domingo, 23 de agosto de 2009

(CRÔNICA) A CARTEIRA...

(CRÔNICA) A CARTEIRA....
Prof. Joceny Possas Cascaes.

O sujeito trazia no bolso da calça uma bolsa apequenada. Uma bolsa, de tamanho reduzido, que serve para guardar dinheiro e/ou documentos. Ih!!! De que tipo de coisa você está falando? Da carteira! Mas, era final da manhã de uma sexta-feira, o cara havia passado no banco. Sim, numa instituição bancária. Para fazer o quê? Dirigiu-se ao caixa eletrônico para retirar dinheiro. Quanta ‘grana’ sacou? Mil reais! Onde foi colocada? Guardei na carteira. Você tem certeza dessas informações? Sim!!! Tive que retirar esse dinheiro porque iria fazer uma viagem com a minha família. Após esse aparente sinistro tive que adiar os nossos planos.
Uma semana após o fato o cara conversava com um colega sobre o que havia acontecido naquele dia. Então, resolveram cancelar a viagem? Por questões adversas, fui obrigado a tomar essa decisão. Mas, conte-me o que aconteceu após a retirada do dinheiro e da saída do caixa eletrônico? Após ter colocado o dinheiro em minha carteira, resolvi colocá-la no bolso da jaqueta e rumei para o restaurante. Sozinho, sentei para almoçar. Antes, por conta do calor que fazia naquele momento, resolvi tirar minha jaqueta e pendurá-la no braço da cadeira. Terminei de almoçar e paguei o almoço com o tíquete de alimentação que trazia no bolso da calça e voltei para trabalhar.
Às dezessete horas, ainda em meu local de trabalho, começou a fazer um friozinho e... Momento em que, subitamente, o desespero tomou conta do meu corpo. Um pouco furioso, questionei: onde está a minha jaqueta? Em que local a havia deixado? Lembrei-me da ida e da saída do banco, ao meio-dia, e do caminhar até o restaurante. Restaurante!? Sim!!! Então, continuei com a minha retrospectiva. Voltei, imaginariamente, à cena do meu almoço. Lembrei-me que havia colocado a jaqueta no braço da cadeira que estava junto à mesa onde havia sentado.
Que atitude você tomou? Liguei, imediatamente, para o restaurante. A jaqueta ainda estava lá? Não pude saber! Por quê? Naquele restaurante só são servidos almoços. Após, às dezessete horas, está fechado. Você não fez mais nada? Sim! Sabia que o nome do restaurante era baiano, apelido que se referia ao dono. Então, tentei descobrir o verdadeiro nome do ‘Baiano’. Inquiri várias pessoas que estavam por perto e outras, por telefone. Ninguém sabia me dizer o nome do sujeito que era proprietário do restaurante. Um dos garçons era meu conhecido, mas procurei o nome dele na lista telefônica e não achei.
O caso continuava me irritando! Estava a ponto de dar um ‘piripaque’, um chilique. Fui para casa e contei o ocorrido a minha família. Minha esposa tentou me acalmar e fez um chá de ‘sei lá o quê’, que agora não consigo me lembrar. Minhas filhas acreditavam que isso era coisa de quem está começando a ficar velho. Será? Entre os jovens é normal esquecerem as coisas aqui e acolá e, por certa normalidade, não demonstrarem preocupação por isso ou, muitas vezes, requisitarem os pais para que encontrem aquilo que eles não sabem onde colocaram. Todavia, temos que dar um jeito, falou uma das filhas. Mas, o que fazer naquele momento? Primeiramente, acalmar-se ou pelo menos tentar. Teoricamente, a calma propicia uma visão melhor das coisas. Assim, foi o que tentei fazer.
Abri uma garrafa de um vinho que eu considerava especial. Era um vinho tinto seco de uma razoável qualidade que estava guardado há, mais ou menos, vinte anos. Vivia dizendo que abriria aquela garrafa numa ocasião especial. O momento ‘inusitado-singular’ havia chegado. Isso seria uma forma de tentar esquecer o que havia acontecido. Nos primeiros momentos, cada gole daquele vinho, por mim considerado raro, realimentava a esperança de encontrar a carteira. Contudo, após degustar a terceira taça, comecei a esquecer o infeliz acontecimento e comentei bradando: vamos deixar esse negócio de resgatar a carteira para amanhã. Os membros da minha família, aproveitando-se do que eu havia dito, resolveram não tocar mais no assunto.
Após, mais duas taças... adormeci ali mesmo no sofá da sala! Cobriram-me e passei a noite dormindo, entre sonhos e pesadelos, naquela peça de mobília na sala. Ao acordar, por volta das seis horas da manhã e com um pouco de dor de cabeça, para minha surpresa, percebi que a ‘in-feliz’ jaqueta tinha sido, durante toda a madrugada, a minha coberta. Agora não entendi mais nada, retruca o colega! E a carteira estava no bolso da jaqueta? Sim! E o dinheiro? Não! Então, roubaram o dinheiro e te devolveram só a carteira? A principio, sim! A carteira havia sido devolvida pelo garção, no final da tarde, e as minhas filhas resolveram ficar quietas. Acontece que elas e a minha esposa, com aquele dinheiro, decidiram contratar alguém para arrumar as goteiras do telhado da casa. Uma semana depois é que resolveram me contar o combinado. E a viagem? Ficará para o próximo ano. Cheguei à conclusão de que um passeio pode esperar, mas a nossa casa não pode cair. Reparos, quando necessários, necessitam de, especial, atenção... O que você acha?

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