quinta-feira, 20 de agosto de 2009

(CRÔNICA) O SILÊNCIO.

O SILÊNCIO
Prof. Joceny Possas Cascaes

Encontro-me submetido ao completo silêncio. E isto é deveras interessante. Quanto mais adentro às profundezas do silêncio mais sensível torno-me ao barulho. Mas, segundo o dicionário, o silêncio está na ausência do barulho. Será? Se o barulho é uma interrupção do silêncio, em momentos silentes a balbúrdia estará em algum lugar e de alguma forma em ação, sempre, em completa confusão. Confusão pessoal – nem sempre geral. O silêncio pode ser o reverso do barulho, porque – simplesmente - certas ocasiões requerem silêncio reflexivo. Procura-se o sossego somente em situações em que o corpo necessita e quando se está alquebrado.
Porém, em instantes de reflexão e/ou de oração o silêncio é naturalmente encontrado, jamais procurado. Dessa forma, ele passa a ser requerido corporalmente. Nesses casos, mesmo havendo barulho, o silêncio passa a penetrar n’alma para, de forma natural, contagiar o corpo e a mente. Mas, sentados nas cadeiras da mesa de pesquisa, na biblioteca do campus universitário, comedidos, Pedro e Maria, a vista de uma placa que pede silêncio, cochicham:
Maria – Esta placa pendurada, que parece solicitar um completo silêncio, me incomoda.
Pedro – Parece um aviso.
Maria – Como assim?
Pedro – Sempre que entendo uma palavra ou frase que leio – segue um silêncio...
Maria – Parece-me confuso isso.
Pedro – É normal que os entendimentos surjam de um completo silêncio.
Maria – Aprendi que é preciso ouvir primeiro, depois deixar o silêncio habitar a alma para que após possamos deixar aflorar as idéias.
Neste momento, Pedro, reflexivo, parou e suspirou. Hum! Maria havia entrado na conversa, passara a entender o que Pedro dizia. Porém, ambos continuavam atônitos. Como uma simples placa informativa havia lhes propiciado tal colóquio? Então...!
Pedro – Esta placa contém muita informação.
Maria – Também acho. Cabe-me ressaltar: antes e após à semeadura é o silêncio que fala ao campo. E é pensando no dia da colheita que o agricultor vive e revive momentos em que o silêncio torce para que, enfim, o êxito seja a fartura.
Pedro – Sábias palavras. É no silêncio que está o segredo de tudo.
Maria – Não exagere, Pedro. Todo silêncio é passageiro.
Pedro – No sentido de temporário ou de pouca importância?
Maria – Temporário!!!
Pedro – O silêncio é oriundo da palavra que surge do anonimato e do desconhecido consciente. É do silêncio que surgem as idéias de quem fala com determinada concisão e relevante sabedoria.
Maria – Quem diria. Em lugar em que o silêncio deve ser mantido, falamos, talvez balbuciamos. Ao invés de ler, expomos idéias. Portanto, retomemos nossas leituras...
Um silêncio solene passa a tomar conta do ambiente deveras silencioso. Pedro e Maria mergulham profundamente nas letras, palavras e frases dos livros que por ora lêem. Hora ininterrupta. A conversação altercada acerca do silêncio frutesceu. Maria e Pedro haviam descoberto o silêncio. No silêncio das palavras que emanavam dos livros, que eram lidos, surgiam dúvidas. Momento em que Pedro e Maria se entreolham e...
Maria – Confesso – minhas palavras silenciaram-se.
Pedro – Por quê?
Maria – Continuo sem respostas.
Pedro – Mas, que respostas procuras?
Maria – A placa que fala sobre o silêncio. Este silêncio acordou-me. Explica-me isto?
Pedro – Ih! Vinte e duas horas de uma sexta-feira. Estão fechando a biblioteca e nem percebemos. Há uma danceteria a duas quadras daqui. Vamos até lá. Quem sabe, no barulho ensurdecedor possamos entender – ‘em fins’ - o que quer nos dizer a placa: Silêncio...

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