segunda-feira, 24 de agosto de 2009

(CRÔNICA) OS ÓCULOS!

(CRÔNICA) OS ÓCULOS!
Prof. Joceny Possas Cascaes

De repente, repousei meus óculos sobre a mesa. Óculos? Havia colocado sobre a mesa – apenas - uma peça. Então, perguntei aos meus botões, por que usar o plural? Encontrava-me extasiado sobre o efeito simbólico dos óculos sobre a mesa. Uma pluralidade montada numa única armação. Duas lentes, dois instrumentos para melhorarem a visão. Cada lente é um óculo; se são duas... Defronte ao monitor de vídeo onde tentava ordenar as palavras - simplesmente emudeci. Continuei a fitar os óculos. Sem eles, as letras, a minha frente, tornavam-se embaralhadas. As idéias surgiam, mas faltava-me alguma coisa para que eu pudesse tirar aqueles óculos do lugar onde se encontravam.
De certa forma, retirar do lugar onde se encontrava, pois continuava, com certa deficiência, a ver uma peça só. Meu fiel e legítimo companheiro ou meus fiéis e legítimos companheiros. Alguns podem dizer que tanto faz, digo que faz diferença. Sendo um é único, sendo dois passa a ser múltiplo. Bom! Mas vamos ao que interessa. Continuei a frente dos vários aparelhos que fazem parte do conjunto das ‘novas tecnologias’. Minha intenção era escrever. Como de costume, o maior desafio de uma pessoa que trabalha com as palavras é ordenar seus escritos. Às vezes, saber sobre o que escrever... Nesse caso, o desafio se agigantou. Ao tirar os óculos, minha visão confundia-me. Mas acontece que o fato de tê-lo tirado é que havia me proporcionado algumas idéias.
Assim, veio-me à mente o assunto sobre o qual deveria debruçar-me. Na tentativa de tirar os óculos do lugar onde se encontravam, a imaginação fugia. O que fazer? Sem meus óculos, ficava impossível escrever. Em compensação, a cabeça fervilhava de imaginação. Meus óculos postados sobre um objeto de madeira. Pareciam descansar ou davam a impressão de quererem distância do seu dono. Mas, como? Sempre os tratei bem! A cada hora, tiro-os para limpar e, meio sem visão, observá-los. Esquisito, não!? Um par de óculos que deixava de ficar preso ao pavilhão da orelha e que tinham o objetivo de corrigir uma visão. Uma ou duas? Dúvidas novamente...
Pensemos!!! Se somos providos de dois olhos, então os óculos servem para corrigir as visões, que formam uma dupla. No meu caso, uma dupla distinta. Embora pareçam iguais, no que tange a capacidade de contemplação, forjaram-se diferentes. Os pontos de vista deixaram de ser os mesmos. A lente direita possui mais grau do que a esquerda. Então, os óculos deitados sobre a mesa possuem um óculo com mais grau do que o outro. Minha ‘visão-idéia’ parecia baralhar. Queria escrever e sem os meus óculos não conseguia, mas, se retirá-los de sobre a mesa... Ah! Que bom lembrar de algumas frutas doces, tipo as que são servidas após as refeições. Sobremesa!
Parecia que as letras ‘mal vistas’ estavam dentro de uma taça e prontas a serem saboreadas. Embora fosse um sabor acre, tinha que digeri-las. Isso feito, meu corpo alinhou-se, no sentido de ter aderido à causa. Que causa? Estava no momento determinando um acontecimento. Tinha uma ‘causa’ exposta em cima da mesa. Minha intenção era revelar os fatos observados. Uma realidade composta por duas lentes... Quem sou eu sem elas? Mal consigo enxergá-los (os óculos), enxergá-las (as lentes). Há uma névoa presente. Preciso assentar os meus óculos sobre o meu nariz. Momento em que minhas mãos se dirigiram ao ‘par-diferente’ de óculo.
Óculos assentados! Enfim, uma visão, de certa forma, confortável. Ih! As idéias onde foram parar? Os ‘psicólogos-analistas’ talvez diriam que estão na id. Id? Sim, a parte mais profunda da mente ou da psique. Se lá estiverem, como recuperá-las? Regressão!!! Devo retornar ao início do primeiro parágrafo: “De repente, repousei os meus óculos sobre a mesa. Óculos?” Havia percebido – de fato – a falta que eles me fazem. Acordei para uma nova realidade. O homem com seu poder inventivo. Soluções para os fazeres... Assim, pus fim ao(s) episódio(s) ocular(es). Mas, as idéias voltaram. Devo prosseguir! Vou tirar os meus óculos por uns instantes novamente. Pausa! Estou adentrando a mente... Necessito escrever! Onde deixei os meus óculos?

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