quinta-feira, 20 de agosto de 2009

(CRÔNICA) A AULA!

(CRÔNICA) A AULA!
Prof. Joceny Possas Cascaes joceny@terra.com.br

O professor chega à sala de aula. É o primeiro! Como que cumprindo um ritual, retira os livros, as apostilas, a ficha de chamada e a caneta de sua pasta e os coloca sobre a mesa. Observa o quadro negro, separa os gizes e repara a limpeza da sala. Nesse ínterim, bate o sinal avisando que é hora de os alunos se dirigirem para a sala. Sorriso no rosto, afinal há um compromisso e desapontar os alunos é o que ele menos deseja. Sala repleta - quarenta e dois alunos. Bom dia, diz ele no que em uníssono os pupilos respondem: bom dia.
Ordem do dia: chamada, registro da atividade, explicação do assunto e trabalho em grupos de três ou quatro. Um dos alunos, a pedido do professor, lê um texto do sociólogo alemão Max Weber: Religião e Ciência. Assunto polêmico. O professor pede, então, para que os alunos façam uma resenha ou um novo texto explicitando o assunto lido. Espanto geral! Alguns não entenderam, outros nem tentaram. Houve os que se entusiasmaram. Debate antecipado. Como assim? Visto o ocorrido, o professor resolve trocar idéias. Explica o texto e provoca os alunos com algumas perguntas.
A aula fica interessante. Surgem grandes idéias. É feita uma ponte entre o centenário assunto, visto que Weber faleceu em 1918, e os dias atuais. Quase todos participam. Contudo, João continua confuso e Mariana consegue captar, em parte, a essência do assunto. Isabel só observa. Isaias mantém a cabeça baixa. Quem sabe, o tema abordado deixa de lhe despertar interesse. A aula prossegue entre dúvidas, perguntas, respostas e inquietudes. O que Weber de fato propõe? É objetivo que as respostas surjam dos alunos.
Momento em que a criança começa a nascer. O quê? Maiêutica! Para Sócrates o professor é igual a um parteiro. Deve ajudar a tirar o conhecimento, a puxá-lo para fora. Não dar respostas, fazer perguntas, fazer nascer o interesse. Assim surgiu a maiêutica de Sócrates. Religião e Ciência na visão de um sociólogo, este era o tema daquela aula. Um contraponto com a idéia de Marx que dizia que o ‘capital’ surgiu da exploração do homem pelo homem. Nova visão! Para Weber, a reforma, iniciada por Lutero, foi um movimento importante para o desenvolvimento das ciências e de alguns países.
Considerações discorridas. Algumas respostas sanadas e novas dúvidas surgem. Um assunto nunca se esgota. E isso é muito bom... Nesse caso, não se teve o interesse de questionar a religião e nem a ciência, mas sim a idéia de um sociólogo. Os alunos estavam prontos para colocarem no papel as suas imaginações. Sentados em três em três ou em quatro em quatro. Começam a debater o assunto. Novos questionamentos! Final da segunda aula, o trabalho deve ser terminado na aula da próxima semana. Quietude e suspiros muitos. Alívio total. Todos guardam o material e o sinal bate novamente. Dirigem-se para outra sala, o professor permanece, pois receberá uma nova turma.
Entram! Bom dia, diz o professor! Em conjunto todos respondem: bom dia. O ritual permanece, é o mesmo da aula anterior. Só que nada se repete. Como assim? Uma coisa nunca é dita, entendida ou vista da mesma forma duas ou mais vezes. Principalmente quando é discutida com outras pessoas. O texto é apresentado e lido novamente. Tudo recomeça diferentemente. Alguns burburinhos durante a aula, normalidades. A aula termina e quatro alunos permanecem com o professor, querem saber mais. Ele lhes dá a devida atenção, fica feliz pelo interesse de seus pupilos.
Despede-se! Faz novos apontamentos em seu diário de classe. Pensa, de acordo com seu Plano de Curso, num provável tema para a próxima aula, precisa prepará-lo. Guarda o material, olha para o quadro negro e observa a limpeza da sala. Quase tudo em ordem. Nada é tão gratificante quanto procurar entender a si para poder respeitar a diversidade. Aula é um momento de inspiração, de dissabores, de alegrias, de discórdias e também de sintonia. Aulas são instantes de educação e de aprendizagens e essas ‘coisas’ não se trazem somente de casa, aprende-se durante uma vida inteira... Uma boa aula precisa ‘re-surgir’ cotidianamente e ter ‘motivos’!

Nenhum comentário:

Postar um comentário