quarta-feira, 19 de agosto de 2009

(CRÔNICA) LOUCURA...

(CRÔNICA) LOUCURA!
Prof. Joceny Possas Cascaes.

Minha ‘loucura’ é minha ‘in-sensatez’, minhas discórdias, minhas dúvidas, meus ‘chiliques’, minha lucidez, minhas inquietações, meus limites, minha ignorância, meus ‘não-saberes’, minhas ‘in-compreensões’, minhas novidades, minhas recordações, minhas invejas, meu momento presente e meu futuro. Minha loucura é tudo e/ou nada. Tudo que me forja e nada que aparenta ser. Sinto-me um ‘louco’ inebriado por saber disso (pessoalidade). Concordo! De ‘louco’ todo mundo tem um pouco. Às vezes, bastante. Dependendo dos pontos e das vistas. Quem avalia, mesmo sem saber disso, pode ser mais louco do que o ser que ele pensa avaliar.
Isso é para rir? Quem sabe, seja para chorar. Li um dos textos de Rubem Alves (Teólogo, Filósofo e Psicanalista): ‘Quem é ‘louco’, afinal?’ Nesse texto ele fala de um convite feito a ele para fazer uma ‘preleção’ sobre saúde mental. Começa o texto citando alguns escritores que tiveram uma vida rica e excitante e que foram alimentos para a sua alma. Pessoas que se tornaram famosas e que – aparentemente – são brilhantes. Alguns se enveredaram para o mundo dos vícios, outros se suicidaram, há aqueles que se tornaram depressivos e assim por diante. Saúde mental!? Quer desproporcionalidade ‘sócio-vivencial’ maior do que esta?
‘Louco’, de certa forma, pode ser aquele que se extasia com a dor pessoal; que chora de felicidade mesmo estando triste; que envereda os caminhos; que aproveita a ‘liberdade-dependente’; que é coerente e que ‘re-descobre’, no dia-a-dia, as incoerências; que admite que o antagonismo seja a essência de muitos saberes, de muitas vivências; que sabe que não sabe. ‘Loucura’ é uma sensação passageira ou então, duradoura, quem sabe, ‘in-finita’; é um fato, algo hilário, um sonho, um pesadelo, uma piada. Uma piada? Sim! Vamos aproveitar a oportunidade para contar uma.
“No hospício, o ‘louco’ anda pelo pátio puxando uma escova de dente amarrada por uma cordinha. Passa um enfermeiro que ironiza: - Como vai o seu cachorrinho? – Que cachorrinho? Não está vendo que isso daqui é uma escova de dente? O enfermeiro se surpreende: - Ué, até que você não é tão louco assim - e se afasta para contar o caso ao diretor. Nesse ínterim, o louco fala para a escova: - Boa, totó! Enganamos ele direitinho!” Que ‘loucura-senil’. O psiquiatra foi enganado, ludibriado por um de seus pacientes. Por isso, talvez, a ‘loucura’ se faça presente nos vários momentos. É necessário ser ‘louco’ para suportar...
Aguentar o ‘tudo’ circundante: o ‘eu’; os outros; a falta ou o excesso de dinheiro; o leite derramado (os problemas); as desavenças; os desgastes ‘matrimonial-familiar’; os acontecimentos sociais; as teorias e as práticas ‘in-fundadas’; as perdas e as vitórias; as verdades e as mentiras... Desconheço alguém que deixe de ter alguma mania, algum vício, alguns ‘tiques’ nervosos, alguma raiz ‘sócio-cultural’ estranha à boa vivência. Tornamo-nos ‘loucos’ quando assumimos esse ‘eu’. Quando em frente ao espelho percebemos que somos o lobo do próprio homem e que somos os responsáveis pela situação caótica econômica, ‘inter relacional’ e ‘temporal’ pela qual passamos. Portanto, ser normal é, acima de tudo, admitir que, lá no fundo, temos bons motivos para deixar fluir – descentemente - nossa ‘debilidade’...
Se quem tem aparência de ‘sano’ é mais ‘insano’ do que mostra ser. O que fazer e o que pensar sobre esse assunto? Deve-se esconder a pessoal ‘loucura’? As respostas para esse tipo de inquietação são perigosas, debilitantes. Assumir-se pode ser um dos caminhos; outro, quem sabe, seja esconder-se atrás da aparente sanidade. ‘Loucura’ tende a ser um princípio inquietante e um final ‘imutável’ - igual aos das histórias de ‘era uma vez’ em que tudo acaba bem. No final, há o descanso eterno! ‘Sanidade’ é pensar que ser ‘louco’ não é um modo de viver, mas a única opção para quem quer que a vida lhe seja grata. Para isso só sendo louco, pois ‘normalidade’ completa é para os tolos. ‘Loucura’ é um estado de graça passageiro em que a felicidade administrada faz ‘perceber-entender’ o outro como uma extensão de nós mesmos... Penso que só sendo um ‘insano’, preocupado com a normalidade, para agir assim! (???)...

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