sexta-feira, 4 de setembro de 2009

O BELO E O CORPO: descortinando um pensar...

O BELO E O CORPO: descortinando um pensar...
Prof. Joceny Possas Cascaes.

De acordo com o educador e filósofo Janes Tomelin, (2002, p. 98), “O dilema da estética consiste no seguinte paradoxo: se o belo está naquilo que é percebido ou na forma como é percebido. O debate está em decidir se o belo é apenas um conceito ou um denominador comum das coisas belas; se é um juízo de valor ou um juízo de fato”. O autor questiona - racionalmente – o paradigma de beleza na arte, no olhar dirigido aos objetos e seres em geral. Deixa transparecer que a fealdade, qualidade do que é feio, está – também – de forma significativa embutida no olhar.
Mas, referindo-se ao corpo, a visão atual de corpo belo e saudável nos remete a lucro e a uma certa alienação. Uma empresa que usa os meios de comunicação de massa para vender um produto de beleza, um bronzeador, por exemplo, mostra a imagem de corpos considerados ‘perfeitos’ usando o produto ou mostrando o efeito – belo - que ele deixou após o seu uso. Quer vender a idéia de que seu cosmético, além de ser bom, tem ação rápida, mágica, verdadeira... Nesse caso, apresenta o corpo – unicamente – como um objeto de uso, como satisfação mercadológica e em benefício de grupos ideológicos e ou políticos que estão à frente do poder.
Sendo o corpo humano uma estrutura física inserida no dia-a-dia, portanto, sujeita aos ‘desgastes’ ocasionados por essa vivência: estresse, má alimentação, o passar da idade, o corre-corre hodierno, o dormir mal etc., é necessário prestar atenção nesse tipo de veiculação propagandista. Para quem já tem um corpo bonito, continuará – por algum tempo – com esse mesmo corpo. Outros poderão se beneficiar momentaneamente, mas precisam se conscientizar de que - na maioria dos casos - essas receitas são ineficazes.
O corpo é a presença real de relacionamento com o mundo, porque nos faz sentir e falar. Mostra – de certa forma – quem somos e como vivemos, no mesmo tempo que, clama, se expressa e demonstra comportamentos advindos de relacionamentos sociais que se tornam verdadeiros reveladores culturais. Porém, continuamos inseridos num contexto social que faz do corpo uma ferramenta de competição atada ao lucro de uma sociedade pragmática, que visa – exclusivamente – interesses pessoais e/ou empresariais.
O impacto causador do “benefício-lucro” instituído pela ‘macro-visão’ de belo corpo – imposição crescente, de certa forma, do neoliberalismo – torna-se um atenuante, em vários casos, do crescimento pessoal e profissional do ser. Os gordos, os feios, os magros demais, os altos, os baixos, os deficientes (em suas várias manifestações), o gênero, além de outros elementos se tornam fatores de exclusões presentes nos relacionamentos tidos como “humanos”, nas atividades diárias e nas contratações realizadas por muitas empresas.
Quebrar tabus e mudar hábitos culturais exigem uma ‘aprendência’ contextualizada na história de vida pessoal e científica. Toda leitura de mundo precisa estar embasada em fatos e acontecimentos “histórico-sociais”. O que cada um sabe – o que foi aprendido socialmente - não é suficiente para que a mudança aconteça. No caso do ‘corpo-belo’, há necessidade de se pensar o corpo como um elemento de resistência e de libertação. Dependendo do ângulo que se vê, todo corpo é belo. Por isso, enfrentar a realidade e se sentir bem com o corpo que se tem é fator decisivo de qualidade de vida.
Ter saúde não significa a apresentação de um belo corpo ou de um corpo feio. Porém, cuidar da estética e da saúde é fator preponderante de vida para os que se sentem e que são vistos como belos e feios. Mas, voltando a Tomelin, precisamos decidir se o belo está naquilo que é percebido ou na forma como é percebido. Pode estar também na visão de ambas as partes. O importante é que quem vê o outro se sinta ou se perceba naquilo que está vendo, pois quem aprende a se gostar tem maiores probabilidades de ver as pessoas como uma extensão de si mesmo e – conseqüentemente – belas.

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