domingo, 23 de agosto de 2009

"UMBIGO"

“UMBIGO”: olhando para o ‘eu’...
Prof. Joceny Possas Cascaes

A palavra umbico (na Língua Portuguesa – vulgarmente – são usadas as variantes embigo e imbigo) vem da palavra umbilicus de origem latina, que é diminutivo de umbo, com o sentido de saliência arredondada em uma superfície. Escritos filosófico-históricos contam que, na mitologia grega, o centro do mundo localizava-se no templo de Apolo, numa ilha chamada Delfos. Neste templo havia uma escultura de mármore, de forma arredondada, que se chamava omphalós, termo grego que significa umbigo.
Neste local eram realizadas orações sob o efeito de vapores que se acreditavam virem do interior da Terra. Havia um sentido de que a mãe-Terra ligava pelo umbigo os filhos inseguros e numerosos que participavam de tais cerimônias. Dito de outra forma, o umbigo é uma cicatriz deixada pela queda do cordão umbilical que é responsável pela nutrição e sobrevivência do feto e do futuro bebê.
Mas, o que significa a expressão: “cuidar do próprio umbigo”? De certa maneira, tem sentido de pessoalidade, de preservação, de egocentrismo e de individualidade. Pode, também, ter relação de hereditariedade, de educação e de cuidado, em especial, consigo mesmo ou com os parentes, amigos ou pares. Tem, também, um significado de preservar (de proteger) para garantir a evolução da própria família. Pensando de forma ampla, ao analisar a resposta dada a pergunta formulada, pode-se dizer que essas atitudes se encaixam dentro dos padrões da normalidade.
De alguma forma, milênios se passaram e os homens continuam enclausurados em suas próprias cavernas. Casas, apartamentos, locais de trabalhos servem como abrigos – apenas – aos pares. Há – de alguma maneira – um continuísmo do que se fazia no tempo em que o homem morava nas cavernas. Por intermédio da concepção histórico-cultural de aprendizagem, talvez, se consiga entender melhor o que está se querendo dizer com essas colocações. As raízes histórico-culturais são determinantes à manutenção da vida e também pelo continuar, de alguma maneira, dos pensamentos criados ao longo da história.
Isso é de fundamental importância, mas mudar paradigmas e “re-construir” ou criar o novo se faz necessário para que se pense o mundo de maneira melhor e diferente. Porém, é comum as pessoas realizarem ações sociais sob o comando do interesse próprio. Esse interesse pode ser pessoal, profissional, familiar, político... Por exemplo, ajuda-se ao Corpo de Bombeiros, somente, porque ele pode ser útil a mim; à escola enquanto os filhos estudam lá. É regra geral, os pais de portadores de necessidades especiais serem mais ligados à APAE, do que outros pais.
No meio jovem, é normal, quando duas pessoas estranhas brigam corporalmente serem incentivadas pelos que estão ao redor. Um mendigo, um dependente químico, um favelado, um menor abandonado, quando são desconhecidos, deixam de ser notados e é raro alguém se habilitar para tentar contribuir com a inversão de tais realidades. É evidente que pode existir uma atitude de impotência ao se estar diante de tais fatos. Mas, os mesmos devem ser analisados à luz do conhecimento no sentido de que cada ‘ser-transeunte’ se torne um denunciador de tais acontecimentos e jamais esperar que seja tocado o próprio umbigo para se tomar algumas atitudes.
Dando outro exemplo, o pai e a mãe se sensibilizam, tornam-se ‘escudeiros-defensores’ de campanhas antiarmamentos, na maioria das vezes, quando perdem o filho por causa de uma bala perdida ou nas mãos de bandidos. Dizer que tais ações são erradas é incorrer num pensamento insensível e mal-argumentado. Porém, certas coisas devem ser realizadas porque não podem esperar. O melhoramento da vida no planeta é de responsabilidade de todos.
Em relação à mitologia grega, hoje se sabe que o centro do mundo pode estar em todos os lugares, menos no templo de Apolo, como pensavam os antigos. Sobre o ombro de cada cidadão recai a responsabilidade da manutenção da vida e da ‘re-construção’ humana. Cada ser deve cuidar – indiscutivelmente – do seu próprio umbigo. Porém, é de fundamental importância que as pessoas agucem a sensibilidade para perceberem que, ao estarem pensando somente no próprio umbigo, estarão fechando as portas da igualdade e, conseqüentemente, abrindo uma arbitrária janela que continua mostrando, como se fosse natural, que algumas pessoas devem ser melhores do que outras.

Nenhum comentário:

Postar um comentário