quinta-feira, 20 de agosto de 2009

NÔMADES OU SEDENTÁRIOS? Eis a questão...

NÔMADES OU SEDENTÁRIOS? Eis a questão...
Professor Joceny Possas Cascaes – Ibirama – SC


De acordo com De Masi (2000, p. 151) “No curso da História, nós fomos primeiro nômades e depois nos tornamos sedentários. Há um milhão e meio de anos, uma nossa antepassada, à qual foi dada o nome de Lucy, era nômade. É dela o primeiro esqueleto humano intacto encontrado: uma jovem de vinte anos que tinha aprendido a caminhar na posição ereta, mas que ainda dormia entre os ramos de uma árvore e mudava de árvore toda noite.”
Mas o que significa o termo nômade? O termo “nômade” provém de pasto, pastorear. Os pastores, assim como os caçadores, precisavam se deslocar continuamente para encontrar novos pastos e novas caças. Isso acontecia com as tribos primitivas que, constantemente, mudavam de lugar em busca de novas caças, rios para pescar, água ou ainda para fugir das intempéries e dos problemas ocasionados por outras manifestações de efeito climático.
Em contraparte, a sedentariedade, isto é, a habitação fixa, surgiu a, aproximadamente, cinqüenta mil anos numa zona pantanosa entre os rios Tigre e Eufrates. Neste lugar surgiram as primeiras cidades, Ur e Urik, que tiveram uma população de trinta mil habitantes. Deste momento em diante, os lugares destinados à sedentariedade, passaram a gozar de um progresso relevante. Com a chegada da industria isso se alastrou de forma galopante.
Estima-se que em 1800, Londres tinha 800 mil habitantes e, em 1910, já superava os sete milhões. No mesmo espaço de tempo, Nova York passou de 60 mil a quatro milhões e meio de habitantes. Hoje, São Paulo, Cairo, Buenos Aires e Cidade do México superam quinze milhões de habitantes. A partir do ano de 1999, mais da metade da população mundial passou a viver em cidades.
Porém, parece-nos que o antigo nômade que ainda vive dentro de nós viverá para sempre, e, quando a gente menos espera, a sua inquietude emocional desperta do sono para nos obrigar a sair pelo mundo. O viajante que representa, vende ou compra resgata o espírito nômade, já existente em seu interior. Os ciganos continuam nômades. Quando visitamos um parente ou um amigo praticamos o nomadismo. E quando saímos de férias com a família nada mais fazemos do que realçar essa prática. Atualmente, a Internet nos proporciona uma fantástica viagem virtual, resgatando, em grande parte, o nômade existente em nós.
A experiência de mudança estimula por sua vez a criatividade. Conta-se que desde a primeira infância, Mozart não fez outra coisa a não ser rodar pelo mundo, oferecendo concertos, visitando as cortes e aqueles que lhe encomendavam obras. Diz-se até que uma grande parte de sua ópera A Clemência de Tito tenha sido escrita dentro de uma carruagem. Cada viagem ajudava a enriquecer e refinar o seu espírito musical, fazendo dele um grande gênio.
Mudar de lugar estimula a criatividade, até mesmo quando os lugares visitados se parecem com aqueles com que estamos habituados a ver. Contudo, novas paisagens, novas pessoas e conseqüentemente novos diálogos, a observação de uma arquitetura diferente, o enfrentamento de problemas inerentes à viagem, etc., faz com que ampliemos nossos conhecimentos e nossa auto-estima.
Portanto, tornamo-nos sedentários, mas buscamos constantemente em nossa raiz histórica, o ser nômade que toma conta de nós, sem o qual seria impossível viver na atualidade. Destarte, precisamos ter prazer em estar envolvido com a família, com o trabalho, com os amigos, com as leituras e os estudos, com as viagens, etc. Cada pessoa deve se sentir seduzida por aquilo que faz. É preciso que nossas ações continuem proporcionando uma busca constante da felicidade, pois, quem quer que a busque já está, de alguma forma, no caminho da sabedoria. Se além de sedentários continuamos nômades é porque o ser humano – como qualquer animal – precisa de uma certa liberdade para se sentir feliz.

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