos.
Há uma impressão de que “Pinóquio o boneco de madeira” freqüenta cada carteira desse Estabelecimento de Ensino, como se tivesse se ‘reencarnado’ nos alunos. Como na fábula reconstruída por Rubem Alves: era desejo do ‘Vô Gepêto’ criador desse boneco, que Pinóquio recebesse Educação e com isso se transformasse em gente. Porém, segundo Alves, quantos alunos se formam (... a fôrma novamente) e saem da escola como se fossem bonecos de pau.
Embora sendo apenas imaginação, o que foi contado acima, existem algumas pessoas (que de maneira alguma devem ser consideradas culpadas) que sonham com o dia em que essa Escola se transforme em realidade; com o dia em que os alunos chegarão na Escola, completamente, educados. Sabe-se que a sociedade e a família ajudam a preparar ‘gente’ para a vida, mas...
Questões econômicas, o analfabetismo (em suas várias manifestações) de muitos pais, a falta de oportunidade justa para todos, as crenças, as raças, os “pré-conceitos”, as doenças sociais, a própria personalidade, o meio onde se vive, a inobservância das leis... são alguns fatores que emperram o avançar de muitas crianças, jovens e adultos. Nesse sentido, lidar com estruturas corporais pensantes (os alunos), que estão em constante crescimento e transformação, nunca foi fácil e por um bom tempo continuará sendo difícil.
Num país (embora não dependa só desses fatores) em que há empregos, preocupação com a saúde, com a educação, com a alimentação, com a moradia e com os salários mais justos é mais fácil se conseguir bons resultados educacionais. Porém, além de penoso seria uma catástrofe que uma estrutura escolar fosse da forma em que foi imaginada. Mas, é possível, e isso deixa de ser um sonho, que ela seja contemplada, quando as condições permitem, com uma boa qualidade educacional.
E - com boa qualidade educacional - o ‘Educador’, consciente de seus atos – passa a falar a língua de seus pupilos e reconhecer as nuanças, as diversidades de expressões e entendimentos; algo, que de maneira tênue, já está acontecendo... Aprende, também, que a Escola feliz jamais seria a explicitada (a sonhada), porque sendo robôs os alunos repetiriam ações insensíveis.
Por isso, a Escola, incluindo todos os aparatos desse meio, tem a função de educar e colaborar para que as pessoas que a freqüentam entendam que ‘gente’, que ‘ser-humano’ - na verdadeira concepção dessas palavras – nunca nascerá pronto. Nesse sentido, como uma maneira de impulsionar ainda mais a Educação devem questionar – cotidianamente - para que serve a pessoa do “Professor-mediador”!?

A ARTE DA CONVERSAÇÃO.

A ARTE DA CONVERSAÇÃO.
Professor Joceny Possas Cascaes. Ibirama – SC

Acreditamos que uma opinião seja uma suposição própria. Seu uso está ligado ao repasse de uma ou mais idéia com o objetivo de torná-la pública, propiciando a quem a recebe a aquisição de novos conhecimentos ou a ampliação dos que já possuem, mesmo quando, por vários motivos, a mesma seja aceita ou rejeitada. Porém, só podemos discordar de uma idéia quando o nosso conhecimento nos permite apresentar uma outra que, necessariamente, não precisa ser melhor, mas seja, pelo menos, compatível com a apresentada.
Oposição de idéias é necessário para o desenvolvimento do conhecimento pessoal que conseqüentemente poderá propiciar a “re-construção” de um saber social. Sob a luz da dialética, isto é, através de conversas que respeitam pontos de vista diferentes, Sócrates se tornou admirado por um grande número de pessoas. Isso ocorreu durante o famoso “século de Péricles”, idade de ouro da civilização ateniense. Esse grande filósofo, utilizando-se da arte da conversação, foi influenciado e ao mesmo tempo influenciou o desenvolvimento da cultura grega.
E é sob a ótica da concordância e/ou oposição que expressamos nossas idéias. Somos contrários a certezas absolutas. Elas nos conduzem ao final de uma conversa, isto é, levam-nos a pensar que apenas uma pessoa é detentora da razão, deixando, muitas vezes, a outra ou as demais sem palavras. Mesmo quando dominamos o assunto de que falamos, devemos nos lembrar de que tudo é rodeado de complexidade e diversidade.
O intelectual, crítico e jornalista norte-americano, Henry Louis Mencken (1880-1956) era “avesso a certezas absolutas e a tudo o que possa servir de obstáculo para o uso da razão”. Para atenuarmos a presença desses obstáculos em nossas conversas é necessário que o bom senso e a prudência se façam presentes nesse cenário. Quando mergulhamos num mar de certezas absolutas, muitas vezes sem nos darmos conta disso, costumamos voltar à superfície repletos de novas idéias e de dúvidas que nos farão buscar novas respostas.
De acordo com Rogers (1961, p. 32) “quando posso aceitar uma outra pessoa, o que significa especificamente aceitar os sentimentos, as atitudes e as crenças que a constituem como elementos integrantes reais e vitais, é que eu posso ajudá-la a tornar-se pessoa”. Não é de estranhar que muitos autores modernos tenham sido influenciados por este psiquiatra e pedagogo. Rogers, em outras palavras, diz que a vida, em seu lado melhor, é um processo que passa, que muda e que nada está fixado.
Quando dialogamos, falamos de nós próprios para o outro e o outro faz a mesma coisa. Se deixarmos de entender e respeitar o que o outro tem a nos dizer não podemos, na mesma proporção, esperar que o mesmo entenda e receba alegremente o que temos também a dizer. O verdadeiro diálogo exige que um esteja ao lado do outro e não que um se coloque em posição de superioridade, como é o caso de alguém que "está convencido" de que sabe. O diálogo exige respeito total ao mundo do outro, exige ponderação e aceitação.
Em geral, temos idéias diferentes. Por isso, numa conversa é essencial que se realce a presença dos dois ouvidos, para que possamos prestar bastante atenção no que o outro tem a nos dizer. Não há fórmulas mágicas que determinam como essa relação deve acontecer; há, entre outras coisas, consensos e respeito às pessoas com as quais estamos conversando.
Algures, alguém perguntou: o que fazer para se conversar com aquele tipo de pessoa que pensa que só ela deve falar e que tenta impor certezas absolutas em tudo o que diz? Esta é uma pergunta que leva a várias respostas e a tomada de atitudes diferentes. Somos adeptos de que, sempre que for possível, devemos nos envolver com coisas que proporcionem prazer. Estaremos sendo, então, medíocres se nos envolvermos, concretamente, com tal situação. Pois, de acordo com Oscar Wilde: “Só os medíocres dão o melhor de si o tempo todo.” Ademais, entendemos que, em alguns momentos, é melhor relaxar do que tentar remediar.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

(CRÔNICA) O BARCO: e algumas 'mentes'...

(CRÔNICA) O BARCO: e algumas ‘mentes’...
Prof. Joceny Possas Cascaes.

De repente, pensei num barco qualquer. Fiquei imaginando uma embarcação, uma construção destinada a navegar sobre a água. Então, inúmeras imagens de barcos invadiram a ‘pessoal-mente’. Eram representações gráficas mentais de barcos grandes, médios e pequenos; cobertos e descobertos; que utilizam remos, velas e motores; destinados a passageiros e/ou a cargas; fluviais ou marítimos... As alusivas representações gráficas tomavam conta de algum ‘espaço-cerebral’ reservado às modestas imaginações. Lembrei também de uma barca e de uma barcaça. Aí, perdi-me!!! Minha ‘simples-mente’ embaralhou...
Senti-me, por uns instantes, como as cartas de um baralho ao serem baralhadas e que após são colocadas à mesa viradas para baixo; não se consegue saber em que posição ficou cada uma das cartas com o seu respectivo naipe. Qual era a diferença do barco, da barca e da barcaça? Ih!!! A ‘própria e sincera-mente’ havia achado interessante a condicionada e pesquisada resposta. Uma barcaça é uma embarcação de desembarque, usada para transportar mercadorias; uma barca é uma designação genérica aplicada a grande variedade de embarcações marítimas ou fluviais. Então, como a definição de um barco pode ser qualquer embarcação, passei a acreditar que, de certa maneira, uma barca pudesse ser também um barco.
E quanto à barcaça? Pensa-se que não tem muito a ver com essa história. Contudo, aproveito a momentânea ‘brilhante-mente’ para citar a canoa, a bateira, o bote, o escaler... Veículos ‘marinho-fluviais’, em parte, similares ao barco. Todavia, deixemos para falar sobre esses tipos de embarcações n’outro conto. Portanto, aproveitarei o inusitado momento para acrescentar um ponto... Assim, fixei a ‘modesta-mente’ num pequeno barco de pescadores. Um veículo aquático de madeira servido de motor! A ‘célere-mente’ havia buscado a imagem d’uma embarcação, em mar aberto que se encontrava distante uns vinte quilômetros da costa, com seis pescadores a bordo e com várias redes prontas para serem lançadas ao mar.
Contudo, um vento ‘forte-sorrateiro’ seguido de chuva e de vários trovões tornou ‘ávidas-as-mentes’ (no sentido de sôfregas) dos tripulantes do ‘barco-pesqueiro’. A pequena embarcação começou a dançar ao som das fortificadas ondas que se formavam. Parecia o anúncio de uma ‘fúnebre-melodia’ sendo entoada pelas bocas e pelas mãos, sabe-se lá de quem!!! ‘Desesperadas-mentes’ e corpos estavam à mercê das condições meteorológicas. Um acontecimento que não era novidade para os pescadores, mas que, embora estivessem, em parte, acostumados, sabiam que alguns ‘fatos’ sempre retornam de maneiras diferentes. Então, encontravam-se frente ao inusitado; estavam cara-a-cara com uma diferente tempestade.
Tempestade no mar, no ar, nas nuvens e na ‘principal e individuais-mentes’... O barco estava ficando alagado e o motor ensopado. Inexistia um jeito, momentâneo, de fazer o motor ligar. O negócio era usar os dois remos, acessórios considerados sobressalentes. Mas... por mais que se remasse o barco continuava a dançar ao som das ondas, sem querer obedecer às puxadas do remo e o ritmo frenético dos remadores. Um dos pescadores com uma ‘abóbora-d’água’ (uma cuia), com sua ‘singular e esforçada-mente’, com seus braços, com suas pernas e seu tronco fazia um enorme esforço para retirar a água que, por ora, inundava o barco. As redes não puderam ser lançadas; o motor e os remos, naquele momento, não serviam para nada. No entanto, a tempestade continuava, e o barco encontrava-se à deriva. Ainda... existiam ‘ardentes-mentes’ a bordo! O que fazer num momento como esse!? Mas, há o que fazer? Há instantes em que a experiência necessita habitar uma ‘nova-mente’, para poder ‘re-vigorar-se’. A fé é fortalecedora, traz força e vontade e faz continuar, acreditar que ainda é possível. Um barco, uma barca, uma canoa ou um enorme navio, não importa, as imprevistas e rigorosas intempéries não escolhem uma embarcação pelo seu tamanho para ‘atacarem’. Assim, é ‘franca e fantástica-a-mente’ que pensa que: ao se ter ‘Deus’ no coração continuar-se-á a ter que passar e a ter que suportar incontáveis desafios. Pois disso ninguém escapa. Contudo, um barco fortalecido pela ‘fé divina’ jamais virará ou será consumido pelo mau tempo. Assim, creio que devamos pensar. Nesse caso, ‘mera e plena-mente’...

(CRÔNICA) AS PORCAS: e os parafusos...

(CRÔNICA) AS PORCAS: e os parafusos...
Prof. Joceny Possas Cascaes.
Confesso! Entrei em parafuso, desorientei-me. Minha mente parecia uma espiral de um parafuso, que havia encontrado a porca de espessura certa para, mediante movimentos giratórios, introduzi-la. As idéias, que pareciam próprias, retorciam cada vez que eu apertava a porca com a chave que buscava as palavras. Mas, uma porca pode ser também a fêmea do porco. Animais sexuados, que possuem órgãos genitais externos. O órgão sexual do porco, quando está pronto para copular e que, por isso, se torna visível é, de certa forma, parecido com um parafuso. ‘Espera-aí’! Estás querendo insinuar algo? Procure esclarecer essa sua prosa.
Estou tentando fazer apenas uma – alucinante - comparação. Comparação-alucinante, por quê? É que continuo meio aturdido. Encontro-me maravilhado, mas as idéias-próprias, representadas pela tal porca, continuam sendo atarraxadas... Portanto, aumentou o grau de minha dificuldade. As palavras de que necessito colocar nesse texto querem desaparecer. Contudo, tenho que tentar seguir adiante. Quando um casal de porcos copulam, o porco introduz na porca o seu órgão sexual que é parecido com um parafuso. Como não se sabe ao certo a origem da palavra parafuso, que pode ter vindo do aramaico, do latim ou, quem sabe, do grego... pensei, desvairadamente, nessa relação introdutória.
Uma porca que recebe o seu parafuso! Pode ter vindo dessa interligação a origem das palavras porca e parafuso. Meras suposições!!! De ‘concreto’ só o cimento misturado a areia, aos cascalhos e a água, posto em reserva para secar e, com isso, endurecer. Porém, nesse caso, o furo da porca não é em espiral, assim não consegue se atarraxar ao parafuso do porco. De um certo prisma, acredito ser ‘bom-agradável’ para os dois animais. Assim, possuem liberdade no movimento sexual, simplesmente porque podem ignorar qualquer tipo de chave. Pode existir similaridade também na questão da sujeira. Os porcos são animais considerados sujos, porque, quando em liberdade, adoram banhar-se na lama.
A porca e o parafuso, peças de ferros, geralmente são manuseados por quem, por necessidade, tem a mão suja de graxa. Além, às vezes é necessário, para atarraxá-los um pouco de alguma substância oleosa, que, de certa maneira, também os deixam sujos. Similaridades insinuantes! Pois, essa narrativa pode deixar de ser factual. Mas, o importante é que ela seja reflexiva. Porque os parafusos podem ser subtraídos ou adicionados. Como assim? Podem faltar ou sobrar parafusos para as porcas ou vice-versa. No entanto, ter parafusos de mais ou de menos, coloca-nos numa situação de desequilíbrio mental. Mas, como, por inúmeras vezes já nos foi dito, “de bobo e de louco todo mundo tem um pouco” (ora assim, ora d’outro jeito), torno-me um pouco mais tranqüilo.
Tranqüilidade popular! Talvez, porque esse provérbio tenha surgido da boca do povo. Mas, inúmeras porcas continuam à espera de um parafuso e continuarão. Será que não são os parafusos que permanecem a aguardar as porcas? Aparentes incertezas! Porque muitas porcas jamais conhecerão um ‘porco-parceiro’ para acasalar. Assim, como muitos porcos também deixarão de conhecer uma companheira disposta a trocar ‘carícias-sexuais’. Pois, as pessoas que criam porcos a serem vendidos para os frigoríficos, possuem, em geral, um número reduzido de matrizes reprodutoras. Ademais, nesses lugares, os porcos, poucos dias após o nascimento, são transformados, numa determinada maneira de falar, em ‘eunucos’.
São castrados e, embora em muitos casos continuem com a ‘cisma’, perdem a virilidade. Tornam-se incapazes de introduzir... embora a porca possa continuar desejosa. Como um parafuso ou uma porca metálicos que são ‘espanados’, que se desgastaram. Perderam suas serventias como encaixes que atarraxam. Mas, preciso afrouxar, um pouco, a porca para que o parafuso possa ser aparafusado. Quer dizer, ao afrouxar, minimamente, o parafuso, evita-se de desgastá-lo, assim adquire-se tempo para matutar o final dessa prosa. Afinal, continua-se em meio à caixa que contém centenas de parafusos, portanto, um pouco perdido. No entanto, encontro-me envolto numa agradável e, ao mesmo tempo, tumultuada maneira de pensar que tende a ser própria. Contudo, responda-me: quantos parafusos (deixaram de fora as porcas) uma pessoa deve possuir para ser considerada equilibrada mentalmente!?