domingo, 23 de agosto de 2009

AULAS DE SOCIOLOGIA... (TEXTOS)



Vygotsky e o conhecimento

FONTE: WEB



Lev S. Vygotsky (1896-1934), professor e pesquisador foi contemporâneo de Piaget, e nasceu em Orsha, pequena cidade da Bielorrusia em 17 de novembro de 1896, viveu na Rússia, quando morreu, de tuberculose, tinha 37 anos.Construiu sua teoria tendo por base o desenvolvimento do indivíduo como resultado de um processo sócio-histórico, enfatizando o papel da linguagem e da aprendizagem nesse desenvolvimento, sendo essa teoria considerada histórico-social. Sua questão central é a aquisição de conhecimentos pela interação do sujeito com o meio.As concepções de Vygotsky sobre o processo de formação de conceitos remetem às relações entre pensamento e linguagem, à questão cultural no processo de construção de significados pelos indivíduos, ao processo de internalização e ao papel da escola na transmissão de conhecimento, que é de natureza diferente daqueles aprendidos na vida cotidiana. Propõe uma visão de formação das funções psíquicas superiores como internalização mediada pela cultura.As concepções de Vygotsky sobre o funcionamento do cérebro humano, colocam que o cérebro é a base biológica, e suas peculiaridades definem limites e possibilidades para o desenvolvimento humano. Essas concepções fundamentam sua idéia de que as funções psicológicas superiores (por ex. linguagem, memória) são construídas ao longo da história social do homem, em sua relação com o mundo. Desse modo, as funções psicológicas superiores referem-se a processos voluntários, ações conscientes, mecanismos intencionais e dependem de processos de aprendizagem.Mediação: uma idéia central para a compreensão de suas concepções sobre o desenvolvimento humano como processo sócio-histórico é a idéia de mediação: enquanto sujeito do conhecimento o homem não tem acesso direto aos objetos, mas acesso mediado, através de recortes do real, operados pelos sistemas simbólicos de que dispõe, portanto enfatiza a construção do conhecimento como uma interação mediada por várias relações, ou seja, o conhecimento não está sendo visto como uma ação do sujeito sobre a realidade, assim como no construtivismo e sim, pela mediação feita por outros sujeitos. O outro social, pode apresentar-se por meio de objetos, da organização do ambiente, do mundo cultural que rodeia o indivíduo.A linguagem, sistema simbólico dos grupos humanos, representa um salto qualitativo na evolução da espécie. É ela que fornece os conceitos, as formas de organização do real, a mediação entre o sujeito e o objeto do conhecimento. É por meio dela que as funções mentais superiores são socialmente formadas e culturalmente transmitidas, portanto, sociedades e culturas diferentes produzem estruturas diferenciadas.A cultura fornece ao indivíduo os sistemas simbólicos de representação da realidade, ou seja, o universo de significações que permite construir a interpretação do mundo real. Ela dá o local de negociações no qual seus membros estão em constante processo de recriação e reinterpretação de informações, conceitos e significações.O processo de internalização é fundamental para o desenvolvimento do funcionamento psicológico humano. A internalização envolve uma atividade externa que deve ser modificada para tornar-se uma atividade interna, é interpessoal e se torna intrapessoal.Usa o termo função mental para referir-se aos processos de: pensamento, memória, percepção e atenção. Coloca que o pensamento tem origem na motivação, interesse, necessidade, impulso, afeto e emoção.A interação social e o instrumento lingüístico são decisivos para o desenvolvimento.Existem, pelo menos dois níveis de desenvolvimento identificados por Vygotsky: um real, já adquirido ou formado, que determina o que a criança já é capaz de fazer por si própria, e um potencial, ou seja, a capacidade de aprender com outra pessoa.A aprendizagem interage com o desenvolvimento, produzindo abertura nas zonas de desenvolvimento proximal (distância entre aquilo que a criança faz sozinha e o que ela é capaz de fazer com a intervenção de um adulto; potencialidade para aprender, que não é a mesma para todas as pessoas; ou seja, distância entre o nível de desenvolvimento real e o potencial ) nas quais as interações sociais são centrais, estando então, ambos os processos, aprendizagem e desenvolvimento, inter-relacionados; assim, um conceito que se pretenda trabalhar, como por exemplo, em matemática, requer sempre um grau de experiência anterior para a criança.O desenvolvimento cognitivo é produzido pelo processo de internalização da interação social com materiais fornecidos pela cultura, sendo que o processo se constrói de fora para dentro. Para Vygotsky, a atividade do sujeito refere-se ao domínio dos instrumentos de mediação, inclusive sua transformação por uma atividade mental.Para ele, o sujeito não é apenas ativo, mas interativo, porque forma conhecimentos e se constitui a partir de relações intra e interpessoais. É na troca com outros sujeitos e consigo próprio que se vão internalizando conhecimentos, papéis e funções sociais, o que permite a formação de conhecimentos e da própria consciência. Trata-se de um processo que caminha do plano social - relações interpessoais - para o plano individual interno - relações intra-pessoais.Assim, a escola é o lugar onde a intervenção pedagógica intencional desencadeia o processo ensino-aprendizagem.O professor tem o papel explícito de interferir no processo, diferentemente de situações informais nas quais a criança aprende por imersão em um ambiente cultural. Portanto, é papel do docente provocar avanços nos alunos e isso se torna possível com sua interferência na zona proximal.Vemos ainda como fator relevante para a educação, decorrente das interpretações das teorias de Vygotsky, a importância da atuação dos outros membros do grupo social na mediação entre a cultura e o indivíduo, pois uma intervenção deliberada desses membros da cultura, nessa perspectiva, é essencial no processo de desenvolvimento. Isso nos mostra os processos pedagógicos como intencionais, deliberados, sendo o objeto dessa intervenção : a construção de conceitos.O aluno não é tão somente o sujeito da aprendizagem, mas, aquele que aprende junto ao outro o que o seu grupo social produz, tal como: valores, linguagem e o próprio conhecimento.A formação de conceitos espontâneos ou cotidianos
desenvolvidos no decorrer das interações sociais, diferenciam-se dos conceitos científicos adquiridos pelo ensino, parte de um sistema organizado de conhecimentos. Aprendizagem é fundamental ao desenvolvimento dos processos internos na interação com outras pessoas.Ao observar a zona proximal, o educador pode orientar o aprendizado no sentido de adiantar o desenvolvimento potencial de uma criança, tornando-o real. Nesse ínterim, o ensino deve passar do grupo para o indivíduo. Em outras palavras, o ambiente influenciaria a internalização das atividades cognitivas no indivíduo, de modo que, o aprendizado gere o desenvolvimento. Portanto, o desenvolvimento mental só pode realizar-se por intermédio do aprendizado.
Vygotsky, teve contato com a obra de Piaget e, embora teça elogios a ela em muitos aspectos, também a critica, por considerar que Piaget não deu a devida importância à situação social e ao meio. Ambos atribuem grande importância ao organismo ativo, mas Vygotsky destaca o papel do contexto histórico e cultural nos processos de desenvolvimento e aprendizagem, sendo chamado de sociointeracionista, e não apenas de interacionista como Piaget.Piaget coloca ênfase nos aspectos estruturais e nas leis de caráter universal ( de origem biológica) do desenvolvimento, enquanto Vygotsky destaca as contribuições da cultura, da interação social e a dimensão histórica do desenvolvimento mental.
Vera Lúcia Camara F. Zacharias é mestra em educação, pedagoga, diretora de escola aposentada, com vasta experiência na área educacional em geral, e, em especial na implantação de Cursos Técnicos de Nível Médio e pós-médio, assessoria e capacitação de profissionais para a utilização de novas tecnologias aplicadas à educação e alfabetização.
Questionário:
01.Quem foi e onde nasceu Lev Vygotsky?
02.Como construiu sua teoria da Educação?
03. Fale sobre as concepções de Vygotsky sobre o processo de formação de conceitos.
04. Explique as concepções de Vygotsky sobre o funcionamento do cérebro humano.
05. O que ele quer dizer sobre mediação?
06. Explique os termos: linguagem e cultura na concepção de Vygotsky.

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01. FUNÇÃO SOCIAL DA ESCOLA-2009

Por: Professor Joceny Possas Cascaes - Mestre em Educação.

A Proposta Curricular de Santa Catarina faz a opção pela concepção histórico-cultural de aprendizagem, também chamada sócio-histórica ou ‘sócio-interacionista’.
. Preocupação: como as interações sociais agem na formação das funções psicológicas superiores.
. Não são biológicas. É um processo histórico e social.
“As escolas (assim como outras instituições educacionais, de caráter informal) representam o melhor “laboratório cultural” disponível para o estudo do pensamento: são cenários sociais especialmente desenhados para modificar o pensamento. A forma distintiva de cooperação entre a criança, o estudante e o adulto é que constitui o elemento central do processo educacional. Por intermédio desse processo interativo, o conhecimento é transferido para a criança como um sistema definido”. (Vygotsky, 1996).
. Ser capaz de acompanhar as atividades escolares deixa de ser visto como uma determinação da natureza, e passa a ser visto como uma determinação social.
. O professor é mediador entre o conhecimento historicamente acumulado.
. Deve saber para poder trocar experiências de aprendizagens.
. O aluno precisa da ajuda do outro, para que possa fazer sozinho.
“Os homens fazem sua própria história, mas não a fazem como querem: não a fazem sob circunstâncias de sua escolha e sim sob aquelas com as quais se defrontam diretamente, legadas e transmitidas pelo passado. A tradição de todas as gerações mortas oprime como um pesadelo o cérebro dos vivos” (MARX, 1978).
Escola – Instituição milenar inserida num contexto. Seu fazer está relacionado com o fazer sócio-político-econômico.
Há tendências de mudança: escola útil e importante para a comunidade.
Deve contribuir para a transformação da realidade social.
A prática docente e administrativa precisa se comprometer com as classes menos favorecidas.
“E talvez o mais importante: como se podem avaliar as vivências profundas do prazer de estar aprendendo, ou nem se quer nos interessamos por saber que é isso? Atribui-se a Freud a frase de que uma só coisa é comparável ao orgasmo, e é o prazer de estar pensando. Recordemos, uma vez mais: vida e aprendência são no fundo a mesma coisa. Quantas vidas humanas são des-vividas na escola?” (ASSMANN, 1998).
A escola atual ainda tenta moldar o indivíduo. Continua, em parte, servindo a classe dominante.
É assistencialista e excludente.
Há pouca preocupação com as diferentes classes sociais.
As ações, em geral, são definidas de cima para baixo e, na maioria das vezes, não coletivamente.
Cada um deve assumir seus projetos e operacionalizar as decisões tomadas.
Que tipo de aluno-cidadão/mulher e homem a sociedade necessita?
CONCEPÇÃO DE SER HUMANO:
Um ser humano cidadão, construtor de seus direitos, ativo, participante da vida política, econômica e social de seu país;
Um ser humano capaz de interagir com o meio físico e social, na construção de uma outra sociedade; (status quo).
Um ser humano incluso, fraterno, solidário, feliz;
Um ser humano que acredite na possibilidade de mudar o mundo,
“porque mudar o mundo é tão difícil quanto possível. É a relação entre a dificuldade e a possibilidade de mudar o mundo que coloca a questão da importância do papel da consciência na história, a questão da decisão, da opção, a questão da ética e da educação e de seus limites.”
(Freire,2000).
O construtivismo diz que a aquisição de conhecimento é um processo elaborado pelo próprio indivíduo. O papel da escola é a formação humana e não apenas a transmissão do conhecimento. O conhecimento é uma das bases mais sólidas da escola.
“A cada novo dia passamos a conhecer melhor o universo como um todo e, especialmente, o universo social que nos circunda. De maneira galopante, nos últimos tempos, a informação e, conseqüentemente, o conhecimento ganharam proporções gigantescas. Seja como for, dificilmente existe hoje uma disciplina escolar onde o conhecimento básico não aumenta a taxas essencialmente geométricas. Por estimativas conservadoras, o montante de informação disponível duplica de poucos em poucos anos; ouvi recentemente uma afirmação no sentido de que a soma de informação no mundo dobra a cada 80 dias! E mesmo que esses números sejam em grande parte desprovidos de significado (no fim das contas, a desinformação conta como informação? O que é que, de qualquer modo, conta como informação?), a realidade que eles tentam quantificar torna mais difícil determinar que “verdade” merece ser estudada e o que merece ser conhecido.” . (GARDNER, 1999).
A escola precisa corresponder com uma prática humanitária para cumprir sua função. Sem isto perde sua identidade. A função social da escola está em, primeiro lugar, oferecer condições de acesso e permanência no processo educativo. Em segundo lugar, que este acesso e permanência seja de qualidade; que promova verdadeiramente a formação de sujeitos éticos, legítimos e respeitados na sua diversidade. Apesar de sua evolução técnica e científica, há tendência para esquecer os fundamentos básicos do que é viver, essencialmente do viver em sociedade, que exige o respeito ao diferente, a solicitude pelo bem comum e o compartilhar dos valores fundamentais, necessários nas relações humanas.
“A escola herdeira autêntica da tradição visual-auditiva, funcional de tal maneira que, para assistir às aulas, bastaria que as crianças tivessem seu par de olhos, seus ouvidos e suas mãos, ficando excluídos, para sua comodidade, os demais sentidos e o resto do corpo. Se ela pudesse fazer cumprir uma ordem desse tipo, a escola pediria às crianças que viessem à aula somente com seus olhos e ouvidos, talvez acompanhados pela mão na atitude de agarrar um lápis, deixando o resto do corpo bem guardado em casa”. (ASSMANN, 1998).
O ambiente escolar é um espaço para o que CORTELLA, 2000 chamou de uma paixão irrecusável. “gente foi feita para ser feliz”.
“Quanto aos que, segundo o costume, encarregados de instruir vários espíritos naturalmente diferentes uns dos outros pela inteligência e pelo temperamento, a todos ministram igual lição e disciplina, não é de estranhar que dificilmente encontrem em uma multidão de crianças somente duas ou três que tirem do ensino o devido fruto. Que não lhe peça conta apenas das palavras da lição, mas também do seu sentido e substância, julgando do proveito, não pelo testemunho da memória e sim pelo da vida.” (MONTAIGNE, 2000, p. 151)
“... os docentes vão construindo a escola possível, nem sempre a escola sonhada.” (Arroyo, 2000).


02. ARTIGO - ÉTICA: uma construção histórico-antropo-social.
Resumo:
A existência humana (trans)forma, como fenômeno natural, o contexto planetário de maneira irreversível, dinâmica inserindo nele valores e conceitos. Para garantir a continuidade deste processo e da existência do homem e de seu entorno surge a ética, como determinante de conduta. A análise histórica deste processo permite dizer que nunca se esgotará a possibilidade e a necessidade de se (re)construir social e antropologicamente o conceito de ética e sua aplicabilidade ao viver humano e aos diferentes contextos planetários. Será a ética, o instrumento de defesa incondicional da vida sob qualquer forma de manifestação.
Palavras-chave: existência humana, contexto planetário, ética, vida.

Introdução
O homem tem sido objeto de estudo do próprio homem e certamente o será por muito tempo. Nenhum conhecimento terá sentido se não contemplar a humanidade seja direta ou indiretamente. Assim falar de uma realidade implica em conhecimentos que norteiam o planetário, o complexo e o diverso em (trans)formação permanente. Nesta perspectiva não se pode omitir a presença do ser humano enquanto agente, ator e principalmente autor de um amplo fazer que implica em ação-reflexão-ação pautada por um processo de inserção e construção de valores.
Em se tratando de valores, historicamente tem se mencionado a ética como instrumento de construção de relações harmônicas de convivência, implicando em ações solidárias em favor de um contexto planetário de respeito e partilha. A efetivação desta prática requer compromisso, uma vez que não se age sem antes acreditar e sentir-se desafiado(a). A forma de se acreditar e de superar os desafios para comprometer-se, demanda um comprometimento, por sua vez com valores que garantam uma defesa incondicional da vida em todas as suas formas de expressão.
A discussão ora proposta busca identificar a presença de valores no contexto da análise da própria condição humana. Discutir o contexto planetário requer necessariamente uma discussão antropo-socio-planetário, considerando-se o ser humano como ente e a sociedade como fruto de sua presença e das relações estabelecidas entre os entes e o planetário como nicho da ação.
A ética apresenta-se como valor capaz de garantir à discussão, as condições necessárias para que possa apresentar sensatez e credibilidade. Não cumprirá o papel de conciliadora de conflitos, mas de estímulo para uma (re)construção efetiva de um contexto dotado de incertezas, variantes, variáveis e diferentes.
1. Uma breve discussão
A ética é um valor inerente a toda ação humana e portanto, dotada de nuance essencialmente humanos. Não se pode imaginar uma construção ética sem a presença essencial do homem. O ser humano por sua vez é sujeito do coletivo, por esta razão, a ética é um elemento vital na produção da realidade social. Como nenhum contexto social sobrevive por si só mas num contexto maior, o planeta e sua complexidade a ética é também um valor planetário.
Considerando-se que não é possível tratar de planeta sem antes abordar o ser humano, há que se iniciar a discussão pelo ser humano. Vale dizer que todo homem possui um senso ético, uma espécie de "consciência moral", estando constantemente avaliando e julgando suas ações para saber se são boas ou más, certas ou erradas, justas ou injustas, verdadeiras ou falsas. Não que a ética seja a inquisidora e detentora de um poder maniqueísta capaz de promover uma espécie de lamarkismo valoral. Trata-se de um artífice sensibilizador em favor de um novo, incerto e diferente do que se tem, sem no entanto pré-julgar.
Numa discussão moral é comum identificar comportamentos humanos classificáveis sob a ótica do certo e errado, do bem e do mal. São padrões estabelecidos por um determinado contexto sob um certo movimento que permite estabelecer um equilíbrio convencionado. Embora relacionadas com o agir individual, essas classificações sempre têm relação com as matrizes culturais que prevalecem em determinadas sociedades e contextos históricos. Esta construção deriva do fato de que nada nem ninguém é simplesmente formado, mas (trans)formado permanentemente de forma política, negociada e num estágio mais complexo da própria complexidade humana articulada e construída de forma temporária, sempre sujeita à (re)construção.
2. A gênese do pensamento ético
Ações éticas não são apenas justas diante das convenções humanas estabelecidas, mas coerentes diante do propósito maior, a sobrevivência planetária. A ética está relacionada à opção, ao desejo de realizar a vida, mantendo com os outros, relações justas e aceitáveis, porém adeptas do conflito, da discussão permanente e critica impessoal. Via de regra está fundamentada nas idéias de bem e virtude, enquanto valores perseguidos por todo ser humano e cujo alcance se traduz numa existência plena e feliz. Considerando-se a felicidade como status quo desejado por todo o ser humano não se pode desejar outra coisa senão a felicidade de todos os seres humanos, enquanto co-partícipes da construção de cada sujeito. Em outras palavras serei feliz pela felicidade do outro, principio já defendido por Platão há vários séculos.
Os primórdios do que hoje conhecemos por ética remonta do povo hebreu, do qual já se relatam em textos como a bíblia que as crianças eram preparado de acordo com uma certa moralidade. “Filho meu, ouve o ensino de teu pai, e não deixeis a instrução de tua mãe” (Provérbios, 1:8). A ética hebraica era fundada nas tradições históricas libertadoras a partir da saída do Egito.
O estudo da ética iniciou-se com os filósofos gregos há 25 séculos atrás. Para os sofistas, por exemplo, era preciso entender o ser humano. Para consolidar seu pensamento criaram as bases do pensamento político e jurídico, explorando a arte do convencimento e da retórica.
Sócrates, nascido em 470 a. C. em Atenas o saber sobre o homem deveria ser universal, moral e prático. Sua ética era racionalista propondo definições de bem, bom determinando a virtude como conhecimento e o vicio como ignorância. Platão nascido em Atenas em 427 a. C. e discípulo de Sócrates definiu a ética como um amplo conjunto de virtudes políticas que deveriam ser observadas para alcançar a felicidade. Dentre as virtudes estão a justiça, a prudência, a fortaleza e a temperança. Tratava essencialmente dos valores estabelecidos entre as relações antropo-sociais.
Aristóteles (384-322 a. C.) discípulo de Platão utilizava-se de maior praticidade se comparado a seu mestre. Buscava no dialogo com os cidadãos a construção de seus conceitos. Propunha que a felicidade só poderia ser alcançada pela observância da ética. Acreditava que a ética estava ligada a política pois a felicidade se encontrava no mundo ideal do polis e por isso somente o cidadão poderia ser feliz e não o escravo.
Com o desintegração generalizada da filosofia grega e o sucessivo domínio romano surgem novas tendências dentre as quais o estoicismo e o epicurismo. Uma das características do estoicismos é a divisão da filosofia em lógica, física e ética. O epicurismo busca subordinar a investigação filosófica à exigência de garantir tranqüilidade ao espírito humano.
3. A ética cristã ocidental
O surgimento do Cristianismo estendeu e aprofundou o conceito de homem e de historia, fazendo com que o homem se sentisse parte da criação. Jesus contestou a aristocracia teocrática proclamando uma teoria radical. Jesus questionava os que falavam em nome de Deus e por conseguinte foi violentamente contestado levando-o a morte. A conversão ao cristianismo implicava em um luta em favor da libertação e da intervenção em favor de estruturas injustas e opressoras.
A gênese da ética de Jesus era a libertação dos cativo e dos marginalizados em favor de um Reino de Deus universalmente acessível. Porem com Constantino (324 d.C.) houve um imbricamento da vertente bíblica com a filosofia grega, propondo em outras palavras a fusão entre Estado e Igreja. DREHER (1982, p. 82) afirma que “criou-se a Igreja que estava aí para justificar as ações do governante”.
Pouco tempo depois a Igreja Cristã conhece Agostinho, o qual teve contribuições decisivas em relação a cultura geral e particularmente em relação à Igreja Latina. Dotado de uma doutrina maniqueísta defendia uma cosmovisão dualista (luz e trevas, bem e mal). Fundamentou seu ética na ascese (renúncia) pois quando aceitou o batismo cristão renunciou ao universo material optando pela lógica cristão.
A postura de Agostinho, em se opor ao que propôs Constantino fez com que a Igreja funda-se sua ética na defesa dos interesses dos mais pobres, oprimidos e marginalizados. Afirma-se que o cristianismo des-historicizou-se ocupando-se apenas do campo espiritual. De acordo com TOURAINE (1995, p.43) “num contexto histórico tão diverso, o agostinismo teve um papel decisivo na construção do conhecimento de Descartes, as teorias do direito natural e o pensamento de Kant”.
Pela concepção de Agostinho a salvação só seria possível pela ascese, ou seja não importavam as questões sociais ou comunitárias. A ética cristã foi transferida para questões morais onde o potencial de ação ética está na capacidade de proibir e não de agir motivado(a) por alguma razão histórica. Não se questionam as ações dominantes pois o ser humano se salva por si e não por sua caridade. Esta se limitava a uma catequese moral. Foi este pensamento que dominou a ciência da modernidade.
A educação mergulhou num tempo nebuloso em que o estado fez uso de dogmas para impor suas vontades. O culto tomou o lugar do conhecimento. Imputou-se uma disciplina rigorosa vigiada pela ameaça do pecado, da punição em favor de uma vida superior. de acordo com MARQUES (1993, p. 29)
“A Filosofia, a cultura do espírito e os saberes codificados se refugiavam nos mosteiros – um mundo de livros, afastados do mundo da vida, onde a cultura popular dos iletrados preservava os velhos costumes, símbolos e rituais, em reação de defesa e na afirmação das identidades típicas de cada região”.
Esta clausura do conhecimento foi rompido com Carlos Magno (771-814) que buscou resgatar o conhecimento iniciando um processo de ‘libertação’ dos saberes já acumulados. Foi este rompimento que iniciou o processo de constituição das cruzadas. As cruzadas não representa nenhum movimento ético em favor da vida, uma vez que a morte se fez presente ao longo de toda sua existência. Apesar dos males provocados pelas cruzadas é válido dize que graças a elas foi possível um intercambio com as culturas orientais, ou pelo menos reconhecer que elas existem.
Ao final do primeiro milênio e inicio do segundo a construção de saberes não poderia mais se limitar aos mosteiros e sua disciminação necessita de uma estrutura adequada. Surgem então as universidades. Oficialmente a primeira foi a de Bolonha, na Itália em 1088 que iniciou com o curso de direito. Há registros que afirmam que no século X havia surgido a escola de medicina de Salermo. Para se contrapor a iniciativa do Estado surge na França a Universidade de Paris (entre 1150 e 1170).
Pode-se dizer que houve uma cristianização de Platão de Aristóteles. Transformou o amor ao próximo, centro da ética de Jesus, em preceito moral e estimulo a caridade. Os ricos não necessitam renunciar mais a riqueza, mas serem caridosos para que pudessem se salvar. Assumiam assim uma postura paternalista e bondosa. A igreja passa assim a sustentar o sistema feudal.
Este é o período do surgimento da escolástica. Com as cruzadas o ocidente tomou conhecimento do oriente e se percebeu que o oriente era dententor de um conhecimento diferenciado. A epistemologia agostiniana-neoplatônica que afirma que o homem participa do pensamento divino e o intelecto seria capaz de construir sua própria percepção, se de lugar a uma epistemologia Aristotélica capaz de afirmar que o conhecimento chega ao homem pelas experiências dos sentidos. O conhecimento chega ao homem por um contexto material. Antropologicamente afirma-se que o homem detém o poder e capacidade de decidir a ordem das coisas. É nítida expressão medieval do antropocentrismo. Eticamente o grande valor não é a vida, mas o homem.
Pouco tempo depois a humanidade vê surgir a figura de Francisco de Assis (Giovanni Bernardone) o qual após se converter dedica sua vida a intervenção social em favor dos pobre e esquecidos pelo Estado. GONZÁLES (1981, p.114) afirma que
“Ele e seus seguidores iam precisamente em busca das ovelhas perdidas. Sua ação não estava restrita a mosteiro afastado dos movimentos do mundo, mas se espelhava pelas cidades cuja a população aumentava rapidamente, entre os enfermos, os pobres e os desprezados”.
A doutrina franciscana foi incorporada a doutrina cristã com a canonização de Francisco de Assis em 1228. Foram teóricos franciscanos que por primeiro denunciaram os abusos financeiros do papado.
Tomás de Aquino surge aprofundando o antropocentrismo afirmando que tudo fora criado para servir o homem o qual segundo ele é fruto da unidade entre corpo e alma. Aceitava o fato da existência da duas porém inter-relacionadas. Neste sentido BOEHNER (1988, p. 468) afirma que
“Mas também a alma,diz Aquino, é um ser incompleto; seu grau de autonomia é demasiadamente imperfeito para poder expandir independentemente do corpo; e, uma vez separada deste, só torna a atingir sua perfeição natural após sua reunião com um corpo, o que lhe permite exercer suas atividades por meio de órgãos corporais”.
Este dilema em relação a unidade ou não de corpo e alma é algo questionável e gerou um conflito de idéias que ainda perdura hoje no ocidente. A ética tomista deriva de Aristóteles para quem a justiça, a felicidade e a verdade decorrem da contemplação. Sua ética prestou-se a justificar ideologicamente as profundas desigualdades sociais como se fossem derivadas de Deus e não do desrespeito a valores.
4. A ética na Igreja Medieval Inquisidora e as Reformas
Paralelo a este movimento teórico, Igreja Católica radicaliza sua ação repressora sobre os que com ela se confrontam. Surge o Tribunal da Inquisição, responsável pelo ‘controle’ dos conflitos gerados pela discussão e questionamento das ações da Igreja. Este Tribunal da Igreja Católica instituído no século XIII foi responsável pela perseguiçaõ, julgamento e punição os acusados de heresia – doutrinas ou práticas contrárias às definidas pela Igreja. A Santa Inquisição é fundada pelo papa Gregório IX (1170?-1241) em sua bula (carta pontifícia) Excommunicamus, publicada em 1231. No século IV, quando o cristianismo se torna a religião oficial do Império Romano, os heréticos passam a ser perseguidos como inimigos do Estado.
Na Europa, entre os séculos XI e XV, o desenvolvimento cultural e as reflexões filosóficas e teológicas da época produzem conhecimentos que contradizem a concepção de mundo defendida até então pelo poder eclesiástico. Paralelamente surgem movimentos cristãos, que pregam a volta do cristianismo às origens, desvinculando o poder teológico do aristocrático. Grupos dentro da Igreja defendem a necessidade de a Igreja abandonar suas riquezas. Em resposta a essas heresias, milhares de pessoas são liquidados entre 1208 e 1229. Dois anos depois é criada a Inquisição para defender esta íntima relação entre Estado e Igreja, que transcendia aos valores morais e éticos, geralmente embasados nos valores econômicos e grupais.
A responsabilidade pelo cumprimento da doutrina religiosa passa dos bispos aos inquisidores – em geral franciscanos e dominicanos –, sob o controle do papa. As punições variam desde a obrigação de fazer uma retratação pública ou uma peregrinação a um santuário até o confisco de bens e a prisão em cadeia. A pena mais severa é a prisão perpétua, convertida pelas autoridades civis em execução na fogueira ou forca em praça pública. Em geral, duas testemunhas constituem prova suficiente de culpa. Em 1252, o papa Inocêncio IV aprova o uso da tortura como método para obter confissão de suspeitos. A condenação para os culpados é lida numa cerimônia pública no fim do processo, no chamado auto-de-fé. O poder arbitrário da Inquisição volta-se também contra suspeitos de bruxaria e todo e qualquer grupo hostil aos interesses do papado.
Nos séculos XIV e XV, os tribunais da Inquisição diminuem suas atividades e são recriados sob forma de uma Congregação da Inquisição, mais conhecida como Santo Ofício. Passam a combater os movimentos da Reforma Protestante e as heresias filosóficas e científicas saídas do Renascimento. Vítimas notórias da Inquisição nesse período são a heroína francesa Joana D''Arcjump executada por se declarar mensageira de Deus e usar roupas masculinas, e o italiano Giordano Bruno (1548-1600), considerado pai da filosofia moderna, condenado por concepções intelectuais contrárias às aceitas pela Igreja. Bruno que estudara Copérnico, ao sair do mosteiro propôs uma visão de mundo infinito. Foi levado a fogueira em 16 de fevereiro de 1600. Segundo REICH (1983, p. 122-3)
“Permitir que a descoberta de Deus e seu Reino se tornasse uma realidade prática, deixar que os homens tomassem posse, com seus espíritos, seus corações e seu modo de vida, das coisas que a Igreja transformou em mistérios e colocou fora dos limites do acessível, teria mergulhado o mundo num desastre. Este é o destino trágico de todo o conhecimento que aparece no momento errado em um mundo mal preparado para recebe-lo. Por isso Bruno, o Nolano, teve que morrer”.
Processado pela Inquisição, o astrônomo italiano Galileu Galilei prefere negar publicamente a Teoria Heliocêntrica desenvolvida por Nicolau Copérnico e trocar a pena de morte pela de prisão perpétua. Após nova investigação iniciada em 1979, o papa João Paulo II reconhece, em 1992, o erro da Igreja no caso de Galileu.
O fim da Idade Média é marcado pelo movimento renascentista e pelas reformas propostas por importantes integrantes da Igreja Católica Apostólica Romana. O Renascimento atingiu todos os segmentos da sociedade da época. Para se ter uma idéia surgem leis que passam a defender as causas dos pobres e marginalizados, transferindo a ética paternalista, até então atribuída aos ricos, ao Estado.
A Reforma surge quando os camponeses europeus inquietos ameaçavam o controle estatal; o comércio exterior se intensifica; a industria se desenvolve; ocorrem grandes invenções; cidades surgem e crescem a ritmos nunca vistos. O mais expressivo de todo o avanço foram as grandes navegações, expandindo os domínios civilizados além dos mares europeus. O feudalismo é substituído pelo capitalismo mercantilista. Segundo EBY (1976, p.01) com a Reforma “Nenhum aspecto da vida humana ficou intato, pois abrangeu transformações políticas, econômicas, religiosas, morais, filosóficas, literárias e nas instituições, de caráter definitivo; foi, de fato, uma revolta e uma construção do Norte”.
O grande precursor da Reforma foi Martim Lutero, nascido em 10 de novembro de 1483, me Eisleben, na Alemanha. Tornou-se monge agostiniano e em visita a Roma em 1510 escandaliza-se com o luxo, a ostentação e a degeneração teológica da Igreja. Em 31 de outubro de 1517, publicou as 95 Teses. Confronta-se também com o Sacro Império Romano-Germânico Martinho Lutero que defende a fé como forma de salvação do indivíduo é excomungado em 1520. Com o apoio da nobreza, as idéias de Lutero difundem-se rapidamente. Elas substituem o poder eclesiástico pelo do Estado, simplificam a liturgia, revogam o celibato clerical e acabam com o culto às imagens.
A igreja Luterana é a igreja sem a presença do clero santo e sacramental. Era a igreja da leitura e da cultura cristã universalizada. Todos deveriam ter acesso as escrituras sagradas. Nas vilas e cidades alemãs foram construídas cidades para a formação do povo. Para a educação Lutero contribuiu introduzindo o lúdico na formação dos pequenos e acima de tudo amarrou teorias a práticas incentivando a leitura.
Lutero se opôs radicalmente à ética paternalista e criticou o sistema de mendicância espalhado por toda a Europa. Exigiu do Estado especial atenção aos pobres e à sua formação. Era contrário ao acumulo de bens e patrimônios e defendia uma nova ética. Ao ser indagado sobre a quinta petição do Pai Nosso ‘O pão nosso de cada dia nos dá hoje’ LUTERO (1983, p. 374) afirma que o pão de cada dia é
“Tudo o que pertence ao sustento e às necessidades da vida, como: comida babida, vestes, calçado, casa, lar, campos, gado, dinheiro, bens, consorte piedosa, filhos piedosos, empregados bons, superiores piedosos e fiéis, bom governo, bom tempo, paz, saúde, disciplina, honra, leais amigos, vizinhos fiéis e coisas semelhantes”.
Nota-se em Lutero uma preocupação constante com o resgate de características genuinamente sociais e humanas da doutrina cristã, já pregadas por Cristo e que ao longo dos séculos foram sofrendo a intervenção de muitas outras teorias. Foi um período conturbado para as tradições da Igreja, mas não do cristianismo, pois sua grande marca foi justamente o resgate deste.
Além da Reforma de Lutero outras ocorreram na Europa, outras reformas no seio da Igreja Católica como a Reforma Anglicana e a Reforma Calvinista. A Reforma Anglicana é promulgada em 1534 pelo rei Henrique VIII, da Inglaterra. O pretexto é a recusa do papa ao pedido de anulação de seu casamento com Catarina de Aragão, para que possa desposar Ana Bolena. Na verdade há o interesse da Monarquia inglesa em submeter a Igreja e tornar o rei a autoridade suprema. A reforma anglicana consolida-se em 1558, sob o reinado de Elizabeth I. Por esta razão foi pouco difusa em relação a outros contextos, uma vez que tratava de uma questão restrita ao Império Britânico. Não se pode dizer que houve uma postura ética na gênese desta reforma, ao contrário houve a construção de uma moral local que não se difundiu por não contemplar interesses universais como ocorreu com Lutero.
Já a Reforma Calvinista começa em 1534, na França, com as pregações de João Calvino. Mais radical que Lutero, Calvino defende a tese de o homem nascer predestinado à salvação ou à condenação. Considera-o livre de todas as proibições não explicitadas nas Escrituras, o que torna as práticas do capitalismo lícitas, em especial a usura, condenada pela Igreja Católica. O homem deve buscar o lucro por meio do trabalho e de uma vida regrada – também formas de louvar a Deus. Esta teoria está implícita em muitas teorias como o próprio neoliberalismo embora não seja assumida como doutrina teológica. Vale dizer que esta moral tem servido de suporte a uma série de posturas ao longo de muitos anos e vem sendo usada como instrumento de argumentação em favor de interesses estritamente setoriais.
5. Conhecimento, educação e ética na modernidade e pós-modernidade
O inicio da Idade Moderna se dá com o surgimento do realismo humanista, o qual pregava o domínio da vida e do conhecimento natural e social através do estudo lingüístico da vida dos antigos. Pregava também a profissionalização das pessoas pela difusão dos saberes. Num terceiro momento privilegiou-se a educação sensorial, onde todo o saber seria acessado pelos sentidos. Surgem métodos e práticas pré-determinadas para coleta de informação, testes de comprovação.
Francis Bacon (1561-1626) foi um dos maiores expoentes deste período, considerado o pai do método cientifico. Se fundamenta nos fenômenos naturais e físicos ignorando a metafísica e suas bases filosóficas. Era a gênese do método indutivo, construindo axiomas particulares estendendo-os aos mais gerais. Disto surge o que chamamos de empirismo moderno, corrente filosófica que vincula a teoria ao aprendizado pela experiência.
Pode-se dizer que Bacon, como pensador, é pioneiro ao traçar o primeiro esboço racional de uma metodologia científica. Escreve, entre outras obras, Novum Organum – Novo Método (1620) e De Dignitate et Augmentis Scientiarum – Sobre a Dignificação e o Progresso das Ciências (1623). Seus Ensaios, produzidos em 1597, 1612 e 1625, servem de modelo para a moderna prosa inglesa.
Em se tratando de educação o expoente máximo do período foi Johan Amos Comênio (1592-1670). Sua esperança se depositava integralmente na educação e propunha que tudo deveria ser ensinado a todos. Pedro Goergen ao prefaciar a obra de KULESZA (1992, p.13) afirma que
“O projeto de Comenius é regenerar o homem através da educação. Toda esperança de um mundo melhor, dizia, está baseada unicamente na educação da juventude. Ao referir-se à juventude sempre tem em mente todos os jovens e não, como sempre ocorrera em épocas anteriores, os filhos das camadas privilegiadas da sociedade. Fossem ricos ou pobres, dotados ou não, do sexo masculino ou feminino, o saber deveria ser acessível a todos... Tudo o que fosse possível se ensinado, deveria ser ensinado a todos, num processo educativo que duraria a vida toda”.
Sua visão de contemporaneidade fez com que seu projeto fosse adotado pela educação do período da Revolução Industrial. Sua ética era a de um ser humano com um todo e nenhum de seus pares poderia ser descriminado por qualquer motivo. A educação seria a grande responsável pela por garantir as reformas sociais necessárias àquele tempo.
O projeto filosófico de Comênio foi suprimido pelas teorias de René Descartes (1596-1650). Apesar de tratarem de métodos e metodologias cientificas Comênio e Descartes se diferenciam muito em vários aspectos. Para Comênio a ciência é uma forma de aproximar o homem a Deus enquanto que para Descartes a ciência é exclusivamente humana negando as Sagradas Escrituras. Para ele não há como unir fé e ciência. Neste período Isaac Newton (1642-1727) laçou ao mundo teorias geniais como o cálculo diferencial, a lei da composição da luz, a lei da gravitação universal e tantas outras que abriram as portas do iluminismo.
Descartes foi e ainda é o filósofo que mais influenciou e ainda influencia o pensamento ocidental. Para os cartesianos o objeto só ganhava existência a partir do sujeito, pois a existência se dava a partir do pensamento: “Cogito, ergo sum”. O sujeito torna-se ponto de partida para todo o conhecimento.
Para Descartes, nem os sentidos, que podem enganar-nos, nem as idéias, que são confusas, podem nos dar certezas e, portanto, nos conduzir ao entendimento da realidade. Por isso, com a finalidade de estabelecer um método de pensamento que permita chegar à verdade, desenvolve um sistema de raciocínio que se baseia na dúvida metódica e não pressupõe certezas e verdades, como era tradição entre os pensadores que o antecederam. O método cartesiano põe em dúvida tanto o mundo das coisas sensíveis quanto o das inteligíveis, ou seja, o que pode ser apreendido por meio das sensações ou do conhecimento intelectual.
A razão seria a única coisa verdadeira da qual se deve partir para alcançar o conhecimento. Eu sou uma coisa que pensa, e só do meu pensamento posso ter certeza ou intuição imediata. Para reconhecer algo como verdadeiro, ele considera necessário usar a razão como filtro e decompor esse algo em partes isoladas, em idéias claras e distintas. Para garantir que a razão não se deixe enganar pela realidade, tomando como evidência o que de fato pode não passar de um erro de pensamento ou ilusão dos sentidos, Descartes formula sua segunda certeza: a existência de Deus. Entre outras provas, usa a idéia de Deus como o ser perfeito. A noção de perfeição não poderia nascer de um ser imperfeito como o homem, mas de outro ser perfeito, argumenta. Logo, se um ser é perfeito, deve ter a perfeição da existência. Caso contrário, lhe faltaria algo para ser perfeito. Portanto, Deus existe.
O método cartesiano revoluciona todos os campos do pensamento de sua época, possibilitando o desenvolvimento da ciência moderna e abrindo caminho para o homem dominar a natureza. A realidade das idéias claras e distintas, que Descartes apresenta a partir do método da dúvida e da evidência, transforma o mundo em algo que pode ser quantificado. Com isso, a ciência, que até então se baseava em qualidades obscuras e duvidosas, a partir do início do século XVII torna-se matemática, capaz de reduzir o Universo a coisas e mecanismos mensuráveis, que a geometria pode explicar.
A ética cartesiana baseava-se no individualismo do sujeito o qual é o centro de tudo e de todo o saber. Neste sentido DESCARTES (1996, p. 29) afirma que
“Consistia a primeira em obedecer às leis e aos costumes do meu país, conservando sempre a religião em que Deus me fez a graça de ser instruído desde a infância e orientando-me em tudo o mais pelas opiniões mais moderadas e que mais se afastassem do excesso, geralmente aceitas na prática, pelos mais sensatos entre os quais eu deveria viver”.
Nota-se uma obediência e aceitação à realidade em que a verdade está entre os melhor situados e os demais devem se adequar a ela. Dada a necessidade de se formar sujeitos capazes de compreender e transformar as coisas o sujeito precisa compreender lógica, matemática e ciência naturais, sendo os outros conceitos e áreas do saber de pouca importância. A ciência assume um caráter utilitarista.
John Locke filósofo inglês (1632-1704) deu um importante passo rumo a afirmação de um individuo racional. Filósofo do empirismo, que vê a experiência como fonte do conhecimento, para isso, aprofundando o entendimento das obras de Francis Bacon e René Descartes. Postula que a experiência, fonte do conhecimento, pode ter tanto origem externa, nas sensações, quanto interna, na reflexão. No plano ético-moral, prega a conformidade com a norma, como forma de adquirir a virtude Sua principal obra é Ensaio sobre o Entendimento Humano, de 1690, que influencia os filósofos George Berkeley e David Hume. Seu antropocentrismo fez o homem crer que seria ilimitado e que poderia dominar a natureza de forma definitiva e total.
Em educação destacam-se os pensamentos e teorias de Rousseau (1712-1778) o qual não aceitava o simples instrucionismo escolar, mas um contato direto com a natureza para efetiva construção do conhecimento. Rousseau afirmava que a educação deveria ser construída na adolescência para que o sujeito possa ter contado com os conceitos mais complexos. Para Rousseau o processo educativo não só faz parte integral da reforma social, mas é a condição anterior e necessária para essa reforma...exige a instauração de uma ordem social radicalmente nova, porém, esta nova ordem deve basear-se na natureza.
Pestalozzi (1746-1826) por sua vez, deu a educação um caráter orgânico, procurando harmonizar a natureza, a moralidade, o físico e a intelectualidade da criança. Com esta postura acreditava que a o sujeito seria capaz de discernir o bem e o mal, o certo e o errado. Pestalozzi, lembra que a criança é dotada de todas as faculdades da natureza humana, mas nenhuma dessas faculdades se encontra desenvolvida, pois cada uma é como um botão que ainda não desabrochou.
Kant (1724-1804) pregou a necessidade de o sujeito ser livre e autônomo capaz, de decidir individualmente sobre sua moralidade e sua intelectualidade. O homem deve construir o próprio homem. Kant procura de uma vez colocar limites ao âmbito da razão pura ou especulativa e libertar a razão prática, pois não aceita que as Ciências Naturais determinem e, portanto, dirijam as ações humanas.
Um marco importante que sucedeu este movimento foi a surgimento do Positivismo de Auguste Comte (1798-1857). O termo identifica a filosofia que busca seus fundamentos na ciência e na organização técnica e industrial da sociedade moderna. O método científico é o único válido para se chegar ao conhecimento. Reflexões ou juízos que não podem ser comprovados pelo método científico, como os postulados da metafísica, não levam ao conhecimento e não têm valor.
Entre suas formulações principais, está a que considera que as sociedades humanas passam por três estágios de evolução histórica. O primeiro é o teológico, no qual os fenômenos são apresentados como sendo produzidos pela ação de seres sobrenaturais que interferem arbitrariamente no mundo. O segundo é o metafísico, no qual os fenômenos são engendrados por forças abstratas.
O último estágio é o positivo, em que o ser humano desiste de procurar as causas íntimas dos fenômenos para, através da observação e do método científico, estabelecer as leis gerais que os regem. O estado positivo, portanto, corresponde à maturidade do espírito humano que não é mais enganado por explicações vagas, uma vez que pode alcançar o real, o certo e o preciso.
Em relação ao Positivismo GILES (1987, p. 241) afirma que
“o cientista dedica-se à pesquisa pura, teórica, sente-se eximido de qualquer responsabilidade pelo uso que dela se faz... O método cientifico visa tão-somente a objetividade indutiva: seu objeto são os fatos e estes são neutros em termos de valores, inclusive os religiosos”.
A industrialização e as novas tecnologias, trouxeram uma crescente instrumentalização da vida moderna, além de uma explosão de riquezas, dinheiro, bens capitais e conforto. Paralelo a isso e nas mesma proporções se tem percebido uma estratificação social que privilegia o acesso a tudo isso de forma sutil, porém cruel em seus resultados. Fome, miséria, doenças e o aniquilamento moral de milhares de pessoas faz pensar na ética que vivemos. As catástrofes ambientais e o crescimento de movimentos terroristas crescem a medida que a estratificação social e taxonomização de seres humanos se acentua.
Outro aspecto importante é que estas posturas nascidas no ocidente não são simplesmente aceitas no oriente. O choque de idéias e os antagonismos emergentes conduzem a humanidade ao incerto. O século XX passou por duas grandes guerras e um turbilhão de novas teoris. Para contrapor o positivismo o sistema capitalista dele derivado (pelo menos mantido em vigor por seus princípios) é amplamente questionado tendo por base os escritos de Marx. O mundo ainda não conheceu a essencial prática do regime marxistas. As ditaduras comunistas e socialistas surgidas não representam ainda esta essência.
Para Marx, a relação entre o homem, a natureza e o modo de produção pe o próprio fundamento de todo o processo educativo. Marx afirma que o processo educativo deve combinar o trabalho produtivo com a instrução. A finalidade desta síntese será não a de aumentar a produtividade, mas o único meio de levar a plena humanização do homem. Neste sentido MARX (2003, p. 183) afirma que “o homem como ser sensível objetivo, é um ser que sofre e porque sente o seu sofrimento, um ser impulsivo. A paixão e a emoção intensa são as faculdades do homem esforçando-se energicamente por conseguir o seu objeto”. (grifos do autor).
Hoje em dia, seu campo de atuação ultrapassa os limites da filosofia e inúmeros outros pesquisadores do conhecimento dedicam-se ao seu estudo. Sociólogos, psicólogos, biólogos e muitos outros profissionais desenvolvem trabalhos no campo da ética.
CONCLUSÃO
A ética não é algo superposto à conduta humana, pois todas as nossas atividades envolvem uma carga moral. Idéias sobre o bem e o mal, o certo e o errado, o permitido e o proibido definem a nossa realidade. No contexto de realidade estão outros valores diretamente determinados pela noção de moral e ética que construímos. A liberdade de cada cidadão dentro de uma sociedade dita organizada, é assistida por códigos e definições de conduta a serem cumpridos sob pena, inclusive da perda da liberdade. Sabe-se que códigos e leis são determinados por pessoas detentoras de convicções pessoais alimentadas por interesses oriundos de vontades e ambições nem sempre convencionais.
Em nossas relações cotidianas estamos sempre diante de problemas do tipo: Devo sempre dizer a verdade ou existem ocasiões em que posso mentir? Será que é correto tomar tal atitude? Devo ajudar um amigo em perigo, mesmo correndo risco de vida? Existe alguma ocasião em que seria correto atravessar um sinal de trânsito vermelho? Este tipo de questionamento denota que regras e códigos morais não determinam posturas éticas, mas formas de convívio que permitem organizar o espaço e as ações. Trata-se de se convencionar de forma genérica, o que é correto ou não. Há situações que não se enquadram nestas convenções e por conta disto recomenda-se a violação destes códigos.
Há situações em que as convenções determinam que os sujeitos não são um mas uma unidade corporativa, em que as ações são tomadas em nome de uma instituição. Nem sempre um sujeito se depara com situações em que sua pessoa pode agir de forma autônoma. Por exemplo: os soldados que matam numa guerra, podem ser moralmente condenados por seus crimes ou estão apenas cumprindo ordens? Eticamente a morte de um ser não se justifica, independente da origem ou motivo da ordem que a determinou. Mas moralmente é função do soldado defender sua praça, mesmo que o faça com a imposição da morte, seja ao adversário ou a si mesmo.
Essas perguntas nos colocam diante de problemas práticos, que aparecem nas relações reais, efetivas entre indivíduos. São problemas cujas soluções, via de regra, não envolvem apenas a pessoa que os propõe, mas também a outra ou outras pessoas que poderão sofrer as conseqüências das decisões e ações, conseqüências que poderão muitas vezes afetar uma comunidade inteira. Assim o grande desafio não está em conhecer regras e códigos de conduta, mas em agir em favor do que é ético.
Para tanto há que compreender que ele não é por si e em função de si. Há um contexto planetário que o envolve. O homem é um ser-no-mundo, que só realiza sua existência no encontro com outros homens, sendo que, todas as suas ações e decisões afetam as outras pessoas. Nesta convivência, nesta coexistência, naturalmente têm que existir regras que coordenem e harmonizem esta relação. Entenda-se coordenação e harmonia, como respeito e observância em relação àquilo que foi convencionalmente determinado.
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BOEHNER, Philoteu, GILSON, Etienne. A história da filosofia cristã. 4ª ed. Petrópolis: Vozes, 1988.

DESCARTES, René. Discurso sobre o método. Bauru: EDIPRO, 1996.

DREHER, Martin. A Igreja no Império Romano. São Leopoldo (RS): Faculdade de Teologia, 1983.

EBY, Frederick. História da educação moderna. 2ª ed. Porto Alegre: Globo, 1976.

GILES, Thomas Ranson. História da educação. São Paulo: EPU, 1987.

GONZÁLES, Justo L. A era dos altos ideais. São Paulo: Vida Nova, 1981.

KULESZA, Wojeich. Comenius: a persistência a utopia em educação. Campinas: UNICAMP, 1992.

LUTERO, Martinho. Os catecismos. Porto Alegre/São Leopoldo (RS): Concórdia/Sinodal, 1984.

MARQUES, Mario Osório. Conhecimento e modernidade em reconstrução. Ijuí (RS): Editora UNIJUÍ, 1993.

MARX, Karl. Manuscritos econômicos-filosóficos. Trad. Alex Marins. São Paulo: Martin Claret, 2003.

REICH, Wilhelm. O assassinato de Cristo. 2ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 1983.

TOURAINE, Alain. Critica da modernidade. 3ª ed. Petrópolis: Vozes, 1995.



03. Capítulo 5 - LIVRO DIDÁTICO:
FUNDAMENTOS ECONÔMICOS DA SOCIEDADE:
1. VISÃO GERAL SOBRE O PROCESSO DE PRODUÇÃO:
Quando vamos a um supermercado e compramos gêneros alimentícios, bebidas, calçados,
Material de limpeza
, eletrodomésticos, etc., estamos comprando bens. Da mesma forma, quando pagamos a passagem de ônibus ou uma consulta médica, estamos pagando um serviço.
Portanto, bens são todas as coisas palpáveis, concretas, e que são produzidas para satisfazer as necessidades das pessoas. Já uma consulta médica, uma aula, a entrega de um jornal, são exemplos de serviços.
Bens e serviços existem para satisfazer as necessidades dos indivíduos. E resultam de algum tipo de transformação dos recursos da natureza pelos processos de produção.
PRODUÇÃO, DISTRIBUIÇÃO E CONSUMO DE BENS E SERVIÇOS: A VIDA ECONÔMICA DA SOCIEDADE:
Podemos dizer que o ser humano com o seu trabalho produz bens e serviços. Ao viver em sociedade, as pessoas participam diretamente da produção, tendo como principais atividades econômicas a produção, a distribuição (circulação) e o consumo de bens e serviços. Assim, o conjunto de indivíduos que participa da vida econômica de uma nação é o conjunto de indivíduos que participa da produção, da distribuição e do consumo de bens e serviços.
Quando os operários estão trabalhando, eles estão ajudando a produzir; quando, com o salário que recebem, compram algo, estão participando da distribuição, pois estão comprando bens e serviços. E quando consomem os bens e serviços que adquirem, participam da atividade econômica de consumo de bens e serviços.
Considerando esses três elementos, é óbvio que para que haja distribuição e consumo de algum bem ou serviço é necessário que tenha havido anteriormente a produção desse bem ou serviço. Isso torna a produção a atividade econômica mais importante de um país.
Tomemos, por exemplo, o processo produtivo que ocorre em uma indústria de móveis: a árvore (matéria bruta) é derrubada; as toras de madeira (matéria-prima) vêm para a indústria de móveis. Aí chegando, sofrem a ação transformadora das máquinas e equipamentos e do trabalho dos operários, resultando desse processo um novo bem – uma cama, uma mesa, uma cadeira -, que será colocado à venda.
Produção é a transformação da natureza da qual resultam bens que vão satisfazer as necessidades dos indivíduos. Portanto, produzir uma nova combinação aos elementos da natureza.
TRANSFORMANDO MATÉRIA-PRIMA EM BENS:
Vejamos outro exemplo, que nos permitirá compreender de forma mais detalhada o processo produtivo. Ao trabalhar, a costureira transforma o corte de tecido de linho - que é obtido de matéria-prima vegetal – numa roupa: para isso ela utiliza linhas, botões, colchetes, etc. E também tesouras, agulhas e máquina de costura. Além disso, para poder trabalhar, ela gasta energia elétrica para a iluminação da casa e para o funcionamento da máquina de costura elétrica.
Como vemos, um dos elementos que intervêm no processo de produção é o trabalho.
Trabalho é a atividade realizada pela pessoa que, utilizando os instrumentos de produção, transforma a matéria-prima num bem.
ENERGIA FÍSICA E MENTAL: A FORÇA DE TRABALHO:
Continuando com o exemplo da costureira, ao trabalhar ela gasta energia física e mental. Essa energia gasta durante o processo de trabalho é chamada força de trabalho.
Da mesma forma, os operários em sua jornada de trabalho, professores e alunos em suas atividades escolares ou acadêmicas, médicos, cientistas, domésticos, artistas, todos empregam sua força de trabalho na realização de suas tarefas.
PROCESSO DE PRODUÇÃO: UM RESUMO:
Resumindo: o processo de produção é composto de três elementos principais associados:
Trabalho;
Matéria-prima;
Instrumentos de produção.
Vamos analisá-los melhor.
2. TRABALHO:
Toda atividade desenvolvida pelo ser humano – seja ela física ou mental – é considerada trabalho. Dele resultam bens e serviços. É trabalho tanto a atividade do operário de uma indústria como a do arquiteto que projeta os bens a serem produzidos por essa indústria.
Assim, tanto a atividade manual como a atividade intelectual são trabalho, desde que tenham como resultado a obtenção de bens e serviços.
MANUAL E INTELECTUAL: UMA COMBINAÇÃO
Deve-se considerar que toda atividade manual implica uma atividade mental. Algumas profissões exigem do trabalhador uma atividade intelectual maior (no exemplo anterior, o arquiteto) do que outras (o operário). Todo trabalho é sempre uma combinação desses dois tipos de atividade – manual e intelectual. O trabalho de um operário é mais manual que intelectual ou, em alguns casos, quase exclusivamente manual; ainda assim, exige um mínimo de esforço mental. O trabalho do arquiteto
é mais intelectual que manual – a concepção de uma forma no espaço -, mas, ainda assim, a sua atividade tem um aspecto manual, seja no manuseio de seus instrumentos de trabalho, seja na passagem da concepção do projeto para o papel.
Então, não existe trabalho exclusivamente manual ou trabalho exclusivamente intelectual, mas, sim, trabalho predominantemente manual ou predominantemente intelectual.
O trabalho executado por um desenhista industrial exige uma aprendizagem anterior, um certo nível de aprendizagem anterior: ele é capaz de executá-lo por imitação.
UMA CLASSIFICAÇÃO DO TRABALHO:
Quanto à execução, o trabalho pode ser classificado conforme o grau de capacidade exigido das pessoas que o exercem. Assim, temos:
Trabalho qualificado – não pode ser realizado sem um grau de aprendizagem: o trabalho de um torneiro mecânico, por exemplo, enquadra-se nessa categoria;
Trabalho não qualificado – pode ser realizado praticamente sem aprendizagem; por exemplo, o trabalho
de um servente de pedreiro.
O trabalho predominantemente intelectual é em geral qualificado.
É interessante notar que a essa classificação são atribuídos, conforme o grau de capacitação exigido pelas tarefas a cumprir. Analisando anúncios de emprego podemos avaliar as vantagens salariais de um torneiro ou de um instrumentista – cujas funções exigem um aprendizado prévio – em relação a um operário da construção civil não especializado, por exemplo.
MATÉRIA-PRIMA:
Os elementos que, no processo de produção, são transformados para constituírem o bem final são chamados de matéria-prima.
No exemplo da costureira, suas matérias-primas são o tecido, a linha, os botões, os colchetes.
Todos esses elementos passam a constituir a roupa, de uma maneira ou de outra. Já para as indústrias desses objetos, a matéria-prima está na natureza: o linho vegetal, o algodão, a seda, o plástico, o metal, etc.
Antes de se transformar em matérias-primas, os elementos encontravam-se na natureza sob a forma de recursos naturais.
RECURSOS NATURAIS:
Os seres humanos, visando obter os bens e serviços de que necessitam, utilizam-se de recursos como o solo (para a agricultura e a pecuária), as rochas (para a mineração) e os rios e quedas-d’água (para a navegação e a produção de energia elétrica).
Percebemos, porém, que as rochas – enquanto fontes de minérios – são recursos naturais para as Sociedades industrializadas, mas não o são para as sociedades que não praticam a mineração. Por outro lado, o que foi apenas elemento da natureza numa época pode converter-se em recurso natural em outra.
Por exemplo, antes da descoberta da energia da queda-d’água, estas eram simplesmente um elemento da natureza; depois se tornaram fonte de energia; primeiro nos moinhos, depois nas hidrelétricas e, portanto,
Um recurso natural, já que é incorporável à atividade econômica.
Dessa forma, o conceito de recursos naturais é relativo, isto é, ele varia no tempo e no espaço.
O que é recurso natural num processo de produção capitalista, acessível e incorporável à atividade econômica de uma nação, pode não sê-lo numa comunidade primitiva.
Assim, recursos naturais são os elementos acessíveis da natureza e que podem ser incorporados à atividade econômica do homem.
3. INSTRUMENTOS DE PRODUÇÃO
Todas as coisas que direta ou indiretamente nos permitem transformar a matéria-prima num bem são chamadas de instrumentos de produção.
Os instrumentos de produção que nos permitem transformar diretamente a matéria-prima são as ferramentas de trabalho, os equipamentos e as máquinas. No exemplo da costureira, esses instrumentos são a tesoura, a agulha e a máquina de costura.
Os instrumentos de produção que atuam de forma indireta – mas não menos necessária – são o local de trabalho, as condições físicas necessárias, como iluminação, ventilação, etc.
Assim, instrumento de produção é todo bem utilizado pelo ser humano na produção de outros bens e serviços.
Os seres humanos recorrem aos instrumentos de produção na sua atividade produtiva, pois dessa forma obtêm maior eficiência no seu trabalho.
MÁQUINAS E EQUIPAMENTOS: OS MEIOS DE PRODUÇÃO:
Como vimos, sem matéria-prima e sem instrumentos de produção não se pode produzir nada. Eles são os meios materiais para realizar qualquer tipo de trabalho. Por isso, são considerados meios de produção.
Portanto, são meios de produção todos os objetos materiais que intervêm no processo produtivo.
Retomemos o exemplo de uma indústria de móveis. Nela utilizam-se: trabalho (o esforço físico e intelectual dos trabalhadores); matéria-prima; máquinas e equipamentos (instrumentos de produção). A matéria-prima e os instrumentos de produção constituem os meios de produção.
4. TRABALHO E MEIO DE PRODUÇÃO: AS FORÇAS PRODUTIVAS:
Toda empresa combina em seu processo produtivo o trabalho e os meios de produção. Esses elementos encontram-se presentes tanto no trabalho realizado pela costureira como no trabalho realizado em uma grande indústria moderna.
Sem o trabalho humano nada pode ser produzido; e sem os meios de produção os seres humanos não podem trabalhar.
Ao conjunto dos meios de produção mais o trabalho humano, dá-se o nome de forças produtivas. Assim:
Forças Produtivas = meios de produção + seres humanos

As forças produtivas alteram-se ao longo da história. Assim, até meados do século XVIII, a produção era feira como o uso de instrumentos simples, acionados por força humana, por tração animal e pela energia proveniente da água ou do vento. Com a Revolução Industrial (século XVIII), foram inventadas as máquinas e passou-se a usar o vapor e a eletricidade como fontes de energia. Alteraram-se, portanto, os meios de produção e também as técnicas de trabalho. Houve uma profunda mudança nas forças produtivas.
No processo moderno de produção, a ciência e a tecnologia tornaram-se forças produtivas, deixando de ser mero suporte do capital para se converter em agentes de sua acumulação. Conseqüentemente, mudou o modo de inserção dos cientistas e técnicos na sociedade – tornaram-se agentes econômicos diretos. E a força capitalista encontra-se no monopólio dos conhecimentos e da informação.
5. RELAÇÕES DE PRODUÇÃO:
Para produzir os bens e serviços de que necessitam, os indivíduos estabelecem relações uns com os outros. No processo produtivo, as pessoas estão ligadas entre si e dependem umas das outras. O trabalho é um ato social, no sentido de que é realizado na sociedade.
As relações que se estabelecem entre os seres humanos na produção, na troca e na distribuição dos bens e serviços são chamadas relações de produção.
As relações de produção existem em todos os processos de produção e, de uma maneira especial, entre os proprietários dos meios de produção, de um lado, e os trabalhadores, de outro. São essas relações de produção que caracterizam o capitalismo.
No Brasil colonial, por exemplo, o trabalho era praticamente todo realizado por escravos. Os senhores eram donos dos meios de produção e também dos escravos. As relações de produção predominantes eram, portanto, relações escravistas. Hoje, praticamente todo o trabalho é realizado por trabalhadores assalariados.
Os meios de produção são propriedades de empresas particulares.
Portanto, pode-se afirmar que o elemento que determina a organização e o funcionamento da sociedade e que caracteriza cada um dos diferentes tipos de sociedades são as relações de produção. São essas relações que nos permitem distinguir um tipo de sociedade de outro.
6. MODOS DE PRODUÇÃO: a história da transformação da sociedade humana:
O modo de produção é a maneira pela qual a sociedade produz seus bens e serviços, como os utiliza e como os distribui. É chamado também de sistema econômico.
Assim, numa determinado época histórica, uma sociedade tem uma certa maneira de se organizar para produzir e para distribuir sua produção.
O modo de produção de uma sociedade é formado por suas forças produtivas e pelas relações existentes nessa sociedade. Assim:
Modo de produção = forças produtivas + relações de produção.
Portanto, o conceito de modo de produção resume claramente o fato de as relações de produção serem o centro organizador de todos os aspectos da sociedade.
Ao longo da História, a espécie humana tem produzido de vários modos aquilo de que necessita.
Por isso, pode-se afirmar que a história da humanidade é a história da transformação da sociedade humana pelos diversos modos de produção.
Como vimos, cada sociedade tem uma forma histórica de produção que lhe é própria; e sua história é a história do desenvolvimento do seu processo de produção.
Foi esse processo de desenvolvimento que ocasionou o aparecimento dos principais modos de produção. São eles: primitivo, escravista, asiático, feudal, capitalista e socialista.
Cada modo de produção pode ter existido em lugares e épocas diferentes. Por exemplo,
o modo de produção primitivo existiu nos primeiros tempos da humanidade e existe ainda hoje entre indígenas do Brasil e aborígines da Austrália. Da mesma forma, o modo de produção escravista predominou na Grécia e no Império Romano antes de Cristo, como também no Brasil, entre os séculos XVI e XIX.
PRINCIPAIS MODOS DE PRODUÇÃO:
Já relacionamos
os principais modos de produção; a seguir iremos estudá-los. Antes, leia o texto abaixo, sobre o modo de produção considerado interativo.

Informacionismo: a sociedade interativa
Após a onda milenária da era rural, após a onda bem mais breve do maquinismo industrial, mil novos sintomas anunciam o advento de uma terceira onda, de uma era pós-industrial capaz de exaltar a dimensão criativa das atividades humanas, privilegiando mais a cultura do que a estrutura.
A nova estrutura social está associada ao surgimento de um novo modo de desenvolvimento pós-industrialismo – o informacionismo ou sociedade interativa – moldado pela reestruturação do modo capitalista de produção do século XX. Houve substanciais mudanças de tecnologias mecânicas para as tecnologias de informação.
A teoria clássica do pós-industrialismo (também chamada economia de serviços) combina três afirmações e previsões que devem ser diferenciadas analiticamente:
Ø a fonte de produtividade e crescimento reside na geração do conhecimento, estendida a todas as esferas da atividade econômica mediante o processamento da informação;
Ø a atividade econômica mudaria de produção de bens para prestação de serviços. O fim do emprego rural seria seguido pelo declínio irreversível do emprego industrial em benefício do emprego de serviços que, em última análise, constituiria a maioria esmagadora das ofertas de emprega. Quanto mais avançada a economia, mais seu mercado de trabalho e sua produção seriam concentradas em serviços;
Ø a nova economia aumentaria a importância das profissões com grande conteúdo de informações e conhecimentos em suas atividades. As profissões administrativas, especializadas e técnicas cresceriam mais rápido que qualquer outra e constituiriam o cerne da nova estrutura social.
A sociedade informacional ou sociedade interativa, diferentemente da rural e da industrial que a antecederam, se caracteriza por delegar progressivamente o trabalho à eletrônica e por um relacionamento cada vez mais desequilibrado entre tempo livre, pendendo a favor deste último.
A aventura de busca de trabalho terá maiores possibilidades de ser bem-sucedida quanto mais o eventual trabalhador for capaz de oferecer serviços de tipo intelectual, científico, artístico, adequado às necessidades cada vez mais mutáveis e personalizadas dos consumidores. O futuro pertencerá àqueles que forem capazes de usar a head muito mais do que as hands, isto é, pertencerá a quem se ocupar de análise de sistemas, de pesquisa, de psicologia, de marketing, de relações públicas, de tratamentos de saúde, de educação, de viagens, de jornalismo e de formação.
Seja nos serviços, seja na indústria, a transição da produção padronizada para a personalizada comporta uma demanda maior por skilled people, as pessoas que produzem idéias são cada vez em maior número que as pessoas que produzem coisas. A informação e o conhecimento oferecem muito mais oportunidades a quem os detém.
(Adaptado de: Toffler, Alvin. A terceira onda, Rio de Janeiro, 1998).
MODO DE PRODUÇÃO PRIMITIVO
Inicialmente, os humanos viviam em tribos nômades e dependiam exclusivamente dos recursos da região em que a tribo se encontra. Sobreviviam graças à coleta e ao extrativismo: caçavam animais para se alimentar e para usar as peles como roupas, pescavam e colhiam frutos silvestres. Não dominavam a natureza. Passavam privações quando acontecia alguma alteração climática brusca e a caça, a pesca e os frutos silvestres rareavam.
Aos poucos a espécie humana começou a cultivar a terra, produzindo verduras, legumes, frutas e cereais; passou a criar alguns tipos de animais. Quando isso aconteceu, as pessoas deixaram de ser nômades e passaram a ser sedentárias, isto é, tiveram condições de se fixar num lugar.
Durante toda a sua História, o ser humano sempre transformou a natureza pra produzir bens que satisfizessem suas necessidades básicas e também que lhe proporcionassem uma vida mais confortável.
A comunidade primitiva foi a primeira forma de organização humana. Ela existiu em diversas partes da Terra há dezenas de milhares de anos. Ainda hoje, na África, na Austrália, na Nova Zelândia e na região da Amazônia, encontramos tribos com esse tipo de organização: alimentam-se de frutos e raízes, da pesca e da caça, e não praticam a agricultura nem o pastoreio.
O modo de produção primitivo designa uma formação econômica e social que abrange um período muito longo, desde o aparecimento da sociedade humana. A comunidade primitiva existiu durante centenas de milhares de anos, enquanto o período compreendido pelo escravismo, feudalismo e capitalismo mal ultrapassa cinco milênios.
Na comunidade primitiva os homens trabalhavam em conjunto. Os meios de produção e os frutos do trabalho eram propriedade coletiva, isto é, de todos. Não existia ainda a idéia de propriedade privada dos meios de produção, nem havia a oposição: proprietários X não-proprietários. As relações de produção eram relações de ajuda entre todos; eram baseadas na propriedade coletiva dos meios de produção, a terra em primeiro lugar.
Nas comunidades primitivas – onde tudo era de todos – não havia o Estado. Este só passou a existir quando alguns homens começaram a dominar os outros. O Estado surgiu como um instrumento de organização social e de dominação.
MODO DE PRODUÇÃO ESCRAVISTA:
É um modo de produção que predominou na antiguidade, mas que também existiu no Brasil durante a Colônia e o Império.
Na sociedade escravista os meios de produção (terras e instrumentos de produção) e os escravos eram propriedades do senhor. O escravo era considerado um instrumento, um objeto, como um animal ou uma ferramenta.
Assim, o modo de produção escravista, as relações de produção eram relações de domínio e de sujeição: senhores X escravos. Um pequeno número de senhores explorava a massa de escravos, que não tinha nenhum direito.
Os senhores eram proprietários da força de trabalho (os escravos), dos meios de produção (terras, gado, minas, instrumentos de produção) e do produto de trabalho.
Nesse modo de produção já existiu o Estado, pois grupos de indivíduos dominavam outros grupos. O Estado surgiu para garantir o interesse dos senhores.
MODO DE PRODUÇÃO ASIÁTICO:
O modo de produção asiático predominou no antigo Egito, na China, na Índia, entre os astecas do México e os incas do Peru, e também na África do século passado.
Tomando como exemplo o Egito antigo, no tempo dos faraós, vamos notar que a parte produtiva da sociedade era composta por escravos – que executavam trabalhos forçados – e por camponeses – que eram obrigados a entregar ao Estado o que produziam. As terras pertenciam ao Estado e portanto, ao faraó, já que ele encarnava o Estado. Os grupos privilegiados da sociedade eram os sacerdotes, os nobres, os funcionários e os guerreiros.
O excedente da produção possibilitava que o faraó destacasse um grande grupo de homens para construir as obras grandiosas (pirâmides, templos, canais de irrigação) e o grupo dos sacerdotes para preservar o saber sagrado.
Essa organização social permitia que a parcela maior do excedente da produção fosse consumida por esses segmentos improdutivos da sociedade, o que foi minando cada vez mais o modo de produção asiático.
Vários foram os fatores que determinaram o fim do modo de produção asiático:
Ø a propriedade da terra pelos nobres;
Ø o alto custo de manutenção dos setores improdutivos;
Ø a rebelião dos escravos.
No caso dos impérios inca e asteca, também contribuiu para o seu fim a conquista do território pelos espanhóis.
MODO DE PRODUÇÃO FEUDAL:
O modo de produção feudal predominou na Europa ocidental durante toda a Idade Média, permanecendo até o século XVI. No Japão, a sociedade feudal foi consolidada pelo xogunato (século XVIII).
A sociedade feudal estruturava-se basicamente em senhores X servos. As relações de produção no feudalismo (relações servis) baseavam-se na propriedade do senhor sobre a terra e em grande poder sobre o servo. Os servos não eram como os escravos: eles cultivavam um pedaço de terra cedido pelo senhor, sendo obrigados a pagar a ele impostos, rendas, e ainda a trabalhar as terras que o senhor conservava para si. O servo tinha o usufruto da terra, ou seja, uma parte do que a terra produzia era dele. Assim, trabalhava uma parte do tempo para si e outra para o senhor.
Outra diferença importante entre o servo e o escravo é que o senhor de escravos era dono do escravo, podendo vendê-lo, alugá-lo, etc. Com o senhor de servos isso não ocorria: o servo, enquanto pessoa, não era propriedade de seu senhor.
Os senhores feudais tinham o poder econômico (eram os proprietários das terras) e o poder político (faziam as leis do feudo e obrigavam os servos a cumpri-las).
Num determinado momento, as relações de produção feudais começaram a dificultar o desenvolvimento das forças produtivas. Ao mesmo tempo que a exploração dos servos no campo aumentava, o rendimento da agricultura era cada vez mais baixo. Na cidade, o crescimento da produtividade dos artesões era freado pelos regulamentos existentes, e o próprio crescimento das cidades era impedido pela ordem feudal.
As relações feudais de produção deixaram de responder às necessidades da época, pois o processo de desenvolvimento exigia novas relações de produção.
Dentro da própria sociedade feudal já começavam a aparecer as relações capitalistas de produção.
MODO DE PRODUÇÃO CAPITALISTA:
No final deste capítulo você encontra um texto complementar sobre a origem do capitalismo, leitura obrigatória para aprofundar seu estudo.
O modo de produção feudal começou a desmoronar a partir do século XI. Com a sua desagregação surgiu o capitalismo.
A desagregação do feudalismo e as origens do capitalismo tiveram como principais causas:
Ø o crescimento da população na Europa;
Ø o desenvolvimento das técnicas agrícolas de produção;
Ø o renascimento comercial e urbano.
O que caracteriza o modo de produção capitalista são as relações assalariadas de produção (trabalho assalariado). As relações de produção capitalista baseiam-se na propriedade privada dos meios de produção pela burguesia – que substituiu a propriedade feudal – e no trabalho assalariado – que substituiu o trabalho servil do feudalismo.
A burguesia possui as fábricas, os meios de transporte, as terras, os bancos, etc. o trabalhador não é obrigado a ficar sempre na mesma terra ou na mesma fábrica; ele é livre para se empregar na propriedade do capitalista que o aceitar para trabalhar. Os trabalhadores são obrigados a trabalhar para os proprietários dos meios de produção, que são donos do capital.
Como vemos, no capitalismo há duas classes principais: a burguesia e os trabalhadores assalariados.
O desenvolvimento da produção no capitalismo é movido pelo desejo de lucro. É para aumentar os seus lucros que os capitalistas procuram aumentar a produção, por meio dos aperfeiçoamentos técnicos, da exigência de maior produtividade dos operários, de uma maior racionalização do processo de produção.
Etapas do Capitalismo:
O capitalismo compreende quatro etapas:
Ø pré-capitalismo (séculos XII a XV) – o modo de produção feudal ainda predomina, mas já se desenvolvem relações capitalistas;
Ø capitalismo comercial (séculos XV a XVIII) – a maior parte do lucro concentra-se nas mãos dos comerciantes, que constituem a camada hegemônica da sociedade; o trabalho assalariado torna-se o mais comum;
Ø capitalismo industrial (séculos XVIII a XX) – com a Revolução Industrial, o capital passa a ser investido basicamente nas indústrias, que se tornam a atividade econômica mais importante; o trabalho assalariado firma-se definitivamente;
Ø capitalismo financeiro (século XX) – os bancos e outras instituições financeiras passam a controlar as demais atividades econômicas, por meio de financiamentos à agricultura, à indústria, à pecuária e ao comércio.
MODO DE PRODUÇÃO SOCIALISTA:
A base econômica do socialismo é a propriedade social dos meios de produção, isto é, os meios de produção são públicos ou coletivos, não existem empresas privadas. A finalidade da sociedade socialista é a satisfação completa das necessidades materiais e culturais da população: emprego, habitação, educação, saúde. Nela não há a separação entre proprietários do capital (patrões) e proprietários da força de trabalho (empregados). Isso não quer dizer que não continuem existindo diferenças sociais entre as pessoas, bem como salários desiguais em função de o trabalho ser manual ou intelectual.
A economia na sociedade socialista é planificada, visando atender às necessidades básicas da população e não ao lucro das empresas.
Para os teóricos do socialismo, o comunismo é a etapa posterior do socialismo. No comunismo, segundo eles, acabariam as diferenças sociais entre as pessoas porque todos teriam tudo em comum, e o Estado deixaria de existir.
No final da década de 1980 e começo da década de 19900, começaram a ocorrer profundas mudanças políticas e econômicas nos países socialistas europeus. Em quase todos caíram os governos do Partido Comunista e foram feitas reformas para tornar mais democrático o sistema político, com eleição direta para os principais cargos. Também a economia passou por profundas alterações, com a diminuição do controle do Estado e a reativação dos mecanismos de mercado. A propriedade privada tem sido restabelecida em alguns setores, sobretudo no comércio.
Apenas o desenvolvimento histórico permitirá definir que rumos as sociedades socialistas tomarão. É possível afirmar, porém, que o sistema burocrático, controlado rigidamente pelo Estado, que se apoiava num regime político com escassa participação popular, não subsistirá. Está sendo substituído por formas mais flexíveis de organização política e econômica, com pluripartidarismo e menor participação do Estado na economia.
As mudanças mais significativas nesse sentido ocorreram na Alemanha Oriental, que abandonou inteiramente o caminho do socialismo e se integrou à Alemanha Ocidental, capitalista, formando com ela um só país.
O modo de produção socialista, atualmente, ainda existe, co algumas alterações de caráter político e econômico, na china, Mongólia, Laos, Camboja, Guiné-Bissau, Angola, Moçambique, Vietnã e cuba.
Sem dúvida o fato mais surpreendente e marcante do final do século XX foi a desagregação do sistema socialista, principalmente nos países da Europa oriental: Polônia, Hungria, Romênia, Bulgária, Albânia, República Tcheca, Eslováquia, Iugoslávia, Eslovênia, Croácia, Macedônia, Bósnia-Herzegovina, Rússia e as demais catorze repúblicas que constituíam a antiga União Soviética. Essa desagregação expõe um erro de previsão na interpretação do processo histórico mundial que julgava uma conseqüência histórica o fortalecimento do Estado e a extensão do regime socialista para todas as regiões do globo.
O marxismo falhou em suas previsões. A capacidade de autotransformação, o movimento de vertiginoso progresso tecnológico, o atendimento amplo das necessidades do bem-estar da população que se registram nas formas assumidas pelo capitalismo no Primeiro Mundo deram mostras, entretanto, de que o desenvolvimento social não pode prescindir do sistema de economia de mercado (aspecto econômico) e das mais amplas liberdades políticas da democracia (aspecto político).
O fim do socialismo
O socialismo europeu passa por uma crise de identidade, gerada por problemas econômicos crônicos agravados pela dívida externa. Na era Brejnev, a URSS chegou a gastar 16% do PIB com a defesa militar. O Brasil gastava até 1989 pouco mais de 4% de seu PIB com a dívida externa e todos conhecem na pele as conseqüências. A questão de fundo reside na inadequação daquele projeto socialista ao conceito de democracia. A identificação entre Estado-governo-partido, herança stanilista, leva inevitavelmente à perda dos elos capazes de articular a socialização da economia com democracia política e pluralismo ideológico. A saída, porém, não se encontra na tão apregoada “liberdade” do Ocidente capitalista – de fato, liberdade de uns poucos terem cada vez mais propriedades, à custa de muitos impedidos de serem proprietários até mesmo de sua força de trabalho.
Por mais erros e equívocos que o socialismo real contenha, é preciso reconhecer que ele é portador de valores éticos jamais encontrados nas anteriores sociedades de economia de mercado. Todas as conquistas do capitalismo ficam sombreadas quando se constata que o progresso de todas as nações capitalistas do Primeiro Mundo resulta da exploração que elas exercem sobre os países emergentes. No entanto, o alto nível de desenvolvimento social dos países socialistas é fruto do trabalho de seus cidadãos. Nenhum deles explora povos estrangeiros. Nos países socialistas, crianças, idosos, trabalhadores estrangeiros e pessoas portadoras de deficiências físicas merecem do Estado a atenção adequada. Não são encontrados também sintomas coletivos de desagregação social, como favelas, drogas, prostituição, exploração de menores ou crime organizado.
Mas é preciso perguntar: em que medida os resultados obtidos pelo modelo de desenvolvimento capitalista não serviriam de parâmetros ao modelo socialista> O Brasil, vítima desse equívoco, defende a reserva de mercado na área da informática e abre mão de suas reservas cambiais para os banqueiros estrangeiros. Uma nação deveria ousar viver de seus próprios recursos, ainda que sem computadores e aviões, mas com dignidade e saúde. Ainda que um e outro país socialista ceda à ilusão capitalista, como hoje ocorre com os países do leste europeu, é inútil supor que o restrito grupo das sete potências capitalistas (EUA, Canadá, Inglaterra, França, Itália, Alemanha e Japão) tenha qualquer intenção de admitir novos sócios. Quem o tentar, terá o mesmo destino que o Brasil: país dependente e periférico do sistema capitalista. No capitalismo não se dá, se lucra.
Na busca de justiça e liberdade, a humanidade não tem outra alternativa fora do socialismo. A complexidade do sistema econômico (modo de produção) de ma nação não pode mais ser confiada a pessoas ou grupos privados. Na queixa de que os serviços públicos não funcionam perde-se a dimensão de que, de fato, funcionam exclusivamente a serviço de uma minoria que domina o Estado. Só uma sociedade que consiga combinar socialização dos meios de produção, ativa participação política dos cidadãos e diversidade ideológica sem ameaça aos interesses coletivos dará resposta à esperança de um futuro melhor para a humanidade.
Boff, Clodovis. Cartas Teológicas sobre o socialismo. Petrópolis, Vozes.


QUESTÕES PARA ESTUDO:
01. Relacione o nome de cinco empresas que produzem bens e cinco empresas que produzem serviços.
02. O que você entendeu por produção
03. Quais são as principais atividades econômicas humanas
04. Explique do ponto de vista sociológico o conceito de:
a. Trabalho;
b. Matéria-prima;
c. Recursos naturais.
05. Qual a diferença que existe entre as forças produtivas num país cuja principal atividade econômica seja a agricultura (o Paraguai, por exemplo) e num outro bastante industrializado (o Brasil, por exemplo)
06. Quais os modos de produção que existiram ao longo da história
07. Que diferenças existem entre o escravo e o servo
08. A classe deve dividir-se em grupos de trabalho; cada grupo deverá escolher um modo de produção e fazer uma pesquisa sobre ele. As conclusões devem ser apresentadas à classe.

Um comentário:

  1. Olá Joceny
    EStava preparando aulas de sociologia e encontrei o seu blog. Gostei muito e vou ficar atento a ele para usar seus textos em minhas aulas. parabéns pela organização e suas idéias
    Márcio - Petropolis/RJ - Professor de filosofia e sociologia

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