quinta-feira, 1 de outubro de 2009

(CRÔNICA) PEDRA(s)...

(CRÔNICA) PEDRA(s)...
Prof. Joceny Possas Cascaes.

Certa vez, teve uma pedra no caminho do poeta-escritor Drummond. Contudo, a pedra de Drummond o ajudou a impulsioná-lo em seu universo literário. Mas, questionando-se: Existiu um alguém que nunca encontrou uma pedra em seu caminho? Normalmente, durante a trajetória terrena, cada pessoa se depara com incontáveis e diversificadas pedras. E, por incrível que pareça, as pequenas se transformam, de certa forma, nas mais perigosas ou nas mais valiosas. Uma pedra grande no caminho é sempre visível e uma pequena, muitas vezes, torna-se despercebida. Nisso pode residir o perigo ou a vantagem do tropeço... Quem tropeça pode cair, encontrar dificuldades várias, cometer um erro e assim por diante.
E, esses acontecimentos podem, de fato, derrubar ou, numa melhor hipótese, impulsionar... Isso estará sujeito ao desejo de cada pessoa. Portanto, é pessoal! Muitas vezes, não é, totalmente, dependente da pessoa em si, mas de sua trajetória de vida, no que tange ao que vivenciou durante o período entre a gestação e o da sua idade atual. Porém, deixemos a ‘psicologia-social’ à parte... O entendimento dos fenômenos psíquicos e do comportamento humano requer estudos aprofundados. Então, voltemos à pedra. Será que, sem querer, estamos desejando que a nossa pedra se transforme em ouro? Isso era algo pretendido pelos alquimistas e, embora esse assunto tenha ligação com a pedra filosofal, pensamos que não é dessa pedra, propriamente, que estamos falando.
A pedra pode ser algo duro e insensível. Mas, se a pedra for preciosa, ganhará das mãos de um lapidador, que trabalha com esse tipo de material, muita sensibilidade. Pois, a todo artista compete a faculdade de ser especialmente sensível aos elementos que, transmitidos à sua obra e que quando submetido aos olhares de outras pessoas, são capazes de dar origens a emoções. Aproveitamos para fazer alusão à pedra que faz parte de uma peça de um jogo qualquer. Nesse caso, ela é sempre manipulada pelo jogador (que poderá ser um ou mais de um) e também estará susceptível à capacidade de receber impressões de agentes exteriores detectados pelos órgãos dos sentidos daquele(s) que joga(m). É que a pedra é múltipla! Complexa e variada...
E se ela se forma nos rins ou na vesícula de uma pessoa, dependendo do caso, mais cedo ou mais tarde poderá incomodar. É que essa pedra é sempre formada por calcário e com o tempo pode acumular mais cal e, com isso, se tornar maior. Assim, pode haver um agravamento da condição corpórea da pessoa acometida por esse mal. Porém, a pedra pode ser dependente da condição atmosférica. Então, responda-nos o que é uma pedra que depende da condição atmosférica? Nesse caso, estamos falando da pedra de gelo, que deixa de ser fabricada por algum congelador e/ou freezer. A pedra da qual falamos é formada pela ação da natureza em alguns locais e em dias que, necessariamente, não precisam ser frios. Quando as gotas d’águas atravessam uma camada de ar frio acabam caindo em forma de pedras de gelo. Um fenômeno conhecido como granizo.
Mas, apenas para ‘re-memorar’, talvez, seja importante salientar que o termo pedreiro é derivado de pedra. A princípio o pedreiro era aquele profissional que trabalhava em obras com pedras. Porém, esse termo, no avançar do tempo, tornou-se bem mais amplo. Contudo, a pedra pode estar em muitos lugares: no fragmento de rocha; no quadro-negro; na mesa de sinuca; num pedaço de qualquer substância considerada dura; na formação rochosa; na brita... A pedra pode ser sepulcral!!! Como assim? Ela poderá estar na lápide do sepulcro. Mas, a pedra pode servir também para o registro de algo que – podendo ser bom – ao ser encravado permanece eterno. Analisemos bem: a pedra não é do mal. Sobre ela podemos edificar a nossa morada, pois seu fundamento, em geral, é rijo e natural.
Eis as pedras: que fundamentam; que edificam; que protegem; que ao serem arremessadas (naturalidades) quebram algumas vidraças; que viram poesias; que são porosas; que são ásperas, lisas, pontiagudas, retas, tortas... De muitos tipos e inúmeros tamanhos. Mas, existem ainda a pedra-pomes, de natureza vulcânica e a pedra-sabão, que, necessariamente, deixa de ser o ‘sabão-em-pedra’. Pois, a pedra-sabão, por ser de natureza mole, é freqüentemente usada para se fazer esculturas. No caminho do grande escultor Aleijadinho também existiram muitas pedras. Pedras-sabão! Portanto, o cotidiano das pessoas está rodeado de pedras. As pedras são partes intrínsecas dos começos e importantes nos ‘re-começos’. Porquanto, em todos os caminhos sempre existirão variadas, enigmáticas e significativas pedras...

(CRÔNICA) O NOEL...

(CRÔNICA) O NOEL...
Prof. Joceny Possas Cascaes

Uma das versões da história conta que São Nicolau nasceu pelos idos do século IV, na cidade de Myra, onde fica atualmente a Turquia, na Ásia Menor. Dizem que esse Santo fez vários milagres, mas foi sua bondade junto com a prática de distribuir presentes às crianças que o tornou conhecido. Esta atitude de devoção espalhou-se por toda a Europa e surgiu daí a figura representativa do Papai Noel. Pausa... Necessita-se saber por que o chamam de bom velhinho. Hum! Quando o Papai Noel surgiu – seduzindo a imaginação dos adultos e das crianças – já possuía uma idade avançada.
Será que é por causa disso que ele é chamado de velhinho bom? (...) Se o Papai Noel daquele tempo já tinha uma certa idade, logicamente, hoje já teria que ser, no mínimo, um ‘Tatatatataravô’ Noel. Porém, continua Papai. Que bom!!! Mas, é época em que o Noel – que mora na Noruega (lugar de frio extremo) - começar a se preparar para o Natal. Suas oito renas são sempre cuidadas de maneira especial. Precisam estar bem alimentadas para puxarem os trenós, cheios de inúmeros presentes, por extensivos quilômetros. Percurso que – mesmo realizado com amor - se torna extenuante para o Noel e seus estimados bichos.
A preparação para a viagem, ao redor do Planeta, acontece com uma semana de antecedência. Todos os pedidos, que já foram analisados e revisados, feitos através de cartas, são arrumados pela equipe do bom velhinho, por ordem de entrega. Enquanto isto, a fábrica de brinquedos do Noel continua a funcionar a todo vapor. Há presentes para todos os gostos e brinquedos para todas as crianças. Opa! Preciso de um momento para “re-pensar” sobre isto. Quando, naquele tempo, São Nicolau distribuía presentes em sua cidade era bem mais fácil fazê-los chegar às mãos de todas as criancinhas.
Esta prática tornou-se um hábito nos países cristãos, então pelo aumento do número da população mundial – atualmente, estima-se que um terço da população mundial, dois bilhões de pessoas sejam cristãs – ficou mais difícil entregar os presentes. Será que é por causa disso que nem todas as crianças cristãs do mundo recebem presentes? Há dúvidas... Nesse caso, por que disseram que o Papai Noel entregará brinquedos para todas as crianças? Quem sabe, os brinquedos sejam entregues somente às crianças que escreveram ao Noel ou para aquelas que se comportaram durante o ano!!!
Mas, chegou o momento esperado em que o bom velhinho começa a se vestir. O traje vermelho, o cajado, o saco... Os últimos presentes são colocados no trenó; as renas ajeitadas. Oh! Oh! Oh! Acenos vários. Aconteceu o instante da partida. Destino: entregar presentes às criancinhas – nos vários lugares do Mundo. Lá vai o velhinho entrando nas casas pela chaminés da lareira. Ih!!! Agora clarificou. O Noel só entra em casas que têm lareiras. Mas, será que é isso mesmo? Se isto for verdade, no meu lar ele nunca entrará. Desta forma, ele deixará também de entrar na casa de milhares de crianças. Por quê?
Lareiras só existem em regiões frias e desenvolvidas – em locais gélidos e pobres inexistem ou são escassas e, nesses lugares, são vistas, como símbolos de riqueza. Em qualquer lugar que faça muito frio há necessidade de se contar com algum paliativo para se aquecer. E, como são entregues os presentes em regiões quentes, onde o uso de lareiras é dispensado? Por isso, peço piedade aos seguintes “Noéis”: Santa Claus (EUA e Canadá), Kriss Kringle (Alemanha), Papa Noel (Países de língua espanhola), Pare Noel (França)... Também, ao Noel Papai brasileiro. Tenham, por favor, compaixão das criancinhas. As crianças não precisam, apenas, de um Pai Noel entregador de brinquedos bufão.
Elas – as crianças – desejam rir, sim. Porém, precisam de alguém que as ensine a sorrir. Que lhes mostre o riso da esperança, da pura alegria (por estarem vivendo dignamente), que alimentem o regozijo da espera de um bom futuro pessoal, profissional e planetário. Porque o Noel – de qualquer lugar – antes de distribuir presentes deveria ensinar as pessoas a pensar no nascimento de Cristo, para proporcionar oportunidades de reflexão da vida. Portanto, que o dia 25 de dezembro sirva para que todas as pessoas (mamães, papais...) pensem em fazer com que cada dia seja repleto de motivos para se comemorar os novos nascimentos. Que “re-surja” um sensato Noel, que entre pela porta – indistintamente – das casas ensinando as pessoas a viverem diariamente o amor, enfim, incondicional...

(CRÔNICA) O PONTO

(CRÔNICA) O PONTO.
Prof. Joceny Possas Cascaes.

Até certo ponto o ponto se torna interessante. É empregado no final de frases declarativas, expositivas. Mas, há outros pontos gramaticais: o ponto-e-vírgula, o ponto de exclamação, o ponto de interrogação, os dois-pontos... Ih! Esqueci de falar dos três pontinhos seguidos. Três pontos que se seguem!? Fala-se das reticências. Dúvidas... Possuem, também, a finalidade de indicar sugestão. Sugerir é... dar a entender, a insinuar. Porém, a simpatia do ponto está além-explicação.
Senão, veja-se. Certo alguém estava no ponto. Que ponto? No ponto de ônibus. Aguardava o coletivo. Estava num bairro e desejava dirigir-se a outro. De repente, apareceu uma outra pessoa que tinha, no pescoço, uma mancha arredondada, pequena que, de certa forma, indicava um ponto. Esta, havia saído do trabalho (final de expediente) e trazia à mão um cartão. Cartão à mostra. Instante em que, através de um diálogo, as duas pessoas passam a apresentar seus pontos de vista. Chamá-las-emos de primeira e segunda a chegar no ponto.
A primeira – O que é isso que trazes à vista?
A segunda – Um cartão-ponto.
A primeira – Você me fez lembrar de uma peça de teatro.
A segunda – Por quê?
A primeira – Lembrei-me do ponto. Da pessoa que numa peça teatral sopra o texto aos atores.
A segunda – O quê?
Neste ínterim, o ônibus encosta no ponto. Os dois sobem e tomam assento. Sentam-se lado a lado. A prosa continua. Mas, o fio da meada, o ponto em que estava o assunto anterior exauriu-se. Esquecimento duplo. (...). O ponto da unidade semântica tomou outro rumo. O norte (por que não o sul?) da conversa deixou de ser o mesmo. Então...
A primeira – Tenho saudades dos doces da minha avó.
A segunda – Tens saudades da tua avó ou dos doces que ela fazia?
A primeira – Das duas coisas. Mas, o ponto que ela alcançava em seus doces levava-nos...
A segunda – A que lugar?
A primeira – Ao ponto pacífico.
A segunda – O que o pacífico tem a ver com isso?
A primeira – Nada de oceano. Estou falando de tranqüilidade, de algo inconteste. Ninguém, jamais, se atreveu a contestar as coisas boas que a minha avó fazia.
A segunda – Vou entregar os pontos. Mas, estou convicto de que não perdi. Ganhei!!! Aprendi, e muito. No próximo ponto de parada do ônibus eu desço.
A primeira – Antes, desejo colocar os pontos nos is. Estou a ponto de... explodir de alegria. Por isso, foi bom ter passado estes momentos com você.
A segunda – O que aconteceu?
A primeira – Sou candidato ao primeiro emprego. Fiz uma prova. Alcancei os pontos.
A segunda – Que pontos?
A primeira – Um ponto era decisivo: o mínimo era sete. Tirei nove. O emprego é meu. Começo amanhã.
Momento em que o ônibus parou.
A segunda - Levantou-se para descer e sorrateira, diz: alcançaste o ponto alto de um dia. O clímax! A dignidade de alguém pode depender de seu emprego.
A primeira – Todo ponto pode transformar-se num ponto de vista e a vista de um ponto é múltipla, complexa. Que esta nossa primeira conversa faça parte de um ponto final. Pronta para dar espaço para que outros pontos possam fazer parte de repentinos encontros. Até mais...
A segunda – Saltando do ônibus, grita: o teu ponto não era antes do meu?

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

O BELO E O CORPO: descortinando um pensar...

O BELO E O CORPO: descortinando um pensar...
Prof. Joceny Possas Cascaes.

De acordo com o educador e filósofo Janes Tomelin, (2002, p. 98), “O dilema da estética consiste no seguinte paradoxo: se o belo está naquilo que é percebido ou na forma como é percebido. O debate está em decidir se o belo é apenas um conceito ou um denominador comum das coisas belas; se é um juízo de valor ou um juízo de fato”. O autor questiona - racionalmente – o paradigma de beleza na arte, no olhar dirigido aos objetos e seres em geral. Deixa transparecer que a fealdade, qualidade do que é feio, está – também – de forma significativa embutida no olhar.
Mas, referindo-se ao corpo, a visão atual de corpo belo e saudável nos remete a lucro e a uma certa alienação. Uma empresa que usa os meios de comunicação de massa para vender um produto de beleza, um bronzeador, por exemplo, mostra a imagem de corpos considerados ‘perfeitos’ usando o produto ou mostrando o efeito – belo - que ele deixou após o seu uso. Quer vender a idéia de que seu cosmético, além de ser bom, tem ação rápida, mágica, verdadeira... Nesse caso, apresenta o corpo – unicamente – como um objeto de uso, como satisfação mercadológica e em benefício de grupos ideológicos e ou políticos que estão à frente do poder.
Sendo o corpo humano uma estrutura física inserida no dia-a-dia, portanto, sujeita aos ‘desgastes’ ocasionados por essa vivência: estresse, má alimentação, o passar da idade, o corre-corre hodierno, o dormir mal etc., é necessário prestar atenção nesse tipo de veiculação propagandista. Para quem já tem um corpo bonito, continuará – por algum tempo – com esse mesmo corpo. Outros poderão se beneficiar momentaneamente, mas precisam se conscientizar de que - na maioria dos casos - essas receitas são ineficazes.
O corpo é a presença real de relacionamento com o mundo, porque nos faz sentir e falar. Mostra – de certa forma – quem somos e como vivemos, no mesmo tempo que, clama, se expressa e demonstra comportamentos advindos de relacionamentos sociais que se tornam verdadeiros reveladores culturais. Porém, continuamos inseridos num contexto social que faz do corpo uma ferramenta de competição atada ao lucro de uma sociedade pragmática, que visa – exclusivamente – interesses pessoais e/ou empresariais.
O impacto causador do “benefício-lucro” instituído pela ‘macro-visão’ de belo corpo – imposição crescente, de certa forma, do neoliberalismo – torna-se um atenuante, em vários casos, do crescimento pessoal e profissional do ser. Os gordos, os feios, os magros demais, os altos, os baixos, os deficientes (em suas várias manifestações), o gênero, além de outros elementos se tornam fatores de exclusões presentes nos relacionamentos tidos como “humanos”, nas atividades diárias e nas contratações realizadas por muitas empresas.
Quebrar tabus e mudar hábitos culturais exigem uma ‘aprendência’ contextualizada na história de vida pessoal e científica. Toda leitura de mundo precisa estar embasada em fatos e acontecimentos “histórico-sociais”. O que cada um sabe – o que foi aprendido socialmente - não é suficiente para que a mudança aconteça. No caso do ‘corpo-belo’, há necessidade de se pensar o corpo como um elemento de resistência e de libertação. Dependendo do ângulo que se vê, todo corpo é belo. Por isso, enfrentar a realidade e se sentir bem com o corpo que se tem é fator decisivo de qualidade de vida.
Ter saúde não significa a apresentação de um belo corpo ou de um corpo feio. Porém, cuidar da estética e da saúde é fator preponderante de vida para os que se sentem e que são vistos como belos e feios. Mas, voltando a Tomelin, precisamos decidir se o belo está naquilo que é percebido ou na forma como é percebido. Pode estar também na visão de ambas as partes. O importante é que quem vê o outro se sinta ou se perceba naquilo que está vendo, pois quem aprende a se gostar tem maiores probabilidades de ver as pessoas como uma extensão de si mesmo e – conseqüentemente – belas.

BRASIL: em desenvolvimento?

BRASIL: em desenvolvimento?
Professor: Joceny Possas Cascaes.

Segundo dados do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNDU - 1999) em relação ao Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), o Brasil ocupa a décima quarta posição do Continente Americano. Estamos atrás do Chile, Uruguai, Costa Rica, Venezuela, Cuba entre outros. Esses dados indicam também que somos donos da quinta maior Renda per capita do nosso continente, estimada em 5.029 dólares. Mesmo assim, continuamos subdesenvolvidos...
O Índice de Desenvolvimento Humano do Brasil vem melhorando a cada ano, e nos faz manter a ilusão de que estamos rumando em direção ao desenvolvimento. O avanço da medicina, a divulgação das práticas de higiene social e as campanhas de saúde pública contribuíram para a redução das taxas de mortalidade. Outrossim, através de campanhas de planejamento familiar e a participação da mulher no mercado de trabalho contribuíram para que nos últimos anos houvesse um declínio do número de nascimento de filhos por família.
Sabemos que diminuiu o número de analfabetos e que a expectativa de vida do brasileiro aumentou. O Brasil rural tradicional não é mais o mesmo, o avanço tecnológico, os meios de comunicação, etc., estão contribuindo para a transformação desse cenário rural. Porém, há indícios de que continuaremos, por muitos anos, subdesenvolvidos. Somos detentores de uma razoável renda per capita, que é impedida de ser distribuída eqüitativamente porque é sugada pela dívida externa.
Cada brasileiro que nasce, nasce com uma dívida impagável. Setenta e dois porcento de nossa dívida externa são decorrentes do aumento dos juros cobrados pelo FMI. Se não houver um rompimento dos países subdesenvolvidos com esse sistema econômico suplantado pelos países ricos e enquanto continuarmos a receber migalhas e formos impedidos de sentar – igualitariamente - à mesma mesa, continuaremos sendo vítimas da exploração. Há uma tendência que nos faz pensar que estamos vivendo num país em desenvolvimento e isso é um embuste, é uma farsa. Ou um país é desenvolvido ou ele é subdesenvolvido.
Uma Empresa Multinacional que se instala no Brasil, ou em qualquer país subdesenvolvido, não faz isso por acaso. Ela pensa em lucro e busca mão-de-obra barata. Mesmo contribuindo para que o trabalhador coloque comida em sua mesa, isto acaba fazendo parte de uma forma de exploração social. Ao mesmo tempo, pouco colabora para que tal país se torne desenvolvido.
É possível – então - mudar as relações econômicas entre os povos? Eis uma pergunta difícil de ser respondida. Precisamos que as nossas crianças, jovens e adultos se tornem sujeitos independentes, “re-plenos” de deveres, mas cativos de direitos. Um regime de exploração só pode ser rompido quando se tem consciência dessa exploração e quando se perde o medo de retaliações. Se o Brasil romper com esse regime, só ganhará, pois deixar de pagar a dívida externa colocaria o país numa situação privilegiada. Não é por acaso, que os países ricos e em especial os EUA, vêm mantendo uma “boa” relação (principalmente econômica) com o Brasil.
Uma das maneiras de romper com essa situação de miserabilidade, de servidão é o investimento em educação. Não falamos daqueles que adquirem conhecimentos para – também – fazerem parte desse sistema que já está instalado e que há anos não oferece oportunidade aos mais pobres. Há necessidade de “cabeças” que pensem diferente, que ousem para criarem condições de mudanças das regras econômicas entre os povos.
Somos cidadãos responsáveis pela “re-construção” desse novo mundo. Mesmo que o IDH do Brasil continue melhorando só poderemos nos tornar – verdadeiramente – desenvolvidos a partir do momento em que a educação escolar, familiar e social contribuir com essas mudanças. Um povo integralmente desenvolvido deixará de aceitar migalhas e jamais receberá dinheiro para permitir que a opressão prossiga e seu país continue no rol dos subdesenvolvidos. Um povo culturalmente desenvolvido saberá romper com essa atual e caótica relação econômica em que vivem os países subdesenvolvidos. Desta maneira, os brasileiros terão domínio – de fato - de suas atitudes e se tornarão donos – enfim - de suas próprias terras.

A ESCOLA DOS SONHOS... e a possível.

A ESCOLA DOS SONHOS... e a possível.
Prof. Joceny Possas Cascaes.

Há pessoas, dentre elas alguns educadores, que sonham com uma Escola de Ensino Fundamental e Médio em que há um bom repasse de conhecimento, boas relações e nenhum (ou quase nenhum) conflito em seu meio. Nesse espaço, que se supunha de relações felizes, todos falam a mesma língua e, por conseguinte, se entendem. O professor repassa ou troca o conhecimento e todos aprendem. Posturas são entendidas e adotadas em conjunto de maneira que – imediatamente – os alunos, os professores, os funcionários e a direção se sentem envolvidos e contagiados por elas. As ações, nesse educandário, passam a ter um único foco e, com isso, uma unânime direção é seguida. Magicamente, os objetivos gerais da Escola passam a ser praticados com êxito.
É tão grande o entrosamento que as carteiras deixam de ser riscadas, os banheiros permanecem – sempre – cheirosos e as salas, as dependências e o pátio da ‘Escola Sonhada’ nunca sujam, pois todos que a freqüentam são, extremamente, educados. No final de cada ano, cada aluno que se forma (entenda: que sai da fôrma) aprende a preservar o Patrimônio Escolar. Com isso, os filhos - dos alunos - os netos, os parentes e os amigos, que passam a estudar nessa escola, encontram-na sempre em bom estado de conservação. Aparentemente, já não se justifica mais a contratação de pessoas para realizarem os Serviços Gerais da Escola como, limpezas e manutenções.
Nesse lugar, as cores, finalmente, são entendidas e respeitadas. Os direitos são iguais a todos. As trocas de idéias sobre religiões são discutidas e ninguém diz mais que a sua crença é que é a certa, pois o objetivo é entender o pensamento diferente. Os pobres e os ricos são tratados da mesma maneira e aprendem. As disciplinas são ministradas dentro de um contexto – meramente -“interdisciplinar” e ajudam o aluno a pensar a história, em suas várias formas, diferente. A Escola Sonhada consegue fazer com que todos tirem boas notas, embora se tornem robôs-humanos.
Há uma impressão de que “Pinóquio o boneco de madeira” freqüenta cada carteira desse Estabelecimento de Ensino, como se tivesse se ‘reencarnado’ nos alunos. Como na fábula reconstruída por Rubem Alves: era desejo do ‘Vô Gepêto’ criador desse boneco, que Pinóquio recebesse Educação e com isso se transformasse em gente. Porém, segundo Alves, quantos alunos se formam (... a fôrma novamente) e saem da escola como se fossem bonecos de pau.
Embora sendo apenas imaginação, o que foi contado acima, existem algumas pessoas (que de maneira alguma devem ser consideradas culpadas) que sonham com o dia em que essa Escola se transforme em realidade; com o dia em que os alunos chegarão na Escola, completamente, educados. Sabe-se que a sociedade e a família ajudam a preparar ‘gente’ para a vida, mas...
Questões econômicas, o analfabetismo (em suas várias manifestações) de muitos pais, a falta de oportunidade justa para todos, as crenças, as raças, os “pré-conceitos”, as doenças sociais, a própria personalidade, o meio onde se vive, a inobservância das leis... são alguns fatores que emperram o avançar de muitas crianças, jovens e adultos. Nesse sentido, lidar com estruturas corporais pensantes (os alunos), que estão em constante crescimento e transformação, nunca foi fácil e por um bom tempo continuará sendo difícil.
Num país (embora não dependa só desses fatores) em que há empregos, preocupação com a saúde, com a educação, com a alimentação, com a moradia e com os salários mais justos é mais fácil se conseguir bons resultados educacionais. Porém, além de penoso seria uma catástrofe que uma estrutura escolar fosse da forma em que foi imaginada. Mas, é possível, e isso deixa de ser um sonho, que ela seja contemplada, quando as condições permitem, com uma boa qualidade educacional.
E - com boa qualidade educacional - o ‘Educador’, consciente de seus atos – passa a falar a língua de seus pupilos e reconhecer as nuanças, as diversidades de expressões e entendimentos; algo, que de maneira tênue, já está acontecendo... Aprende, também, que a Escola feliz jamais seria a explicitada (a sonhada), porque sendo robôs os alunos repetiriam ações insensíveis.
Por isso, a Escola, incluindo todos os aparatos desse meio, tem a função de educar e colaborar para que as pessoas que a freqüentam entendam que ‘gente’, que ‘ser-humano’ - na verdadeira concepção dessas palavras – nunca nascerá pronto. Nesse sentido, como uma maneira de impulsionar ainda mais a Educação devem questionar – cotidianamente - para que serve a pessoa do “Professor-mediador”!?

A ARTE DA CONVERSAÇÃO.

A ARTE DA CONVERSAÇÃO.
Professor Joceny Possas Cascaes. Ibirama – SC

Acreditamos que uma opinião seja uma suposição própria. Seu uso está ligado ao repasse de uma ou mais idéia com o objetivo de torná-la pública, propiciando a quem a recebe a aquisição de novos conhecimentos ou a ampliação dos que já possuem, mesmo quando, por vários motivos, a mesma seja aceita ou rejeitada. Porém, só podemos discordar de uma idéia quando o nosso conhecimento nos permite apresentar uma outra que, necessariamente, não precisa ser melhor, mas seja, pelo menos, compatível com a apresentada.
Oposição de idéias é necessário para o desenvolvimento do conhecimento pessoal que conseqüentemente poderá propiciar a “re-construção” de um saber social. Sob a luz da dialética, isto é, através de conversas que respeitam pontos de vista diferentes, Sócrates se tornou admirado por um grande número de pessoas. Isso ocorreu durante o famoso “século de Péricles”, idade de ouro da civilização ateniense. Esse grande filósofo, utilizando-se da arte da conversação, foi influenciado e ao mesmo tempo influenciou o desenvolvimento da cultura grega.
E é sob a ótica da concordância e/ou oposição que expressamos nossas idéias. Somos contrários a certezas absolutas. Elas nos conduzem ao final de uma conversa, isto é, levam-nos a pensar que apenas uma pessoa é detentora da razão, deixando, muitas vezes, a outra ou as demais sem palavras. Mesmo quando dominamos o assunto de que falamos, devemos nos lembrar de que tudo é rodeado de complexidade e diversidade.
O intelectual, crítico e jornalista norte-americano, Henry Louis Mencken (1880-1956) era “avesso a certezas absolutas e a tudo o que possa servir de obstáculo para o uso da razão”. Para atenuarmos a presença desses obstáculos em nossas conversas é necessário que o bom senso e a prudência se façam presentes nesse cenário. Quando mergulhamos num mar de certezas absolutas, muitas vezes sem nos darmos conta disso, costumamos voltar à superfície repletos de novas idéias e de dúvidas que nos farão buscar novas respostas.
De acordo com Rogers (1961, p. 32) “quando posso aceitar uma outra pessoa, o que significa especificamente aceitar os sentimentos, as atitudes e as crenças que a constituem como elementos integrantes reais e vitais, é que eu posso ajudá-la a tornar-se pessoa”. Não é de estranhar que muitos autores modernos tenham sido influenciados por este psiquiatra e pedagogo. Rogers, em outras palavras, diz que a vida, em seu lado melhor, é um processo que passa, que muda e que nada está fixado.
Quando dialogamos, falamos de nós próprios para o outro e o outro faz a mesma coisa. Se deixarmos de entender e respeitar o que o outro tem a nos dizer não podemos, na mesma proporção, esperar que o mesmo entenda e receba alegremente o que temos também a dizer. O verdadeiro diálogo exige que um esteja ao lado do outro e não que um se coloque em posição de superioridade, como é o caso de alguém que "está convencido" de que sabe. O diálogo exige respeito total ao mundo do outro, exige ponderação e aceitação.
Em geral, temos idéias diferentes. Por isso, numa conversa é essencial que se realce a presença dos dois ouvidos, para que possamos prestar bastante atenção no que o outro tem a nos dizer. Não há fórmulas mágicas que determinam como essa relação deve acontecer; há, entre outras coisas, consensos e respeito às pessoas com as quais estamos conversando.
Algures, alguém perguntou: o que fazer para se conversar com aquele tipo de pessoa que pensa que só ela deve falar e que tenta impor certezas absolutas em tudo o que diz? Esta é uma pergunta que leva a várias respostas e a tomada de atitudes diferentes. Somos adeptos de que, sempre que for possível, devemos nos envolver com coisas que proporcionem prazer. Estaremos sendo, então, medíocres se nos envolvermos, concretamente, com tal situação. Pois, de acordo com Oscar Wilde: “Só os medíocres dão o melhor de si o tempo todo.” Ademais, entendemos que, em alguns momentos, é melhor relaxar do que tentar remediar.